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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Mensagem natalina desde o cárcere

Mídia Sem Máscara

Alejandro Peña Esclusa | 16 Dezembro 2010
Internacional - América Latina


Queridos compatriotas:

Ao se completar cinco meses de meu injusto encarceramento e ante a proximidade do Natal, queria delinear-lhes o seguinte:

O modelo castro-comunista que enfrentamos não é só um projeto político, senão uma cosmovisão do homem, da história e do universo. Trata-se de uma concepção materialista que se proclama acima de Deus e de Seus mandamentos, para impor arbitrariamente sua vontade.

Não se pode derrotar um modelo como este unicamente com receitas políticas, mas recorrendo a outra cosmovisão, de caráter transcendente e com um alto conteúdo espiritual. Usarei três exemplos para me explicar melhor:

Quando Hugo Chávez anuncia em cadeia nacional a expropriação de uma empresa ou de uma fazenda, não o faz somente para cumprir com os postulados do socialismo, mas porque parece sentir prazer causando dor aos legítimos donos.

Quando o oficialismo persegue com crueldade seus adversários, não o faz somente para neutralizar a oposição mas por que lhe agrada fazer suas vítimas sofrerem e, ao fazê-lo, infundir medo no resto da sociedade.

Quando o regime presenteia seus aliados estrangeiros com nossos recursos, não o faz só para comprar consciências, senão porque carece de sensibilidade humana, e pouco lhe importa que milhões de venezuelanos se vejam prejudicados, contanto que exporte seu modelo.

Em resumo, trata-se de um regime que não só pratica o mal consciente e deliberadamente, mas que goza fazendo-o.
Além disso, mente para justificar suas más ações, e é do conhecimento de todos que diz mentiras. Poder-se-ia dizer que trata-se de um projeto com "tendências satânicas" porque preenche estas condições: nega a existência de Deus, viola deliberadamente Seus mandamentos, carece de sensibilidade humana, desfruta fazendo o mal, e recorre à mentira.

Este projeto foi capaz de avançar porque encontrou um ambiente propício na Venezuela. Quarenta anos de bonança petroleira e de uma cultura baseada no materialismo e no consumismo, abriram uma enorme brecha no "escudo moral" de nossa sociedade.

Como conseqüência, o regime conseguiu infundir o medo para que as pessoas não se atrevam a lutar por seus direitos e, além disso, romper os vínculos de solidariedade para que cada um cuide de sobreviver por seu lado, sem se ocupar dos demais.

Em meio a estas circunstâncias, o cidadão comum carece das ferramentas adequadas para se defender, enquanto que a liderança política diminui porque pretende derrotar um projeto totalitário e perverso com as mesmas regras que regem uma democracia.

Surge a pergunta: o que fazer para sair deste grande aperto? Há cinco anos o Cardeal Castillo Lara explicou aos venezuelanos as características totalitárias do regime e delineou a solução.

Em 14 de janeiro de 2006, por motivo da Feira da Divina Pastora, Castillo Lara pronunciou uma homilia onde disse: "Encontramo-nos em uma situação de extrema gravidade como muito poucas em nossa história... todos os poderes estão praticamente nas mãos de uma pessoa só, que os exerce arbitrária e despoticamente, não para procurar o bem maior da nação mas para um torcido e anacrônico projeto político".

Em seguida, o Cardeal fez um acertado diagnóstico do por quê chegamos a esta difícil situação:"Nosso Senhor Jesus Cristo quis, talvez, nos dar uma dura lição por nossas infidelidades, por não ter sabido aproveitar os dons que Ele nos deu... e por não haver ajudado devidamente os mais necessitados e não ter vivido limpamente nossa fé cristã".
Finalmente, Castillo Lara estabeleceu qual seria a solução: "Nesta ocasião solene desejo propor-lhes que todo juntos peçamos fervorosamente à Divina Providência que salve a Venezuela".

Pedir a Deus e à Virgem que salvem a Venezuela não significa somente orar e esperar passivamente que ocorra um milagre, mas passar por um processo de conversão, e solicitar os dons e virtudes necessários para enfrentar um projeto "torcido" como o que nos governa.

Conversão significa meditar sobre nossos erros passados, propor-se a emendá-los e se dispor a fazer o bem. Significa reconciliar-se com Deus para que Ele transforme nossos "corações de pedra" em "corações de carne", a fim de que sejamos capazes de amar em plenitude e de nos sacrificarmos pelo bem comum.

Entre os dons e virtudes que Deus proporciona ao homem estão o amor à verdade, a solidariedade e generosidade para com o próximo, a valentia para vencer o medo, a fortaleza para suportar situações difíceis, e a sabedoria para saber como atuar.

Desde há vários anos tornou-se-me evidente que Chávez ordenaria meu encarceramento. Quando decidi por minha própria vontade vir à prisão, o fiz pondo minha confiança em Deus e no povo venezuelano. Quis fazê-lo para ensinar a meus compatriotas que não devemos cair na chantagem do medo, para mostrar-lhes que o calabouço não é a pior opção, porque infinitamente pior é vier humilhado e atemorizado.

Pensei que se podia permanecer no cárcere mantendo intactos meu otimismo e alegria, os venezuelanos se contagiariam com esta força irresistível que vibra dentro de mim, e desta forma os ajudaria a perder o medo. Claro que a força que me acompanha não é própria, senão produto da fé e fruto da oração.

Entretanto, meu sacrifício não se compara com o do Cardeal Castillo Lara. Consta-me que durante aquela memorável homilia Sua Eminência decidiu se oferecer como vítima propiciatória, com a finalidade de pedir a Deus pela libertação da Venezuela. Com efeito, meses mais tarde Castillo Lara morreu, convencido de que seu sacrifício seria um benefício para nossa pátria.

O testemunho de Castillo Lara marcou minha vida e espero que inspire o mesmo sentimento em milhares de outros venezuelanos.

Este tipo de testemunho sublime de amor é o que salva as nações e as sociedades. O mais claro exemplo é a crucifixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, cuja entrega generosa causou tanto bem à humanidade. Jesus Cristo nos ensinou que o mal não se combate com outro mal, senão com o enorme poder do bem.

Em resumo, os venezuelanos devemos nos voltar para Deus, porém não só porque fazendo-o teremos a força e a sabedoria para derrotar o totalitarismo, mas porque viver junto a Deus é o último fim do ser humano e a fonte da verdadeira felicidade.

Queridos compatriotas venezuelanos: ao se aproximar o Natal, queria lhes propor uma reflexão profunda sobre o amor de Deus pelo homem ao Se encarnar no Menino Jesus, para viver junto conosco e para nos ensinar o caminho da caridade e da felicidade.

Aproveitemos estas festas natalinas para experimentar um sincero processo de conversão, para incrementar nosso amor pela pátria, e para fortalecer os vínculos familiares. Se regressamos a Deus, todos os demais problemas se resolverão por acréscimo.

Vivam este Natal em plenitude! Ponham confiança em Deus! Não tenham medo pelo futuro! Lembrem a promessa de Cristo! O Mal não prevalecerá!

Querido compatriotas venezuelanos: despeço-me desde meu "irmão cárcere" desejando-lhes um muito Feliz Natal e um Ano Novo cheio de alegria, liberdade e prosperidade.



Alejandro Peña Esclusa
- Preso político
Presidente de Fuerza Solidaria e UnoAmérica
Tradução: Graça Salgueiro

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