Cadê o decoro, sr. presidente?
Mídia Sem Máscara
| 10 Agosto 2009
Artigos - Governo do PT
Tem decoro, pois és presidente! Não é por ti que exijo, isto, mas pelo cargo, que desmereces!
"No meu estudo das sociedades comunistas, cheguei à conclusão de que o propósito da propaganda comunista não era persuadir, nem convencer, mas humilhar - e, para isso, quanto menos ela correspondesse à realidade, melhor. Quando as pessoas são forçadas a ficar em silêncio enquanto ouvem as mais óbvias mentiras, ou, pior ainda, quando elas próprias são forçadas a repetir as mentiras, elas perdem de uma vez para sempre todo o seu senso de probidade... Uma sociedade de mentirosos castrados é fácil de controlar."[1]
Theodore Dalrymple
De uns tempos pra cá tem se tornado recorrente que os governantes xinguem a população. Parece que não tem bastado nos roubar praticamente a metade de todo o fruto dos que trabalham e produzem; não tem bastado torrar montanhas de dinheiro em finalidades as mais desprezíveis, e fazê-las faltar onde mais indispensáveis; Não tem bastado nos submeter a periódicas crises econômicas por investimentos que haviam de fazer com o nosso dinheiro e não o fizeram; eles também precisam xingar aos que minimamente lhes chamam a atenção para uma prestação de contas.
Fernando Henrique Cardoso já havia chamado os aposentados de "vagabundos"; o então ministro da Fazenda chamou de "otários" quem se submetia a comprar com ágio; todavia, ninguém até hoje superou a marca de Luís Inácio "Lula" da Silva. Não há uma semana, quiçá um dia, que seu espírito boquirroto não lance impropérios àqueles que, no mínimo, querem ouvir esclarecimentos sobre a aplicação do dinheiro público. Lula simplesmente não sabe governar sem a dialética do confronto, sem eleger um inimigo - aquele que, sendo concreto ou mesmo muitas vezes abstrato - situa-se no pólo oposto aos seus projetos.
Lembro-me de, ainda candidato, ter se referido ao Dr Constantine Menges, do Hudson Institute - em célebre entrevista ao jornalista Boris Casoy - como o "patife de Miami", por ter denunciado a existência do Foro de São Paulo e a aliança que Lula e Chávez haviam celebrado, fato de que hoje já nem sequer cuida de proteger, mas antes, já o exibe com satisfação e orgulho. Curiosamente, bastou esta pergunta para que Casoy ganhasse um sumiço da tevê por pelo menos seis longos anos.
Muito mal acostumado este senhor. Mimado pela imprensa e por sua militância, que o têm cultuado acima da condição de homem, e inexplicavelmente tolerado pelos demais representantes das instituições, que guardam por normal seu comportamento tosco e irascível, devido à crença injustificável na imputabilidade de sua origem simples - como se a maioria dos homens e mulheres simples não soubessem o que é decoro, respeito e decência - a cada dia alimenta a brutalidade de sua alma com os germes da arrogância e da impunidade.
No dia 1º de agosto, como bem noticiado - mas não bem criticado - este homem vitupera a mim e a todos os que acreditam no erro do bolsa-voto-de-cabresto-evoluído, chamando a todos de "imbecis". Pois eu retorno: imbecil és tu, patife! Tem decoro, pois és presidente! Não é por ti que exijo, isto, mas pelo cargo, que desmereces!
Por obra do acaso, no mesmo dia, o irmão do teu padrinho ideológico Fidel Castro - o Raulzito, vulgo "China" (bandidos e assassinos sempre são mais conhecidos por seus apelidos, não?), declara que os gastos públicos "fazem com que alguns não sintam a necessidade de trabalhar[2]":
(...)
"Los gastos en la esfera social deben estar en consonancia con las posibilidades reales, y ello impone, suprimir aquellos de que es posible prescindir. Puede tratarse de actividades beneficiosas y hasta loables, pero simplemente no están al alcance de la economía.
(...)
Con similar sentido de racionalidad se adoptarán otras decisiones en la educación, la salud pública y el resto del sector presupuestado, dirigidas a eliminar gastos que sencillamente resultan insostenibles, que han ido creciendo de año en año y que además son poco eficaces o peor aún, hacen que algunos no sientan la necesidad de trabajar".
Tradução:
"Os gastos na esfera social devem estar em consonância com as possibilidades reais, e isto impõe suprimir aqueles que são possíveis prescindir. Pode se tratar de atividades benéficas e até louváveis, mas que simplesmente não estão ao alcance da economia.
(...)
Com similar sentido de racionalidade se adotarão outras decisões na educação, na saúde pública e no restante do setor orçamentado, dirigidas a eliminar gastos que sensivelmente resultem insustentáveis, que têm crescido de ano a ano e que ademais são pouco eficazes ou pior ainda, fazem que alguns não sintam necessidade de trabalhar".
Quero ver-te agora chamar Raúl de imbecil pra todo o Brasil ouvir... (!).
Não que eu considere errada a decisão do General Raúl: muito pelo contrário, considero que é correta, tempestiva e apropriada: afinal, já estava mais do que na hora de se colocar um freio a este consumismo desenfreado dos cubanos... Olha o aquecimento global, hein?
Não obstante, vou explicar como e porquê um bolsa-isto ou um bolsa aquilo, e especificamente o bolsa-família, jamais será uma solução benéfica para o Brasil. E vou fazer isto tanto no plano teórico quanto no plano empírico.
Pra começar, tem perdurado no seio do imaginário da economia política nacional a idéia de que o distributivismo gera renda, e o bolsa-família é o caso por excelência. Mito. Pois, onde mais tem sido aplicado, jamais se teve uma semeada de prosperidade. O dinheiro dos beneficiados - e aqui incluo aposentados e pensionistas, que nas cidades do Norte e do Nordeste muitas vezes representam a maioria e o dinheiro gordo da população local - realmente faz girar o comércio, mas apenas aquele varejista que se desloca para atendê-los. Idem com os salários dos servidores públicos envolvidos (Estes bem menos, pois mal passam nos concursos, conseguem liminares na Justiça para logo voltarem ao Rio ou a São Paulo). Tão logo a chuva mingua, seca a pimenteira. Agora o fato: recentes pesquisas têm dado conta de que os programas sociais - incluso o bolsa-família - não propiciaram o desenvolvimento do Nordeste.
Assim se expressou Lula[3]: "Tem gente tão imbecil, tão ignorante que fala: "O Bolsa Família é para deixar as pessoas preguiçosas, porque quem recebe o Bolsa Família não quer mais trabalhar'". A boa teoria econômica tem demonstrado, com precisão, que os estímulos encarecem o trabalho e barateiam o não trabalho. Quanto a isto, explica Hans-Hermann Hoppe[4]:
Portanto, a redistribuição das oportunidades de aquisição de ganhos deve resultar em mais pessoas usando a agressão para conquistar a satisfação pessoal e/ou mais pessoas tornando-se agressivas, ou seja, mudando-se gradativamente as regras de não-agressivas para agressivas, e vagarosamente mudando a personalidade delas como uma conseqüência disto; e esta mudança na estrutura do caráter, na composição moral da sociedade, em retorno, leva a uma redução no nível de investimento em capital humano.
Não é tão difícil imaginar o quanto é assertiva a presunção de que um benefício continuado e isento de contrapartidas pode gerar a indolência: o valor do benefício pago apenas compreende uma faixa pela qual alguém pode ser "comprado". Se a algumas pessoas parece ser insuficiente, porque são mais exigentes quanto ao que querem da vida, outras se conformam mais facilmente, e o valor se torna desta forma a medida do conveniente.
Agora, o fato, que já foi largamente noticiado: muitas mães no Norte e Nordeste (e em menor medida, no restante do Brasil), geram filhos com o único propósito de receber a indigitada bolsa!
Porém, mais do que isto, como ensinou Hoppe, o que mais importa são as expectativas criadas: o trabalho, a poupança e o investimento custarão mais caro, e o ócio, a despesa e o consumo imediato serão mais recompensadores.
Torna-se lucrativo, pois, investir em formas agressivas e não-contratuais de aquisição da propriedade, ao mesmo tempo em que vão escasseando as possibilidades de abertura de empresas ou o crescimento delas, e conseqüentemente, a oferta de empregos, que produziriam homens e mulheres independentes e críticos em relação aos atos de seus governantes. Ao governo, por sua vez, isto muito interessa: para fazer um cãozinho comer na mão, basta que esta ofereça um petisco.
Feitas estas considerações teóricas e provadas empiricamente, resta-me apenas dizer que já passa da hora para que homens e mulheres de bem levantem-se contra esta ousadia crescente que já se coloca em tom de desafio, a corroborar a tese exposta na epígrafe. Homens e mulheres de relevo na sociedade têm o dever de censurá-lo. Homens e mulheres do Congresso e do Judiciário idem. A boa imprensa também.
Notas:
[1] Extraído do artigo "Um Gênio da Inépcia", de Olavo de Carvalho: http://www.olavodecarvalho.org/semana/090129dc.html
[2] "A mí no me eligieron Presidente para restaurar el capitalismo en Cuba ni para entregar
[3] http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/geral/palanqueiro-lula-reajusta-bolsa-familia-e-chama-criticos-de-imbecis/
[4] Hoppe, Hans-Hermann. Uma Teoria sobre o Socialismo e o Capitalismo (tradução autorizada). Arquivo PDF - disponível na Livraria Virtual de meu blog LIBERTATUM (http://libertatum.blogspot.com)
Seja o primeiro a comentar
Postar um comentário