A abertura de Confecom
Mídia Sem Máscara
Nivaldo Cordeiro | 15 Dezembro 2009
Cobertura - Confecom
Querem destruir a empresa privada que prevalece na produção de notícias e também na infra-estrutura de comunicações. Querem pulverizar e controlar a geração de conteúdo. Não escondem suas más intenções.
A abertura da 1ª Confecom agora à noite foi além das minhas piores expectativas. A platéia, basicamente tomada por militantes esquerdistas, é a própria materialização do homem-massa no poder. O clima era de festa, lembrava um show de auditório. Por várias vezes soaram aplausos como se fosse um show de artista popular, tentando apressar o início dos trabalhos. O popstar naturalmente é Lula. Com atraso de quase uma hora finalmente o artista apareceu, seguido pelo séquito. A platéia, à vista do líder, delirou. Na mesma proporção apupou o ministro Hélio Costa. O coro "Fora Rede Globo, o povo não é bobo" foi várias vezes executado por vasta parte da platéia.
O clima, o tom dos discursos e mesmo a fala do Lula me levaram a acreditar que não haverá como enfrentar a maré vermelha sem que se faça esforço equivalente no campo democrático em sentido contrário. A tática das empresas de comunicação de ignorar a Confecom foi um grande erro de cálculo. Ao ouvir os discursos ficou muito claro para mim que essas empresas precisam mobilizar a opinião pública a favor da economia de mercado e da sociedade aberta. Não adianta esperar e pagar para ver a conspiração da malta esquerdista. Ouvir os discursos e os rosnados da platéia contra o mercado levou-me a concluir mais ainda pela urgência de mobilização de massa em defesa da civilização. Talvez já não haja mais tempo para resultados práticos, mas a alternativa é a passividade que abandona o espaço público para o monopólio do proselitismo esquerdista.
Não custa lembrar aqui que o Hino Nacional não foi executado, mesmo estando presente o presidente da República, em um prédio público abrindo um evento oficial público. O discurso inaugural foi feito pelo Celso Schröder, secretário geral da FNDC - Fórum Nacional pela Democratização das Comunicações. Um discurso carbonário, que se iniciou com a homenagem a Daniel Herz, cujos filhos receberam de suas mãos uma placa comemorativa. Quem foi Daniel Herz? Foi o fundador do FNDC e primo de Tarso Herz Genro, o ministro da Justiça. Esses sujeitos queriam uma Confecom à época da Constituinte, intento finalmente realizado agora. Foi exibido um vídeo com as imagens de Daniel Hertz em momentos carbonários. Como se vê, a Confecom é resultado desse esforço de décadas liderado pela república petista de Santa Maria.
O que eles querem? Querem destruir a empresa privada que prevalece na produção de notícias e também na infra-estrutura de comunicações. Querem pulverizar e controlar a geração de conteúdo. Não escondem suas más intenções. Na verdade, o raciocínio aplicado é sempre o da luta de classes e os empresários são tidos como inimigos a ser destruídos. Por isso os empresários são sempre apresentados como "conservadores", em oposição a eles, que se têm por "progressistas". Foi lembrado em outro discurso que essa é a primeira Confecom e que uma das suas tarefas é marcar já a próxima, para manter o clima de mobilização. Saí com a sensação de que isso será feito.
Até aqui o esperado. A maior surpresa foi ver o João Jorge Saad estar na mesa e fazer uso da palavra, não apenas apoiando o evento, mas fazendo referência elíptica ao concorrente Rede Globo (que adotou a técnica do silêncio e da omissão), fato que arrancou da platéia fortes aplausos. Sentou-se ao lado do ministro da Propaganda Franklin Martins, seu antigo auxiliar na Rede Bandeirantes. Achei aquilo surpreendente, sinalizando para uma situação de adesão ao petismo que só enfraquece o já combalido setor empresarial.
O ministro Hélio Costa quase não concluiu sua fala, dado o nível dos apupos continuados e implacáveis de que foi objeto. Vê-se que não adianta jogar com as cartas dos inimigos, pois eles não querem que Helio Costa seja o ministro. Fiquei com a impressão de que o Plano Nacional de Banda Larga a ser aprovado será muito diferente daquele apresentado pelo ministro. De novo fica claro que a adesão pode ser inócua do ponto de vista dos interesses estratégicos da classe empresarial.
Lula estava muito descontraído e o achei mais magro. Falante, prolongou o discurso e ao final foi ovacionado. Tem a liderança total sobre os militantes. É seu ídolo, o homem-massa no poder. Insistiu que cabe à Confecom fornecer as "propostas" para atualizar os marcos legais do setor de comunicações. Implícito que o papel legislativo do Congresso Nacional ficaria usurpado pela Conferência, não lhe restando alternativa que não aprovar as "propostas". Na mesa estava Michel Temer e a significativa ausência do representante do Senado.
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