A ameaça totalitária
Mídia Sem Máscara
| 17 Setembro 2009
Artigos - Conservadorismo
As forças da Terceira Via estão usando a última carta na manga para superar a crise sistêmica: a construção do Governo Mundial. Claro, é uma falsa solução, na verdade, é o caminho do agravamento. E da destruição da liberdade. É um atalho para o totalitarismo em escala planetária. A "fuga para a frente" do delírio político mais maluco. O mundo está sob uma ameaça equivalente àquela que viveu sob Hitler e Stalin, só que a ameaça agora tem nomes mais populares, como Obama e Lula e os atuais governantes europeus.
"Nós assim o compreendíamos, porque assim o queríamos compreender".
Pero Vaz de Caminha
Tenho escrito reiteradamente sobre os perigos que vejo nos tempos presentes, no que tenho chamado de Estado Total. O Estado contemporâneo, não obstante sua aparência democrática, e talvez até mesmo por causa dela, da democracia no estilo proposto por Rousseau, está cada vez mais parecido com os Estados totalitários que floresceram na primeira metade do século XX e redundaram no nazismo e no comunismo. Veja você, caro leitor, que estamos falando de formas democráticas que descambaram para a supressão do regime de propriedade privada, das liberdades pessoais, do controle permanente da educação dos jovens, mediante a estatização dos cuidados com as crianças, desde tenra idade, a vigilância permanente sobre as pessoa. Aqui me refiro aos países da Europa Ocidental, os EUA e Brasil.
Não será casual que as teses racistas tenham ganhado terreno, assim como aquelas que enxergam os fenômenos pela lógica da luta de classe. As mesmas teses de outrora, os mesmo métodos?
Peguemos a questão da propriedade privada. Pelo menos 40% do PIB (exceto os EUA, que terão que enfrentar seus déficits proximamente mediante brutal elevação nos impostos) está sendo recolhido na forma de impostos; da mesma forma, a propriedade das grandes empresas, notadamente bancos nos últimos tempos, está passado ao controle direto do Estado; a emissão de moeda é monopólio estatal desde o final dos anos Trinta; devemos lembrar que parte considerável da força de trabalho é composta por funcionários públicos e por empregados de fornecedores do Estado (e por "tercerizados"), e que a Previdência Social é estatal, assim como a Assistência Social na maior parte dos países. Quem, de alguma forma, não se ligar economicamente ao Estado está condenado à miséria econômica e, se cair nesta, virará cliente automático do Estado. Se partir para a delinqüência cairá no sistema prisional e os prisioneiros são os mais perfeitos clientes do Estado na atualidade. Eu estou dizendo que a sociedade que está aí já é uma sociedade totalitária, se vista pelo lado da Economia.
Se olharmos pelo lado da representação política, também. A hegemonia das forças de esquerdas alcançou tal grau que a democracia é agora, na melhor das hipóteses, uma comédia de mau gosto. O que se chama de "direita" na Europa não passa de uma variação de uma facção política que não tem menor interesse em mexer nos interesses estabelecidos, isto é, no sistema sindical e de Previdência Social, a verdadeira fonte de poder e de legitimidade nesses países. Os eleitores, amealhados em torno dos trabalhadores sindicalizados e dos aposentados é que escolhem a elite governante. Nos EUA a crise trouxe à tona a mesma realidade política que se vê na Europa e por aqui. Mesmo os políticos nominalmente de "direita" só o são naqueles itens que não contrariam o sistema corporativo vigente. O caso da GM foi emblemático: a empresa, há anos controlada por sindicalista, é pagadora de vultosos salários e benefícios, não capazes de serem cobertos por sua atividade produtiva. Na hora de quebrar, o Tesouro lhe foi em socorro, precisamente para manter inalterados os privilégios imorais dessa elite sindical. E o respectivo curral eleitoral.
A questão dos fundos de pensão é séria. Têm aparência de coisa privada, mas na prática não passam de fundos gigantescos, controlados politicamente por sindicalistas, avalizados, em última instância, pelo poder de Estado. Nos EUA, na Europa e no Brasil. Em toda a parte. São à prova de quebra, tanto quanto os grandes bancos e as grandes corporações. Os elos que ligam ao Tesouro esses fundos ficaram agora bem visíveis. De novo, estamos diante de uma realidade político-econômica típica de Estado totalitário, em que uma elite de políticos e sindicalistas comanda a economia e as instituições, dentro de sua lógica de guilda.
A crise econômica fez soar o alarme dos perigos que aguardam a humanidade se o poder estabelecido for posto em xeque. No primeiro momento, valeram-se da emissão de moeda e da estatização para manter o status quo. Bem sabemos que o equilíbrio econômico não pode jamais ser obtido por essa via, pois seria admitir a abolição das leis econômicas, algo deveras estúpido. Então penso que os bailouts e os rescues apenas adiaram o enfrentamento que precisará ocorrer: como tornar sã uma sociedade que ficou gravemente doente? Como escapar à Segunda Realidade que foi criada pelo agigantamento do Estado, literalmente caindo no real? A falha na administração da superação da crise pelos métodos ditos keynesianos poderá colocar a atual elite dirigente diante da tentação totalitária. Será o esgotamento da Terceira Via e, com ela, a ameaça do totalitarismo. Ainda outra vez.
As forças da Terceira Via estão usando a última carta na manga para superar a crise sistêmica: a construção do Governo Mundial. Claro, é uma falsa solução, na verdade, é o caminho do agravamento. E da destruição da liberdade. É um atalho para o totalitarismo em escala planetária. A "fuga para a frente" do delírio político mais maluco. O mundo está sob uma ameaça equivalente àquela que viveu sob Hitler e Stalin, só que a ameaça agora tem nomes mais populares, como Obama e Lula e os atuais governantes europeus. Eu realmente estou preocupado com o futuro imediato, porque não enxergo nenhuma alternativa política a essa gente que está no poder.
Então é preciso ter uma resposta teórica adequada à ameaça totalitária que paira sobre o mundo, até para se poder construir um caminho alternativo ao totalitarismo. Um mundo são terá que resgatar os valores do liberalismo clássico, mas este só pôde vigorar plenamente enquanto a mentalidade vigente era a moral cristã. O que vimos ao longo do século XX foi a destruição paulatina dessa moral, de tal forma que só mesmo uma contra-revolução conservadora, em termos cristãos, terá força para enfrentar o poder de destruição que se aproxima.
Filósofos importantes debruçaram-se sobre o que houve na primeira metade do século XX, para entender a tempestade totalitária que assolou o mundo. Ortega y Gasset deu algumas respostas, na verdade foi uma espécie de profeta do Apocalipse ao publicar, em 1930, seu famoso livro A REBELIÃO DAS MASSAS. Nesta obra ele via que as massas estupidificadas estavam sem condutores, elas que tomaram os freios nos dentes e elegeram os piores para o governo (ou chegaram ao poder por golpe de Estado). O monstro estatal, detentor das modernas técnicas, foi colocado a serviço do apetite mais feroz das massas. O morticínio foi imenso.
Depois da guerra tivermos várias obras analisando o fenômeno. De um lado, o famoso livro de Karl Popper - A SOCIEDADE ABERTA E SEUS INIMIGOS - que atribuiu nada menos ao platonismo a responsabilidade pelos acontecidos. Essa vertente, embora largamente difundida, é claramente uma explicação ligeira e falsificada, que coloca Platão e mesmo Aristóteles como fundadores do historicismo. Sim, Popper acertou em ligar a tragédia ao historicismo, mas cometeu um erro colossal em enxergar suas raízes na filosofia clássica. A via política liberal, seguidora de Popper, bastou-se com essa explicação e baixou a guarda no campo político, de forma que, na segunda metade do século XX a chamada Terceira Via (ou o marxismo ocidental) pôde ocupar todos os espaços e refazer desde dentro a sua revolução, sem ameaçar diretamente a ordem do mercado e os poderes constituídos. O processo de estatização foi lento, gradual e seguro. Os liberais viram cada uma das suas fortalezas doutrinárias e institucionais serem tomadas pelos inimigos da civilização sem reagir, pois as aparências enganosas da estabilidade estavam mantidas, de forma deliberada, pelos inimigos.
A outra linha teórica de explicação da origem do totalitarismo vem da dupla de filósofos germânicos Voegelin e Strauss, fugidos do nazismo e estabelecidos nos EUA. Quero aqui sublinhar a obra deste último, DIREITO NATURAL E HISTÓRIA, que acabou de ser traduzida em Portugal por Miguel Morgado. Neste livro Strauss mostrou que o monstro totalitário nasceu de um outro grego, Epicuro, que é justamente o filósofo que moldou a modernidade e enterrou a tradição clássica. Não apenas o Direito, mas a filosofia política, foram tomados pelo epicurismo. Não casualmente Marx fará a sua tese de doutoramento sobre o pai do utilitarismo.
Para Strauss, Epicuro, o filósofo da "felicidade", é uma variante dos sofistas e ao analisar sua influência concluiu: "A aparência de justiça combinada com a injustiça efetiva conduziria ao auge da felicidade... Para ser rigoross, o auge da felicidade (para Epicuro) é a vida do tirano, do homem que conseguiu cometer o maior de todos os crimes ao subordinar a cidade como um todo ao seu bem particular, e que se pode dar ao luxo de abandonar a aparência de justiça ou de legalidade". Epicuro é o pai do totalitarismo e o avô de Maquiavel.
Strauss vai mostrar que a superação das loucuras da modernidade só poderá acontecer pelo resgate do Direito Natural, basicamente o resgate de Platão e Aristóteles. Fica mais do que evidente que o livro de Popper, apesar de sua retórica envolvente, é pura tolice filosófica. Popper provavelmente morreu sem se dar conta das besteiras que escreveu, levando legião de leitores a mal compreender os fatos e, ao assim fazer, objetivamente ajudando os inimigos da civilização a tomarem todos os espaços de poder. O primeiro passo para combater a ameaça totalitária é ter uma correta teoria sobre a realidade política.
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