Dilma Rousseff e o companheiro Chávez
Mídia Sem Máscara
| 20 Julho 2010
Artigos - Eleições 2010
Não há grande diferença entre o que faz e pensa o revolucionário Hugo Chávez e o que pretende fazer (e, em parte, vem fazendo) a companheira Dilma Rousseff, de formação marxista-leninista. Ambos, conforme deixam claro, querem consertar o mundo "injusto e desigual" pelas vias milagreiras do socialismo.
Vou fazer um governo mais à esquerda do que Dilma.
José Serra
Durante a abertura da 2ª Cúpula América do Sul-África, realizada ano passado em Isla Margarita, na Venezuela, o ditador Hugo Chávez, com as bochechas infladas e a voz tonitruante de impostor latino, foi incisivo:
- "Minha candidata é Dilma. Ela será a próxima presidente do Brasil. Sei que vão me acusar de ingerência, mas o meu coraçãozinho é que está falando: minha candidata é Dilma!"
Lula, presente ao convescote amigo, lamentou ser uma desgraça Chávez não votar no Brasil, mas agradeceu o empenho do intrépido parceiro. Este, por sua vez, de braços dados com o sindicalista-presidente (fundador do Foro de São Paulo), foi ainda mais incisivo junto ao repórter de "O Globo":
- "Mas Lula não se vai, hein! Ele fica, assim como Néstor Kirchner, que se foi, mas não se foi"... - completou, reportando-se ao caso da Argentina, cujo governo, formalmente nas mãos de Cristina Kirchner, na prática é presidido pelo marido, Néstor, ao lado da gang sindicalista.
Por que Dilma Rousseff inspira tanta confiança em gente do porte de Chávez, o delirante ditador venezuelano?
Bem, antes de tudo porque Chávez, de início fundador do "Movimento Quinta República" (considerado, então, de "extrema direita"), passou marcha a ré e, depois de ouvir Fidel Castro na ilha-cárcere do Caribe, tornou-se arauto da famigerada "Revolução Bolivariana", um enclave cubano no seio daa América do Sul.
Com efeito, o tenente-coronel Hugo Chávez se constitui hoje, para a esquerda continental, um exemplo invejável de como conduzir o poder político para chegar ao Socialismo do Século XXI: por meio da força ou da manipulação institucional, sobejamente articulada, ele tem sabido impor ao povo venezuelano uma agenda de duras medidas revolucionárias, no entender dos seus "companheiros de jornada", dignas da maior admiração.
É fato: sob o tacão de Chávez, engrossado pelos bilionários dólares do petróleo, corrompem-se e dominam-se os poderes legislativo e judiciário; sufocam-se as liberdades de expressão; controlam-se sindicatos e fundos de pensões; reprimem-se nas ruas as massas insatisfeitas; desencadeiam-se perseguições férreas sobre presumíveis adversários - prendendo-os, exilando-os ou simplesmente matando-os; abastardam-se, por meio de subsídios ou ameaças fiscais, os empresários e as forças produtivas da nação.
Ademais, para aliciar a vontade campesina com promessas alvissareiras, promulgam-se decretos de expropriações de "latifúndios improdutivos" para repasses de terras que jamais se concretizam; criam-se, com as "missões bolivarianas", do tipo bolsa-família, práticas assistencialistas que só fazem prolongar a fome endêmica da população carente; e, por fim, para se manter as massas anestesiadas, promovem-se permanentes campanhas publicitárias tocadas por especialistas na arte de mentir em larga escala.
Por outro lado, no plano político das relações internacionais, satanizam-se os Estados Unidos e a República de Israel ao apontá-los como responsáveis pelas mazelas prevalecentes nos países do chamado Terceiro Mundo.
Cuba, Brasil, Bolívia, Nicarágua, Paraguai, Uruguai, Equador, Argentina e a própria Venezuela são países aos quais os integrantes do Foro de São Paulo julgam em condições políticas mais estratégicas para se compor a sonhada União Revolucionária Socialista da América Latina (URSAL), prevista para emergir nas próximas duas décadas - ou mesmo antes disso.
No Brasil, em particular, as etapas para se chegar ao Socialismo do Século XXI foram claramente expressas no programa de governo da companheira Dilma, apresentado recentemente, em tom de controvérsia, à Justiça Eleitoral.
De fato, em que pese ter causado alvoroço, o documento programático da candidata de Lula não traz nenhuma novidade, pois, como é notório, os seus itens básicos vinham sendo formulados há vários anos pelos mentores do Foro de São Paulo em parceria com a "ala mais avançada" do PT, ambos responsáveis pelo Programa Nacional de Direitos Humanos, o famigerado PNDH-3. (Aqui, vale lembrar, este documento de teor totalitário, encaminhado ao Congresso Nacional pelo Secretário Especial dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, foi repudiado em gênero, número e grau pela sociedade e instituições civis brasileiras).
Mas em que consiste o programa de governo da companheira Dilma?
De forma abreviada, o seu programa de governo, que incorpora sérias ameaças à democracia representativa (razão de ser do entusiasmo chavista), levanta, entre outros, os seguintes destaques:
1 - Controle "social" da mídia, dando ao governo instrumentos para castigar jornalistas, interferir na programação, no gerenciamento e na propriedade das emissoras de rádio e tv.
2 - Rever a Lei da Anistia, com o propósito de punir torturadores da era militar, excluída, no entanto, qualquer possibilidade de se penalizar subversivos e terroristas dos "anos de chumbo", responsáveis por centenas de mortes, seqüestros e atentados, hoje encastelados no aparato governamental.
3 - Aumentar impostos para sobretaxar as grandes fortunas, no fundo uma manobra com o objetivo de garfar a poupança alheia e punir o empresário e o capital produtivo.
4 - Abolição da propriedade privada, com a criação de uma "instância agrária superior" para impedir que juízes determinem a reintegração de posse de terras invadidas pelo bando do MST.
5 - Legalização do aborto, em qualquer situação, por se tratar, tão somente, de um "problema de saúde", alheio ao princípio do respeito à vida humana.
6 - Ampliação do dos poderes do Estado, com a criação de leis coercitivas e novas empresas estatais, conforme previsto pela "Revolução Bolivariana" de Chávez, cuja essência é a mesma que preside o "Estado Forte" do companheiro Lula.
Como se vê, não há grande diferença entre o que faz e pensa o revolucionário Hugo Chávez e o que pretende fazer (e, em parte, vem fazendo) a companheira Dilma Rousseff, de formação marxista-leninista. Ambos, conforme deixam claro, querem consertar o mundo "injusto e desigual" pelas vias milagreiras do socialismo - o mesmo que levou Cuba à ruína e o povo da ilha-cárcere à miséria permanente.
Os formadores de opinião da mídia amestrada, como era previsto, diante do programa radical enviado pelo PT ao TSE, no qual constava a rubrica da candidata, vêm considerando o documento surpreendente e contraditório. Eles se interrogam diante do óbvio: é de Dilma ou da ala radical do PT a autoria do programa levado à Justiça Eleitoral? Um documento que não leva assinatura, mas que é rubricado pela candidata, tem ou não tem validade? A versão radical do programa será ou não levada adiante por Dilma Rousseff, caso eleita?
Para mim, nada disso tem muito significado, ou melhor: o seu significado é justamente o da controvérsia. Como se sabe, é da natureza socialista fazer a política do jogo duplo com o objetivo expresso de tungar a democracia. O próprio Lênin, amparado numa hierarquia fortemente centralizada, fez da ambigüidade uma estratégia política, atuando ora às claras, ora de forma dissimulada, mas sempre inversa ao que propunha ou escondia das massas. "Iludir, falsificar ou dizer a verdade" - afirmava Lenin nas suas Teses de Abril - "é o dever de todo revolucionário que, para desnortear a Duma (parlamento russo), queira conquistar e manter o poder".
O mais incrível, no entanto, é que José Serra, sendo da oposição e "sabendo das coisas", tenha afirmado de público que "vai fazer um governo mais à esquerda do que Dilma". É de doer. Assim não dá.
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