Retroação: meta petista
Mídia Sem Máscara
Aileda de Mattos Oliveira | 19 Maio 2011
Artigos - Educação
O problema reside no desejo de esferas da esquerda, acadêmicas ou não, substituírem o ensino da língua portuguesa nas escolas e nas Faculdades pelo de linguística. Isto vem se intensificando desde os tempos de FHC.
O povo e os governantes, por formação, são prisioneiros de complexo de inferioridade. Os segundos, oriundos do primeiro, tornam-se perigosos, em vista de enfeixar poderes que lhes foram delegados pelo voto, pondo em risco a nação com tal sentimento de subalternidade.
Esse complexo estreita os horizontes, limitando qualquer esforço em benefício do país. Satisfazem-se esses mandatários com o limbo, não buscando a escalada do progresso individual que leva ao progresso coletivo. Daí o jogo sujo da corrupção, que torna mais fácil o "vencer na vida", satisfazendo-se em quedarem-se, povo e governo, na cultura da cópia do sobejo dos demais países em lugar de criarem uma cultura própria, uma identidade nacional.
É o único país em que há um desejo dos governantes de piorar, de regredir, de voltar à pré-história da civilização. Não há registro, de algo parecido com o que se passa no Brasil, atualmente.
A língua de uma nação aprimora-se com a educação do povo, com o desenvolvimento da arte literária, com o estudo da filosofia, enfim, de todas as disciplinas humanísticas. Conhece-se a cultura de um povo, pela maneira de ele se expressar. No Brasil, ao contrário, fazem adotar, nas escolas, livro em que os textos são escritos à semelhança do dialeto crioulo, da época colonial. Deve ser saudosismo de afro-descendentes.
O problema reside no desejo de esferas da esquerda, acadêmicas ou não, substituírem o ensino da língua portuguesa nas escolas e nas Faculdades pelo de linguística. Isto vem se intensificando desde os tempos de FHC. A intenção maior é eliminar a gramática, como algo inútil, ultrapassado, no dizer dos modernosos e comprometidos professores, seguidores da receita doutrinária deste partido nefasto que aí está. São duas disciplinas com conceitos próprios e objetivos distintos. É claro que, sem ideologia, uma pode servir à outra.
A língua portuguesa não é uma ciência. É sincrônica, estudada dentro da fase temporal que abrange uma dada população de falantes. Preocupa-se com os fenômenos ocorrentes na sua estrutura, como a sintaxe, a morfologia, a concordância, a regência, etc. A parte relativa à história da língua, há muito foi eliminada do Ensino Médio e, atualmente, um número sugestivo de Faculdades particulares, nem mais faz constar o Curso de Letras na grade curricular. A gramática torna-se o repositório da língua falada e escrita e resguarda a norma prestigiada ou culta ou formal. Portanto, visa ao bem escrever e ao bem falar, isto é, a disciplinar o uso da língua. Isto é crime?
A linguística é uma ciência, limitando-se à linguagem oral, e por ser ciência, dita conceitos universais a todas as línguas naturais, isto é, aos idiomas falados nos seus respectivos países. Por essa razão se chama "linguística geral". Não há nesta ciência nenhum postulado que afirme estar correto o falar errado. Nem Ferdinand de Saussure, introdutor desta disciplina nos moldes atuais e autor dos apontamentos do livro-base [1], fez qualquer referência a esta asneira, tipicamente brasileira. Nem Joaquim Mattoso Câmara Júnior, introdutor da linguística no Brasil, na década de cinquenta, pronunciou tamanha heresia. Fui sua aluna em 1970, portanto, falo de cátedra.
Desta disciplina partem ramais subsidiários como a psicolingüística (ensino, aprendizagem, e suas teorias), a sociolingüística (a língua na sociedade), a neurolinguística (relação cérebro-língua, distúrbios da linguagem).
A sociolingüística, por ter como conteúdo programático a atividade da língua nos grupos sociais (diastráticos), e regionais (diatópicos) tornou-se a disciplina preferencial para a introjeção de conceitos doutrinários do professor.
Justamente, por ter como foco de estudos as características da atividade linguística nos estratos sociais, a sociolingüística leva em conta que o falar com desvios gramaticais TORNA-SE CORRETO PARA AQUELES GRUPOS, QUE AINDA NÃO DOMINAM A NORMA PRESTIGIADA do grupo social mais escolarizado. É compreensível, por só conhecerem a norma que lhe é familiar. Contudo, à medida que o falante adquire novos hábitos de linguagem, logicamente, melhorará seu desempenho gramatical. Aquele que domina apenas a norma popular, não saberá se expressar na norma formal, mas o oposto é verdadeiro: quem dominar a formal estará apto a reproduzir qualquer outra modalidade de língua.
Torna-se fácil simplificar teorias, a fim de se introduzir o vírus da ideologia espúria num campo fértil da educação, quando professores, de qualquer titulação, saem repetindo o que melhor ditar a sua filiação partidária sem se preocupar com a verdade teórica. Em colaboração com esse mafuá conceitual, serve, com fervor, a pedagogia.
Atualmente, poucos são os professores de língua portuguesa, substituídos que estão pelos de linguística, disciplina "mais fácil" e que dispensa as explicações dos fenômenos lingüísticos (de sua origem aos nossos dias), imprescindíveis no ensino da língua materna. Por razão das exigências que o ensino de língua requer, os alunos dos ainda resistentes Cursos de Letras abandonam a formação de professor de Língua Portuguesa, para irem em busca das "facilidades" da linguística ou da pedagogia, esta na área de Educação. Com tais profissionais, alunos do Curso de Letras, que ainda permanecerem fiéis à Língua Portuguesa, sairão das Faculdades sem nada saber sobre os fatos da língua que pretendem lecionar às futuras vítimas da paranóia governamental.
Diferentemente, Mattoso Câmara utilizou-se da lingüística para elucidar fatos da língua portuguesa, considerados mal-explicados ou incoerentes, da mesma forma, alguns professores menos radicais fizeram.
Neste caso, a linguística passa à "aplicada" e não "geral".
A autora do que chamam de livro, distribuído pelo MEC, deseja, de uma tacada, transformar a língua portuguesa em dialeto, aliás, como designam os linguistas as variantes regionais. Um absurdo querer impingir dialetos ao Brasil. É desejo em demasia de empurrar o gigante pelo desfiladeiro abaixo.
Haja, sim, complexo de inferioridade bastante para quebrar a cerviz desta gente que de tanto retroceder, chegará, em breve, ao sêmen, que infelizmente a gerou.
Nota:
[1] O livro de Saussure, Linguística geral, post-mortem, foi escrito por outros linguistas, seus discípulos, de acordo com os apontamentos de aulas.
A autora é professora e doutora em Língua Portuguesa.
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