Cristãos contra Israel?

Mídia Sem Máscara

Elwood McQuaid | 12 Março 2011
Artigos - Religião

Existe uma quantidade estarrecedora de animosidade teológica com relação a Israel, e os cristãos que apóiam o direito de existência de um Estado judeu na terra que Deus lhe deu são tratados como os inimigos número um do povo palestino.

Em uma demonstração espantosa de auto-engano e de retórica teológica anti-Israel, um grupo de líderes eclesiásticos cristãos palestinos acusou abertamente o Estado judeu como o principal obstáculo à paz no Oriente Médio. Em uma declaração denominada "Documento Palestino Kairós"*, uma mensagem de "fé, esperança e amor", Israel foi taxado de causador de todo o sofrimento significativo e de toda a privação sofrida pelos palestinos. Os mensageiros incluem líderes das igrejas Católica, Ortodoxa Grega, Luterana, Anglicana e Batista.[1]

"Nós, um grupo de palestinos cristãos, depois de orarmos, refletirmos e trocarmos opiniões, clamamos por causa dos sofrimentos de nosso país, debaixo da ocupação israelense, com um clamor de esperança na ausência de toda esperança, um clamor cheio de oração e fé em um Deus sempre vigilante, pela providência divina para todos os habitantes desta terra. (...) Hoje chegamos a um beco sem saída na tragédia do povo palestino".

O caráter e o tom da mensagem de "fé, esperança e amor" pode ser visto em uma referência que lamenta o simples direito de Israel existir:

"Um dos mais importantes sinais de esperança é a firmeza das gerações [palestinas], a crença na justiça de sua causa e a continuidade da memória, que não se esquece da "Nakba" (catástrofe) e de seu significado".

A "Nakba' é o renascimento nacional de Israel, que é oficialmente lamentado todos os anos pelos inimigos islâmicos, palestinos e muçulmanos do povo judeu.

Ocupação é a palavra da moda brotando por todo o documento, por exemplo: "As raízes do "terrorismo' estão na injustiça humana cometida e na perversidade da ocupação". As injustiças humanas que Israel supostamente cometeu são comparadas ao apartheid que existiu na África do Sul e diz-se que elas merecem a mesma resistência. Portanto, a comunidade internacional - inclusive instituições religiosas, indivíduos, empresas e Estados - deveriam "tomar parte em um desinvestimento e em um boicote econômico e comercial a qualquer coisa produzida pela ocupação". Em suma, Israel deveria ser estrangulado economicamente para ser forçado a se render a seus inimigos.

O documento alega:

• O muro de separação construído para impedir que homens-bomba palestinos entrassem em cidades israelenses é indesculpável. A "guerra cruel que Israel deflagrou contra [Gaza] durante dezembro de 2008 e janeiro de 2009" supostamente forçou as pessoas de lá "a viverem em condições desumanas, sob permanente bloqueio e separadas de outros territórios palestinos". Os assentamentos judaicos na Judéia e em Samaria (Margem Ocidental), vistos como confiscações ilegais de propriedades palestinas, também são criticados severamente.
• O terrorismo contra civis judeus inocentes é apresentado como mera resistência legítima: "A injustiça contra o povo palestino, que é a ocupação israelense, é uma maldade e um pecado que deve ser removido e ao qual se deve resistir. A responsabilidade principal para isso está nas mãos dos próprios palestinos". O documento também diz: "Sim, existe resistência palestina à ocupação. Entretanto, se não houvesse ocupação, não haveria resistência, nem medo, nem insegurança".
• Israel deveria libertar os palestinos encarcerados por terrorismo: "E os prisioneiros? Os milhares de prisioneiros definhando em prisões israelenses são parte de nossa realidade. Os israelenses movem céus e terra para ganharem a soltura de um prisioneiro [judeu]; e aqueles milhares de prisioneiros palestinos, quando eles terão sua liberdade?"
• Israel é responsável pelo problema abismal dos refugiados palestinos: "Os refugiados também são parte de nossa realidade. A maioria deles ainda está vivendo em campos, em circunstâncias difíceis. Geração após geração, eles têm aguardado por seu direito de retornar. Qual será o destino deles?"
• A emigração de cristãos das áreas palestinas também é jogada nas costas da "ocupação": "A ausência de qualquer visão ou mesmo de uma centelha de esperança de paz e liberdade empurra os jovens, tanto muçulmanos quanto cristãos, a emigrarem. Desta forma, a terra fica desprovida de seus mais importantes e mais ricos recursos - os jovens com educação formal".
• Israel, além disso tudo, é também acusado de usar "o medo e a segurança" como pretexto para agressão: "Nós conclamamos Israel a desistir de sua injustiça em relação a nós, e a não torcer a verdade da realidade da ocupação, fingindo que é uma guerra contra o terrorismo. As raízes do "terrorismo' estão na injustiça humana cometida e na perversidade da ocupação. Estas devem ser removidas se houver uma intenção sincera de acabar com o "terrorismo"."

O Jogo da Culpa

Especialmente digno de nota é que as posições expressas nesse documento parecem ser quase que inteiramente as mesmas que as dos militantes islamitas. A implicação mais ampla é que os israelenses devem se tornar virtualmente pacifistas e, em nome "da fé, da esperança e do amor", renunciar a sua busca por segurança sem nenhuma sombra de dúvida de que as forças determinadas a destruí-los continuarão dando as cartas. O fato irrefutável é que os radicais islâmicos não agem apenas entre os linhas-duras palestinos, mas onde puderem, em uma batalha mundial contra as sociedades livres, especialmente aquelas com raízes judaico-cristãs.

O tal documento é permeado por inadequações. Por exemplo, Israel não pode levar a culpa pelo êxodo cristão da região. Belém, onde o "Documento Palestino Kairós" foi maquinado, se ergue como um testemunho evidente do ímpeto dos radicais muçulmanos por despachar os cristãos, fazendo-os desaparecer de suas vidas. A posição bem documentada e abertamente declarada dos islâmicos radicais é de limpar todo o Oriente Médio da presença dos cristãos. O objetivo não se restringe ao nível teórico. O fato é que os radicais islâmicos são os maiores perseguidores dos cristãos em uma infinidade de países em todo o mundo nos quais as populações muçulmanas são significativas.

Sugerir que Israel não tem interesse nenhum na paz é uma monumental distorção da realidade. Todas as propostas de reconciliação que Israel fez até hoje através da concessão unilateral de terras (e houve muitas, sendo o exemplo principal o prêmio da doação de Gaza) e todas as expressões israelenses de disposição de viver lado a lado com um Estado palestino têm sido refutadas pela liderança palestina. Em suma, os líderes da igreja palestina fariam bem em dirigir sua ira na direção correta: contra os radicais islâmicos que têm sequestrado o controle do povo palestino e que contribuem diariamente para a privação e a miséria desse povo.

Chegando à Raiz do Problema

Em nossas publicações, temos falado do impacto da teologia, tanto positivo quanto negativo, na nossa sociedade. A questão que temos em mãos nos fornece dramáticas provas de que a doutrina é importante. Existe uma quantidade estarrecedora de animosidade teológica com relação a Israel, e os cristãos que apóiam o direito de existência de um Estado judeu na terra que Deus lhe deu são tratados como os inimigos número um do povo palestino. Aqueles que se apegam ao que se tornou conhecido como a Teologia da Substituição se recusam a fazer quaisquer associações bíblicas aos direitos que os judeus têm atualmente a uma terra natal. Além disso, eles não dão a mínima acolhida a uma análise teológica do tipo concordar-discordar sobre a questão dos direitos dos judeus. De fato, o contrário é o que acontece, parecendo ser a norma para eles. Acreditam que a igreja substituiu Israel e é agora o verdadeiro "Israel de Deus". Todas as promessas que estão na Bíblia - no Antigo e no Novo Testamentos - relacionadas a um futuro histórico literal para Israel são, para eles, nulas e vazias.

Considere o que segue:

"Além de tudo, sabemos que determinados teólogos no Ocidente tentam atrelar uma legitimidade bíblica e teológica à violação dos nossos direitos. Assim, de acordo com a interpretação deles, as promessas [bíblicas] se tornaram uma ameaça para nossa própria existência. As "boas novas" do Evangelho se tornaram um "arauto da morte" para nós.

(...) Declaramos que qualquer teologia aparentemente baseada na Bíblia ou na fé ou na história, que legitime a ocupação, está longe dos ensinamentos cristãos porque instiga à violência e à guerra santa em nome do Deus Todo-Poderoso, subordinando Deus a interesses humanos temporários e distorcendo a imagem divina nos seres humanos que vivem tanto sob injustiça política quanto teológica.

(...) Nossa palavra às Igrejas do mundo (...) é uma mensagem de solidariedade com aqueles cristãos e igrejas que têm sofrido por causa da defesa que fazem da lei e da justiça. Entretanto, é também um chamado ao arrependimento; a revisitar as posições teológicas fundamentalistas que apóiam determinadas opções políticas injustas no que se refere ao povo palestino. É uma conclamação a permanecerem lado a lado com os oprimidos e a preservarem a Palavra de Deus como as boas novas para todos, em vez de fazerem dela uma arma com a qual matam os oprimidos."[2]

Essas referências à "ocupação" desabonam a simples existência de Israel como país, a legitimidade que os defensores da Teologia da Substituição negam. E mais, as pessoas que defendem com bases bíblicas o direito do povo judeu a uma nação que lhe seja por lar na terra que Deus lhe deu são acusadas de usar sua teologia como "um arauto da morte" para os cristãos palestinos e os muçulmanos palestinos. Também alegam que os cristãos que crêem na justificativa bíblica, histórica, moral e legal para um Estado judeu contemporâneo são culpados de politizar o Evangelho. Contudo, essas acusações aparecem em um documento que não está somente cheio de posições políticas como também de uma retórica que é um aviltamento teológico radicalizado do Estado de Israel e dos cristãos conservadores que discordam da posição do "Kairós".

Amar ou Não Amar

Em uma das formas mais baixas de ofensa injustificada da oposição, essas pessoas acusam aqueles que discordam deles de não serem amorosos e de não se importarem com a morte de palestinos, que são apresentados como vítimas de seus inescrupulosos atormentadores israelenses. Para aqueles de nós que vivemos em um mundo de realidade teológica e histórica, o povo palestino -- especialmente os palestinos cristãos - é, de fato, vitimizado diariamente, mas por elementos radicais que vêm usurpando a autoridade e que usam o sofrimento palestino como desculpa em sua agitação violenta para alcançar o triunfo regional. Contrariamente àquilo de que são acusados os cristãos que estão na lista dos inimigos do "Kairós", os apoiadores de Israel ainda amam o povo palestino e o povo árabe. Não queremos que eles morram. Não queremos que eles sofram. Queremos, entretanto, dar apoio a um acordo justo para o conflito, com israelenses e palestinos vivendo com segurança e respeito mútuo pela vida e pela liberdade.

Francamente, as acusações feitas por esses "líderes cristãos", culpando outros cristãos de colaboração criminosa para instigar o genocídio, não são dignas do verdadeiro cristianismo - seja liberal ou conservador.

O Evangelho da Bíblia propaga a mensagem de amor e de redenção para todos aqueles que crêem; e nosso incontestável comissionamento é de fazê-lO conhecido, sem reservas, a todos os povos em todos os lugares. É um mandado literal, perpétuo, que não diminui com o tempo nem com flutuações culturais. Da mesma forma, as promessas bíblicas ao povo judeu permanecem uma realidade sacrossanta. As promessas que Deus deu para serem perpétuas não são manchadas pelo tempo ou pelo fluir da história secular, que parece traçar um caminho contrário.

Desse modo, o povo judeu permanece o Povo do Livro, o Povo Escolhido por Deus, e vive em sua antiga terra natal, nos dias de hoje, como um milagre atual. Esses fatos se levantam como um arauto de tudo o que Yahveh prometeu para o futuro. Em outras palavras, o mapa do caminho bíblico coloca eventos futuros nas mãos do Messias. E toda segurança para o futuro descansa em Suas promessas de voltar e de estabelecer as coisas de maneira correta. Esta verdade deveria ser a fonte de nossa unidade como verdadeiros cristãos - palestinos ou não.

Abraão, em estado de perplexidade a respeito do futuro de Sodoma e dos poucos fiéis que estavam naquele lugar notadamente iníquo, fez uma pergunta: "Não fará justiça o Juiz de toda a terra?" (Gn 18.25). Ele fez, Ele faz, Ele fará. Esta é a substância de nossa esperança.

Elwood McQuaid é editor-executivo de The Friends of Israel.

Notas:

1. The Kairos Palestine Document [O Documento Palestino Kairós], 12 de novembro de 2009, Conselho Mundial de Igrejas: www.oikoumene.org/gr/resources/documents/other-ecumenical-bodies/kairos-palestine-document.html.

2. Ibid.

* Kairós: o termo grego significa tempo em seus diversos contextos. Assim é usado como o tempo oportuno e, por vezes, o tempo da ação divina. Para muitos, significa o tempo de Deus.

Publicado na revista Notícias de Israel - http://www.Beth-Shalom.com.br