Belo Monte: a elefanta que pariu um rato
Mídia Sem Máscara
Klauber Cristofen Pires | 23 Abril 2010
Artigos - Economia
No Brasil que se jacta de seu potencial hidrelétrico, vive-se, literalmente, no escuro. Acender uma lâmpada dói muito no bolso e ligar um mero aparelho de ar-condicionado de 7.500 BTU's pode representar um acréscimo aproximado de duzentos a trezentos reais na fatura mensal.
Ainda ontem um amigo meu me disse ter acessado o Google Earth e, tendo contemplado imagens noturnas dos diferentes países, confessara-me ter ficado pasmo com o brilho intenso de luz que exarava de países como os EUA, Japão e Europa, em contraste com a escuridão reinante na América do Sul, excetuada apenas por uns poucos pontos de concentração de luzes correspondentes aos maiores centros urbanos.
Então reflita leitor, por quê há tanta luz nestes países, tão visíveis a partir dos satélites? Eis a lógica do capitalismo, não uma lógica "fria", mas bastante "quente": luz para todos, muita luz, tanta quanta se queira pagar por ela. Simples assim: alguém que quer luz paga pelo seu fornecimento a quem se disponha a fornecê-la. E isto é tudo...
No Brasil que se jacta de seu potencial hidrelétrico, vive-se, literalmente, no escuro. Acender uma lâmpada dói muito no bolso e ligar um mero aparelho de ar-condicionado de 7.500 BTU's pode representar um acréscimo aproximado de duzentos a trezentos reais na fatura mensal. Neste país de desdentados que riem não sei do quê nas propagandas políticas, ainda se fala em tarifa social, enquanto os demais cidadãos pagam cerca de 42% de ICMS! Olha lá, não me venham os sabichões: as alíquotas são de 30% apenas nominalmente, pois são cobradas "por dentro", o que significa uma alíquota percentual real de mais de 42%! Façam as contas! E haja blecautes e apagões, a nos destruir os aparelhos, a nos deixar trancados nos elevadores e a queimar os fusíveis da nossa paciência.
Lendo os jornais, tomo conhecimento de que cerca de 15 ações judiciais ainda haverão de tramitar contra a construção da usina termelétrica de Belo Monte, denunciando o caos jurídico contumaz, que já não se entende, de tão complicado e contraditório.
Nenhum país tem como suportar tamanha remada a ré. Se, para inaugurar uma usina hidrelétrica - por importante que seja - consomem-se anos de custosas disputas por sucessivos laudos que se opõem; se é necessário pedir a anuência de cada cidadão, ou de cada índio que não usa luz nem paga impostos, ou de cada ONG cujos dirigentes vivem em outros países; se os futuros executores e o próprio empreendimento passarão a vida ameaçados por ações judiciais em cadeia; então o incentivo para a produção de energia elétrica no Brasil, evidentemente, constitui-se em um número negativo.
Com efeito, colocadas estas condições, quase que o leilão da usina de Belo Monte resta deserto, e a bem da verdade, somente deverá ser executado (e isto ainda é uma arriscada teoria), por se tratar de um investimento que, de fato, é antes estatal do que privado, já que mais de 80% dos recursos serão provenientes do BNDS, dinheiro este que, por sua vez, foi consignado em condições bastante divorciadas dos riscos e das garantias.
Em outras palavras, temos aqui um caso de gestação de uma elefanta para parir um rato. Por mais apreciável que venha a ser a produção de Belo Monte, nem de longe esta usina estará apta a atender a demanda do país pelas próximas décadas. Outra destas, todavia, só daqui a vinte ou trinta anos, pelo jeito...
Deixem-me fazer uma profecia: virão os escândalos pelo desvio da dinheirama, virão as CPI's e suas pizzas, a tal usina não sairá tão cedo (se é que um dia vai sair), o preço não vai pagar o custo, virão as ações judiciais do Movimento dos Atingidos por Barragens, serão utilizados materias condenados ou obsoletos, e enfim, os cidadãos pagarão ainda mais caro para ter um sistema elétrico mais perto do colapso do que já está. Torcendo contra? Eu? De jeito nenhum. Mas este filme já vi, e muito. Aguardemos pelo que virá.
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