A omissão de FHC
Mídia Sem Máscara
Nivaldo Cordeiro | 06 Setembro 2010
Artigos - Eleições 2010
A sua omissão é inexplicável, porque não lhe falta discernimento. Mas não é solitária, pois seus companheiros de partido estão todos se comportando como se no Brasil estivéssemos dentro da normalidade democrática e não como de fato estamos, trilhando o doloroso caminho do totalitarismo.
No artigo de hoje (5), publicado no Estadão (Democracia virtual), Fernando Henrique Cardoso se queixa forte de Lula e do PT. Se ele tem razão nas queixas, peca o ex-presidente porque não consegue fazer o mea culpa de sua própria responsabilidade pela chegada de Lula ao poder. Este é filho dos planos de FHC para destruir a direita política. O poder revolucionário e totalitário do PT foi subestimado desde sempre. FHC e, infelizmente, o Brasil, estão colhendo os frutos dos erros de avaliação fernandistas.
Ademais, FHC se queixa da passividade dos órgãos de Estado e da classe política diante dos abusos de Lula e seus partidários. Nas suas palavras: "Há um abismo entre o legítimo apoio aos partidários e o abuso da utilização do prestígio do presidente, que, além de pessoal, é também institucional, na pugna política diária. Chama a atenção que nenhum procurador da República - nem mesmo candidatos ou partidos - haja pedido o cancelamento das candidaturas beneficiadas, se não para obtê-lo, ao menos para refrear o abuso. Por que não se faz? Porque pouco a pouco nos estamos acostumando a que é assim mesmo".
As perguntas se impõem: por que o próprio FHC não se tornou sujeito de uma mobilização contra o abuso de poder? Por que não usou de sua autoridade de ex-presidente para encabeçar petições ao Judiciário para enquadrar Lula e o PT? Por que acusa de omissão os candidatos e os partidos se ele próprio poderia ter agido e não o fez? Por que não usa de seu poder junto à opinião pública e aos órgãos de imprensa para mobilizar a nação contra os perigos do totalitarismo? Por que se acovarda diante da história, mesmo vendo a iminência do perigo, refugiando-se nos lamurientos artigos ocasionais, como este, que usa regularmente publicar?
A sua omissão é inexplicável, porque não lhe falta discernimento. Mas não é solitária, pois seus companheiros de partido estão todos se comportando como se no Brasil estivéssemos dentro da normalidade democrática e não como de fato estamos, trilhando o doloroso caminho do totalitarismo. Ninguém bate os sinos de alarme quando fazem Confecom, Plano Nacional de Direitos Humanos, desmantelamento da linha de comando das Forças Armadas, sovietizando sua estrutura operacional; quando colocam a política externa a serviço do que há de mais criminoso no cenário político internacional, quando praticam a estatização galopante e o agigantamento de difícil reversão do Estado. Todas essas ações são técnicas de mobilização revolucionária que trazem grande perigo institucional e ninguém dos partidários de FHC, nem ele mesmo, tirante seu nhém nhémnhém de articulista ocasional parece estar preocupado. FHC está me parecendo a proverbial Cassandra, quando poderia ser, de fato, o líder de uma oposição incisiva, capaz de proteger a estabilidade institucional.
Reconheço que o ex-presidente está honestamente preocupado com os destinos do Brasil, mas não transforma suas palavras em atos. Sua omissão é notável e se aproxima da cumplicidade com as más intenções de Lula e do PT. Caberia a ele liderar um movimento de proteção à democracia e às instituições, mas se limita a lamuriar e a esperar que outros façam o que ele próprio deveria fazer.
FHC foi profundamente infeliz quando escreveu: "Na marcha em que vamos, na hipótese de vitória governista - que ainda dá para evitar - incorremos no risco futuro de vivermos uma simulação política ao estilo do Partido Revolucionário Institucional (PRI) mexicano - se o PT conseguir a proeza de ser "hegemônico" - ou do peronismo, se, mais do que a força de um partido, preponderar a figura do líder. Dadas as características da cultura política brasileira, de leniência com a transgressão e criatividade para simular, o jogo pluripartidário pode ser mantido na aparência, enquanto na essência se venha a ter um partido para valer e outro(s) para sempre se opor, como durante o autoritarismo militar".
Seja o primeiro a comentar
Postar um comentário