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sexta-feira, 13 de maio de 2011

A herança da Dilma

Mídia Sem Máscara

Hoje, qualquer fator externo negativo, seja uma alta dos juros nas economias centrais ou um enfraquecimento nos preços ou na demanda de commodities, derrubará o Brasil como a um castelo de cartas.

Passadas as eleições, baixada a poeira, podemos discernir melhor sobre a herança de Lula. A realidade dos fatos está mostrando que o "nuncantisnestepaiz" era uma fábula do marketing eleitoral que está se desmanchando a olhos vistos.

Um dos grandes trunfos do governo passado foi o controle da inflação, e ela efetivamente caiu, baixou de 12,5% para 4,5%. A imprensa especializada cantou odes de amor a equipe econômica, dentro e especialmente fora do país, permitindo que com os preços controlados se consumasse a maior farra de gastos públicos, esta sim, nunca vista nestas bandas. A companheirada exultou e caiu na festa, foram criados milhares de novos cargos na administração federal. A base aliada no Congresso se beneficiou de emendas parlamentares como nunca, deixando deputados e empreiteiras maravilhados, e para cereja, no bolo da incúria, Lula trouxe a Olimpíada e a Copa para o Brasil de uma só ponchada.

A inflação foi controlada pelo câmbio, que baixou de R$3,60 para R$1,70, baixa causada por uma enxurrada de dólares internados não para investimentos produtivos mas para especulação financeira, atraídos por uma taxa de juros imoral 10 vezes maior que a do mundo civilizado. "Nuncantisnestepaiz" os bancos ganharam tanto. Hoje se destinam pornográficos 57% do orçamento federal para o Ministério da Fazenda manter o bordel funcionado.

Mas até aqui parece que Lula fez um bom governo. Mas e a conta? Quem pagou? Pagou o setor produtivo da economia, indústria e agricultura foram jogadas às feras; as importações explodiram com o real valorizado; e inutilidades como biscoitos da Dinamarca, arroz do Uruguai e manteiga da França pipocam nos mercados.

As exportações de manufaturados foram as mais prejudicadas, as indústrias calçadista, moveleira, de autopeças e eletrônica foram dizimadas, em particular no Rio Grande do Sul.

A concorrência dos importados no setor de alimentos criou um imenso endividamento na agricultura especialmente na de consumo interno: arroz, feijão e trigo.

O Brasil mudou seu perfil exportador, retrocedemos 50 anos, voltamos a ser um exportador de commodities básicas, sem qualquer valor agregado.

O turismo de massas fez todos pensarem que tínhamos ficado ricos, mas estávamos apenas na fase do "dame dos" argentino, eu já tinha visto este filme.

Eleitoralmente, entretanto, estas políticas foram um sucesso, os bancos e empreiteiras agradecidos fizeram doações inéditas. A companheirada empoleirada em empregos e nas obras de emendas parlamentares fez uma campanha eleitoral mais aguerrida do que nunca, para não perder a boquinha. Os consumidores, beneficiados com os preços baixos, especialmente os emergentes, deram a Lula índices de aprovação nunca vistos em regimes democráticos.

Dilma esta eleita, mas a farra acabou; a crise europeia tem novos desdobramentos. Portugal naufragou, Espanha e Inglaterra estão na UTI, Grécia e a Irlanda não sabem quando saem de lá, e os americanos não parecem ter fôlego para escapar do atoleiro em que se meteram.

Hoje, qualquer fator externo negativo, seja uma alta dos juros nas economias centrais ou um enfraquecimento nos preços ou na demanda de commodities, derrubará o Brasil como a um castelo de cartas.

Precisamos urgentemente arrumar a nossa casa, e não vai ser fácil. Uma imensa tormenta está armada sobre nós. Sempre é bom lembrar que a inflação aleija, mas as crises cambiais matam.



Norton Dornelles é economista.

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