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sexta-feira, 23 de abril de 2010

Hipocrisia brasileira

Mídia Sem Máscara

Enquanto a Colômbia só pretende combater o narcotráfico e o terrorismo, o Brasil anda em busca de uma inobjetável supremacia regional.

O governo do Brasil, com Lula à cabeça e seu ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, foi o que mais se opôs, ombro a ombro com o ditador Chávez, à extensão do tratado de cooperação militar entre a Colômbia e os Estados Unidos que eles insistem em denominar "bases militares gringas". Foi o governo brasileiro quem legitimou os reclamos irados do déspota venezuelano; foi o neo-imperialismo carioca quem se manifestou ofendido por permitir ao império gringo que instalasse "bases" no coração da América; foi o Brasil quem disse temer por sua soberania da selva amazônica, a qual eles mesmos estão devastando; e foi o governo do Brasil quem mais apoiou uma série de bobagens saídas de um documento "ultra-secreto" que Hugo Chávez baixou da Internet.

Sempre dissemos que as supostas "bases gringas" na Colômbia não representavam nenhum perigo para o continente e que não havia razão para gerar semelhante polêmica quando a base de Manta, no Equador, não ocasionou problemas nem desatou tantas controvérsias. Insistimos no fato de que o receio de Chávez não tinha razão de ser porque os Estados Unidos não solicitavam bases na Colômbia como plataformas para atacar e derrocar esse governo, pois os gringos têm acesso ilimitado a uma base aérea em Curaçau, a um passo da costa venezuelana, e um poderio militar exuberante que lhes permite, inclusive, desenvolver uma operação dessa natureza desde suas próprias bases na Flórida, ou empregando a Quarta Frota, que tardaria três dias para estacionar em frente às suas costas com um par de porta-aviões e mais de cem aviões de combate.

Quis-se assinalar que o acordo do Brasil é muito diferente ao da Colômbia e que por isso não despertou as mesmas controvérsias e desconfianças. Por exemplo, diz-se que o Brasil deu a conhecer os detalhes do acordo às nações sul-americanas, através da UNASUL, porém isto não é correto. Só três dias antes da assinatura do convênio, Ricardo Patiño, ministro de Relações Exteriores do Equador, país que ostenta a presidência da UNASUL, disse que o Brasil informará ao organismo "o mais breve possível" sobre o convênio militar que tramita com os Estados Unidos. Quer dizer, admitiu que o Brasil não informou nada.

Por sua parte, Brasília diz que seu tratado com os Estados Unidos também se diferencia do da Colômbia pelo fato de que não contempla a instalação de bases militares nem a presença de soldados gringos com imunidade em seu território. Na realidade, os gringos, na Colômbia, não vão ter nem operar uma base como a de Manta, senão que limitar-se-ão a gozar do acesso a sete bases colombianas nas quais, certamente, não operarão aviões de guerra senão vigilância eletrônica, tipo Awac.

Quanto às chamadas "tropas", é impossível que não cheguem ao Brasil técnicos, analistas e instrutores depois de assinar um acordo tão amplo, que inclui "cooperação na investigação e desenvolvimento de segurança e intercâmbio militar, bem como em projetos e programas tecnológicos e iniciativas comerciais" (El Tiempo, Editorial, 11.04.2010). Um acordo de tal magnitude que Brasília não duvidou em qualificá-lo como o "grande guarda-chuva" que contemplaria desde compra e venda de arsenais, até treinamentos militares conjuntos no Atlântico Sul.

Em referência ao anterior, a Colômbia tampouco tem nem terá "tropas gringas", entendendo-se estas como soldados armados em operações de combate, porém há e haverá sim, pessoal que presta assessoria em campos distintos. O acordo colombiano é muito mais limitado do que o que o Brasil assinou.

No fundo, a hipocrisia dos brasileiros favorece a Colômbia, uma vez que isto dá por acertada a discussão, tanto no exterior como no interior. Porém, não é uma boa notícia para o sub-continente dados os desvarios imperialistas do Brasil. Já no ano passado o Brasil havia assinado um ousado convênio militar com a França que inclui a compra de armamentos variados com transferência de tecnologia, incluindo submarinos de propulsão nuclear, por um montante de US$ 12.300 milhões. Na verdade, a diferença entre ambos os acordos radica em que, enquanto a Colômbia só pretende combater o narcotráfico e o terrorismo, o Brasil anda em busca de uma inobjetável supremacia regional. Assim, que ninguém estranhe se o Brasil passar de ser um bom vizinho a uma potência opressora, pois sua dupla moral é um mau augúrio.

Publicado no jornal El Mundo e em http://opinet.net

Tradução: Graça Salgueiro

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