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terça-feira, 13 de abril de 2010

Eike Batista - o Midas do Estado Forte

Mídia Sem Máscara

Incensado pela imprensa subserviente e baba-ovo, Eike Batista tem sua trajetória e atuação como empresário desmistificadas por Ipojuca Pontes.

Ao contrário do milionário Jay Gatsby, personagem lapidar da obra-prima de Scott Fitzgerald, "O Grande Gatsby" (Editora Record, Rio, 2003), a origem da fortuna de Eike (Fuhrken) Batista, o futuro "homem mais rico do mundo", nada tem de enigmática: ela advém dos proveitosos conhecimentos geólogicos do pai, Eliezer Batista - engenheiro, antigo ministro de Minas e Energia do governo Jango e venerado presidente (por duas décadas) da Cia. Vale do Rio Doce - e das boas graças dos governos, em especial do governo Lula da Silva, sempre omisso, para não dizer permissivo ("entreguista", em tempos outros) na defesa dos ativos e das reservas estratégicas da nação.

Pode parecer estranho, mas, de um modo geral, embora digam o contrário, os governos socialistas adoram tornar os ricos mais ricos (com eles de permeio, claro) - e os pobres mais pobres. A postura não é nova, ultrapassa décadas, talvez séculos. O próprio Lenin, à frente da sua "ditadura do proletariado", pagando juros estratosféricos, ajudou a ampliar as fortunas de banqueiros europeus e da indestrutível família Rockefeller (Ver "Wall Street and the Bolshevik Revolution" - Antony C. Sutton, Arlington House, NY, 1974). Por sua vez, na Alemanha nazi, Adolfo Hitler, outro socialista, expandiu em proporções inimagináveis a riqueza de Gustav Krupp, empresário da indústria siderúrgica voltado para fabricação de armas e material agrícola pesado.

No Brasil, já nos tempos da Velha República, os presidentes Rodrigues Alves e o respeitabilíssimo Epitácio Pessoa abriram os generosos cofres da Mãe Gentil ao aventureiro internacional Percival Farquhar, audacioso empresário das 1001 empresas. Em "O Último Titã" (Editora Cultura, São Paulo, 2006), seu biógrafo credenciado, Charles Gauld, descreve em detalhes como Farquhar - apoiado em projetos visionários e gordas propinas - arrancou concessões governamentais e amplos financiamentos para construir e explorar, entre outras tantas diabruras, a ferrovia Madeira-Mamoré (que redundou em ruínas para turista ver) e as jazidas de ferro de Itabira, Minas Gerais, que o Dr. Getúlio, nos anos 30, resolveu encampar - tornando a emenda pior do que o soneto.

Em meados do século passado, foram incontáveis as fortunas (algumas decadentes, hoje) que Juscelino Kubistchek plantou, enquanto presidente, no eixo Brasília-Rio-Minas. O próprio João Goulart, o fazendeiro Jango - que, segundo Carlos Lacerda, só fazendo política tornou-se dono de 200 mil cabeças de gado e proprietário de 550 mil hectares de terra, área 4 vezes superior ao antigo território da Guanabara - associou-se ao folclórico Tião Maia, o "Rei do Gado", parceiro ao qual, já no exílio, por razões pouco esclarecidas, desejava surrar de rebenque em mão.

No caso do milionário Eike Batista, como era previsível, a mídia cabocla não parou de incensá-lo desde que foi elevado pela "Forbes" à condição de "8º homem mais rico do mundo". Em torno dele, editorias e repórteres operam com a tenacidade de cães farejadores. De fato, a televisão ainda não o descobriu (ou ele sabiamente a recusa), mas é difícil abrir um jornal ou revista sem que lá não esteja o Midas de Governador Valadares (educado na Alemanha) reverberando os seus bilionários projetos, tecendo loas ao "Brasil em transformação" ou repudiando o "complexo de vira-lata" que acode o brasileiro (na certa, sem pagar royalties a Nelson Rodrigues).

Para o encanto dos jornalistas amestrados, o "futuro homem mais rico do mundo" debita a sua vertiginosa riqueza a fatores aparentemente prosaicos. Com efeito, no mundo tenso dos negócios, ele se impôs o ritual de acrescentar um "x" - símbolo da multiplicação - às siglas das empresas que possui. Só para exemplificar: o milionário acredita que ao acrescentar a letra "x" à mineradora MM, de sua propriedade, já está garantindo o bom êxito empresarial da MMX.

De temperamento místico, a logomarca do seu conglomerado de empresas carrega a imagem do Sol dos Incas, prenúncio de força. Na entrada de sua casa, segundo se diz, ramos de trigo, folhas de louro, paus de canela e cristais são colocados para espantar os maus fluídos. No escritório, ele senta olhando para a porta de entrada, afim de "aparar as energias de quem vem de fora".

Outro fator importante para explicar a expansão da fortuna avaliada hoje em U$ 27,5 bilhões é "a perseverança no trabalho": à noite, mal chega ao lar - uma bela e moderna mansão, por sinal - o crédulo Midas janta e se dirige ao aparelho de TV. Diante dele, sintoniza o canal Bloomberg, especializado em negócios, e registra até altas horas da madrugada o sobe e desce das cotações da Bolsa. Explica-se o esforço: boa parte da riqueza de Eike Batista é contabilizada por ações de suas empresas vendidas em ofertas públicas no mercado de capitais. Por isso, alguns analistas financeiros da praça costumam identificá-lo como um "esperto vendedor de sonhos" - o que talvez explique, nos últimos anos, sua permanente exposição na mídia.

Fatores fundamentais, como o conhecimento que o pai Eliezer (presidente honorário da EBX) detém das potencialidades geológicas e reservas minerais do país, são pouco lembradas nas entrevistas concedidas pelo Midas. Tampouco são mencionadas as facilidades com que libera, nos balcões oficiais, as concessões para exploração de minas e jazidas previamente identificadas. Nem muito menos explica a razão do jogo bruto de Luiz Inácio para que a Vale do Rio Doce, Jóia da Coroa, lhe fosse entregue num estalar de dedos - mesmo se levado em conta o investimento feito pelo empresário no filme "Lula, o Filho do Brasil", um projeto inteiramente fracassado.

No ramo do showbizz, aliás, o perdulário Eike Batista faz coisas de admirar. Solta milhões para filmes de Jabor, Cacá Diegues e o inefável Barreto - todos "de esquerda" - mesmo sabendo que dificilmente terá retorno econômico. Recentemente, durante a estadia de Madonna no Rio, o Midas, a título de colaboração, doou U$ 7 milhões à cantora pop, que no momento se diz empenhada em lançar "um olhar moderno" no ensino de crianças carentes do Rio e São Paulo - um "olhar" muito além do vislumbrado "nas cadeiras de moral e cívica dos anos 60". Agora pensem: que nova metodologia educacional poderia lançar uma figura do showbizz, cercada de sexo, droga e rock and roll por todos os lados, sobre as nossas já combalidas crianças?

(Por pura ironia, ano passado um jornal do Amapá havia denunciado que meninas famintas de nove e dez anos estavam sendo estupradas no Garimpo de Lourenço, no município de Calçoene, local onde Eike, nos anos oitenta, iniciou a sua trajetória de milionário. Depois de esgotar o Garimpo, arrancando dele toneladas de ouro, o Midas deu no pé - ao que tudo indica sem deixar uma só escola na miserável região).

Neste torvelinho de doações e negócios em cascata, não poderia faltar a onipresente Polícia Federal, que desencadeou contra o empresário a célebre operação "Toque de Midas". Sem dúvida, um troço imprevisto. Mas, conforme explicou o próprio Eike, a operação policial não foi desencadeada devido a sua rápida ascensão numa área competitiva associada à farta distribuição de dinheiro com candidatos e partidos políticos nas eleições de 2006 (com destaque para a doação de R$ 1 milhão para reeleição de Lula, e outro tanto para a campanha de Walder Góes, governador do Amapá, território onde obteve concessão para explorar uma estrada de ferro). Não, de modo algum. O alvo da operação "Toque de Midas", que "não deu em nada", foi a compra transversa pela EBX de uma mina de ouro que havia pertencido ao notório Daniel Dantas - este sim, caído em desgraça.

No entanto, ainda que abalado pela incursão policial, Eike Batista, especialista em levantar megaprojetos, logo se voltou para a construção de um gigantesco terminal portuário - o Porto de Açu, em São João da Barra - cujo objetivo, ambicioso, é transportar minério de ferro em larga escala para abastecer o império chinês.

Em paralelo, pois não brinca em serviço, o nosso Midas associou-se à Wisco, poderosa estatal chinesa que também não brinca em serviço. Com a anuência de Lula, a MMX investe pesado na exploração de imensas jazidas de ferro e na construção de uma siderúrgica anexa ao terminal de Açu, com o objetivo de confrontar a Vale do Rio Doce, a maior mineradora do Brasil (e do mundo). Tudo isto, no exato momento em que os preços do minério, em elevação, vêm sendo duramente questionados pelos chineses (e o mercado global) empenhados em sua redução.

É provável que Eike Batista seja o que aparenta ser, isto é: um sujeito empreendedor e perseverante, obstinado em se tornar o "homem mais rico do mundo". Gracias Señor! O problema todo é que o capitalismo praticado pela China é, de cabo a rabo, predatório. Para invadir o mundo com suas bugigangas ordinárias, produzidas (e pirateadas) em cima de mão de obra escravizada e de baixos salários, não respeita nenhum padrão civilizado de comércio. E como representa uma séria ameaça, embora disponha de linhas de crédito na ordem de U$ 800 bilhões para investimentos externos nos setores de minério, petróleo e alimentos, vem sendo repelida por vários governos, entre outros o australiano, nas suas pretensões de comprar ativos e jazidas de empresas locais. Negócios com a China, como disse um observador, nunca se tornam "um negócio da China".

E este é o problema do capitalismo de Estado (do qual Eike Batista é um agregado inconsciente ou conivente): seu objetivo é concentracionário, pois que pulveriza a liberdade de escolha e o livre arbítrio, essência do capitalismo real. Demonstrando bons sentimentos, o nosso Midas proclama-se nacionalista e diz que pretende "contribuir para tornar o Brasil um país de Primeiro Mundo". Mas, como? Associando-se aos predatórios chineses? Financiando partidos políticos socialistas que fizeram do Brasil um charco de brutalidade, miséria e corrupção? Financiando "artistas" comprometidos com a derrisão dos valores morais da civilização ocidental e cristã?

Não dá para acreditar.

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