Patinadas chavistas e freio de mão colombiano
Mídia Sem Máscara
| 20 Julho 2010
Internacional - América Latina
A pergunta do milhão é como fazer para que exemplos recentes de lucidez de colombianos, hondurenhos, exilados cubanos, chilenos e panamenhos contagiem cidadãos de países com governos de esquerda e com populações desgastadas, adormecidas e anestesiadas.
1. A marcha dos países latino-americanos é como uma "caravana" que avança com rumo errático e contraditório, entre patinadas chavistas, zig-zagues lulistas, extravagâncias kirchneristas, freios de mão colombianos e hondurenhos, e contra-marchas de exilados cubanos, piñeristas e panamenhos.
O caminho não está suficientemente sinalizado e o pavimento deixa muito a desejar. Alguns passageiros, sem saber bem para onde estão sendo conduzidos, cansados pela incerteza, dormitam em seus assentos. Outros, sentem as sacudidas do caminho, percebem os riscos e, apesar de também estarem cansados, reclamam e fazem valer seus direitos.
2. Um exemplo de atitude saudável foi o resultado das recentes eleições colombianas. Pode-se dizer que os colombianos acionaram decididamente um freio de mão, com repercussões benéficas em toda a "caravana" latino-americana. Contradizendo as pesquisas prévias às eleições, que favoreciam a um candidato da neo-esquerda, os colombianos disseram não às pressões guerrilheiras, às velhas e novas fórmulas de esquerda e às ameaças chavistas sobre suas fronteiras.
3. É verdade que na Colômbia não se sabe ainda qual será o rumo que o presidente eleito Juan Manuel Santos irá querer dar ao país. Seus recentes devaneios com o vizinho presidente-ditador Chávez, sua gradual tomada de distância do atual presidente Uribe, sua convocação de assessores políticos do ex primeiro-ministro esquerdista Tony Blair e sua sugestão para que o tristemente conhecido juiz Baltasar Garzón, da Espanha, ajude a reestruturar a Justiça colombiana, levantam incógnitas e suscitam perplexidades. Porém esse é outro capítulo que não empana a contundente atitude eleitoral dos colombianos.
4. Outros exemplos afins merecem ser citados. No Chile, as últimas eleições nacionais puseram fim ao longo reinado anestésico e diluente da Concertación socialista. Em Honduras, depois de acionar devidamente o freio de mão contra as pretensões chavistas, o país luta por um reconhecimento internacional que lhe é injustamente negado. Ex-presos políticos cubanos, recém excarcerados e enviados ao exterior, denunciaram que as medidas aparentemente liberalizadoras de Havana são um "anzol e uma máscara" para fazer com que a União Européia cesse as pressões e ajude o regime. Também manifestaram que esperam um pedido de desculpa do presidente Lula porque os comparou com delinqüentes comuns encarcerados. O ex-preso político cubano, Armando Valladares, uma das figuras mais proeminentes do exílio, denunciou a operação diplomática de "salvamento" do regime cubano montada pela diplomacia vaticana e pelo episcopado colaboracionista da ilha. O presidente da Sociedade Interamericana de Imprensa, Alejandro Aguirre, acaba de declarar que Lula é um "falso democrata", entre outros motivos, por "sua estreita relação de apoio e amizade com os ditadores cubanos".
5. Em sentido contrário, na Venezuela o presidente-ditador Chávez, com os Poderes Legislativo e Judiciário em suas mãos, vai apertando o torniquete legal, financeiro e policial contra os setores venezuelanos que ainda conservam margens de liberdade. E acolhe 1.500 guerrilheiros das FARC, segundo acaba de denunciar o governo colombiano. No Brasil, assessores da candidata presidencial lulista, Dilma Rousseff, deram a conhecer um plano de governo com matiz marcadamente esquerdista. Alguns sobressaltos, cuja consistência e durabilidade não é possível determinar, fizeram com que o plano fosse substituído por outro mais ambíguo. Porém, permanece no Brasil e no continente a preocupação sobre um eventual triunfo da candidata presidencial esquerdista. No México, bandos criminosos ligados ao tráfico de drogas atuam com impunidade em grandes cidades, deixando a descoberto uma força inesperada, capaz de desmembrar a sociedade mexicana. Na Argentina, o casal Kirchner aplica com os opositores, desde o Poder Executivo, a máxima "divide e reinarás", enfrenta os católicos e coopta os Poderes Legislativo e Judiciário, em um estilo rio-platense de populismo neo-chavista.
6. Os exemplos enumerados acima ilustram uma marcha errática da "caravana" latino-americana, que em alguns momentos parece tomar os caminhos mais adequados e, em outros, os piores. A pergunta do milhão, da máxima atualidade, é como fazer para que os recentes exemplos de lucidez de colombianos, hondurenhos, exilados cubanos, chilenos, panamenhos e também de outros latino-americanos que em seus respectivos países se preocupam por orientar os caminhos da "caravana" continental, não se desvirtuem e, pelo contrário, se difundam, prosperem e contagiem, no bom sentido, cidadãos de outros países com governos de esquerda, com populações desgastadas, adormecidas e anestesiadas. Até há não muito tempo, os assuntos internacionais e a política externa dos respectivos países preocupavam a inúmeros latino-americanos. Hoje, esses mesmos temas já não despertam o mesmo interesse de ontem. Entretanto, as conseqüências são as mesmas e, às vezes, mais graves ainda.
7. Vencer esse problema do desinteresse pela coisa pública e pelos temas ideológicos é chave para que a "caravana" latino-americana entre em caminhos firmes e não corra o risco de empantanar-se em um lodaçal ou de cair em algum despenhadeiro. A modorra e o desinteresse são os maiores aliados dos que querem nos conduzir, sem percebê-lo, para onde os latino-americanos não queremos ir.
Fonte: Destaque Internacional - Informes de Conjuntura - Ano XII - nº 298 - Madri, São José da Costa Rica, Santiago do Chile, 17 de julho de 2010. Responsável: Javier González
Tradução: Graça Salgueiro
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