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sexta-feira, 23 de abril de 2010

O teatro nuclear de Obama

Mídia Sem Máscara

Charles Krauthammer comenta as medidas estranhamente ingênuas e desastradas tomadas por Obama na cúpula mundial para segurança nuclear.

Algo singularmente desproporcional ocorreu com relação à recém-concluída conferência para a qual Obama convocou 46 líderes mundiais, a maior reunião desse tipo em solo americano desde 1945. O tema daquela reunião foi a criação da ONU, que, 65 anos atrás, parecia um evento de importância histórica mundial.

Mas e o desta? Sobre o que foi esta grande convocação? Para prevenir a transferência de material nuclear para terroristas. Um objetivo nobre, sem dúvida. Infelizmente, as duas maiores ameaças desse tipo não estavam na agenda.

A primeira é o Irã, que está freneticamente enriquecendo urânio para fazer uma bomba, e que o próprio Departamento de Estado americano classifica como o maior exportador de terrorismo do mundo.

Também não estava na agenda a produção de plutônio do Paquistão, que está contribuindo, dia após dia, para engordar o estoque mundial de material físsil.

O Paquistão é um país que é, até certo ponto, amigo dos EUA, mas é o mais instável de todos os países que possuem armas atômicas. O Paquistão está em luta contra uma insurreição de talibãs e abriga a Al Qaeda. Atentados suicidas ocorrem regularmente em suas principais cidades. Além disso, a lealdade de seu próprio serviço secreto, o ISI, é incerta, com alguns de seus membros tendo simpatia pelo Talibã e, por extensão, pela Al Qaeda.

Então qual foi a realização mais importante anunciada por Obama nos dois dias de conferência? Que a Ucrânia, o Chile, o México e o Canadá vão se livrar de quantidades diversas de urânio enriquecido.

Que alívio. Não sei se costuma acontecer o mesmo com você, mas eu passo noites acordado preocupado com o urânio canadense. Eu conheço essa gente. Eu cresci lá. Se eles tivessem perdido o jogo de hockey nas Olimpíadas de inverno, não sei o que poderia ter acontecido.

Vamos supor que o confisco de material nuclear seja algo bom. Ainda assim, não passa de um pequeno detalhe, principalmente quando não se discute o programa nuclear iraniano e o Paquistão produz quantidades de plutônio equivalentes às de urânio que os canadenses enviam para os EUA.

Talvez após ter chegado à conclusão de que a remoção de pequenas quantidades de material físsil de países amigos e estáveis não vai resolver muita coisa, Obama anunciou orgulhosamente que os EUA e a Rússia estavam se desfazendo de 68 toneladas de plutônio. Não foi mencionado o fato de que isso havia sido acordado 10 anos atrás e, de acordo com o novo protocolo, não se começará a eliminar o plutônio até 2018. Sentindo-se seguro agora?

O foro mais adequado para esse tipo de acordo seria uma reunião de especialistas em Genebra, que, depois de acertar os detalhes, encaminhariam o documento para a assinatura dos respectivos chanceleres. Isso fez do desfile de líderes mundiais em Washington um exercício de desorientação - desviando a atenção da crescente ameaça que é o Irã, a respeito da qual o irremediavelmente ingênuo engajamento de 15 meses não obteve nada exceto a perda de 15 meses.

De fato, a reunião de Washington era parte de um jogo mais amplo de desorientação - a "primavera nuclear" de Obama. Semana passada, um tratado tipo START, reminescente precisamente do tipo de velharia da Guerra Fria contra a qual Obama rotineiramente vitupera. O número de ogivas no envelhecido e decadente estoque da Rússia é irrelevante agora que a luta de vida ou morte entre os EUA e a Rússia terminou (1). Uma conquista importante do tratado, do ponto de vista do presidente russo Dmitry Medvedev, é que ele pode congelar a alocação das defesas anti-mísseis dos EUA - dessa forma impedindo o maior avanço anti-nuclear do nosso tempo.

A isto seguiu-se um abrandamento da postura de dissuasão nuclear dos EUA (guarantindo a Estados não-nucleares que eles não sofrerão retaliação nuclear americana se eles lançarem um ataque bioquímico contra os Estados Unidos) - uma mudança tão bizarra e literalmente inacreditável que até mesmo a Hillary Clinton não conseguiu explicar direito que tipo de ameaça retaliatória permanece na mesa.

Tudo isso em uma semana na qual oficiais do alto escalão das Forças Armadas americanas disseram ao Congresso que o Irã está há cerca de um ano de distância de adquirir material físsil para fazer a bomba. A partir daí, são apenas alguns anos até sua fabricação.

Nesse ponto o mundo mudará irrevogavelmente: os Estados árabes da região seguirão o mesmo caminho, o Tratado de Não-Proliferação Nuclear morrerá, a ameaça de transferência de armas nucleares para grupos terroristas crescerá astronomicamente.

Em tempo: a Síria acaba de ser pega transferindo mísseis Scud letais para o Hesbollah, a força terrorista não-nacional mais poderosa do Oriente Médio. Esta é a mesma Síria que estava construindo secretamente um reator nuclear elaborado pela Coréia do Norte até que a força aérea israelense destruiu a instalação três anos atrás.

Mas não se preocupe. O urânio do Canadá está em segurança. E chegou-se a um acordo quanto a um "Plano de Trabalho".

Ah sim. E haverá outra reunião em dois anos. O sonho continua.

Nota do Editor:

(1) Essa opinião de Krauthammer é sabidamente equivocada, levando-se em conta o modus operandi da elite russa, que permanece exatamente o mesmo. Ver os artigos e entrevistas de Jeffrey Nyquist.

Tradução: Felipe Miguel

Artigo original: http://townhall.com/columnists/CharlesKrauthammer/2010/04/16/obamas_nuclear_posturing,_part_deux

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