Em Cuba, vice-presidente da Colômbia fala bobagens
Mídia Sem Máscara
| 17 Outubro 2011
Internacional - América Latina
O mito do “bloqueio” a Cuba começou em 1960, quando os Estados Unidos responderam às expropriações das firmas norte-americanas na ilha ordenadas por Fidel Castro.
Angelino Garzón não foi só dizer bobagens em Cuba, como aquilo de que ia participar de um “foro de empresários”. O leitor pode imaginar os “empresários” que ele pôde encontrar na ilha dos irmãos Castro? Em Cuba não há empresários. Há empresas do Estado, controladas por uma burocracia ávida e depredadora incapaz de criar riqueza e culpada de manter a população na miséria mais abjeta.
Não foi só dizer enormidades, que beiram a ignomínia, quando disse que Fidel Castro é um “amigo da paz” na Colômbia. Eu acreditava que as dezenas de milhares de colombianos assassinados, feridos, mutilados e seqüestrados pelos bandos criminosos que Fidel Castro treinou, financiou, armou e protegeu durante mais de quarenta anos de luta infame contra a democracia mereciam, ao menos, o respeito do vice-presidente que os colombianos elegemos em 2010.
Angelino foi a Cuba repetir as frases que os propagandistas de Havana lhe quiseram pôr na boca.
Um exemplo, talvez o mais patético: quando Angelino Garzón diz que “o governo dos Estados Unidos deve pôr fim ao bloqueio econômico, comercial e financeiro que desde há mais de 50 anos mantém sobre Cuba”, o vice-presidente colombiano se enlameia na maior demagogia. Angelino Garzón sabe perfeitamente que Cuba nunca foi vítima de um “bloqueio econômico, comercial e financeiro”.
O castrismo se inventou a fórmula do “bloqueio total” para não ter que dar explicações a ninguém de porquê sua economia, seu sistema social, político e cultural era e continua sendo inviável e a maior calamidade do chamado mundo socialista.
Bloqueio quer dizer que um país não pode receber nada do mercado mundial, e que não pode levar nada para o mercado mundial. A Cuba de Castro nunca esteve nessa situação. Cuba sofreu um embargo comercial ordenado pelo governo norte-americano. Porém, é um país que pode intercambiar comercialmente, exportar e receber ajudas e investimentos de países e de empresas que fazem e não fazem parte do sistema empresarial norte-americano.
Angelino Garzón pode falar de “bloqueio” quando sabe que a Venezuela envia petróleo a preços ridículos a Cuba todos os dias e que dezenas de empresas européias têm fortes investimentos em Cuba? Pode dizer com sinceridade quando sabe que Cuba exporta, como se fossem mercadorias, centenas de médicos cubanos?
O mito do “bloqueio” a Cuba começou em 1960, quando os Estados Unidos responderam às expropriações das firmas norte-americanas na ilha ordenadas por Fidel Castro. Washington declarou um embargo às exportações para Cuba, salvo os medicamentos e os produtos alimentícios. Os aliados de Cuba protestaram e o campo socialista, encabeçado pela URSS, rapidamente entraram em um mercado que acreditaram cativo. Não foi assim, pois vários países aliados dos Estados Unidos como França, Grã Bretanha e Espanha, encontraram a forma para contornar o embargo. E isso apesar do reforço do mesmo, decretado em 7 de fevereiro de 1962. Tudo foi em vão. Em 1967, a França vendeu a Cuba mercadorias no valor de 70 milhões de dólares e lhe comprou bens no valor de 34 milhões de dólares. (Ver Pierre Rigoulot, Coucher de soleil sur La Havane, Flammarion, Paris, 2007, página 84). Desde então, esses algarismos aumentaram, não só a respeito da França senão de outros países ocidentais, fora dos negócios que havia entre a ilha e o COMECOM [1]. Cuba foi membro do mercado comum do bloco socialista desde julho de 1972. Qual o bloqueio então?
Finalmente, Washington não tomou represálias contra as empresas de seus aliados que comercializavam com Cuba, pois compreenderam, como disse Alec Douglas Home, primeiro-ministro britânico nos anos 60, que “um comunista com o estômago cheio vale mais do que um comunista faminto”. É certo, em outubro de 1992 os Estados Unidos votaram a Lei Torricelli, e depois votaram a Lei Helms-Burton, em fevereiro de 1996. O resultado foi que nenhuma dessas leis foi aplicada. Os europeus protestaram pois isso violava, a seus olhos, as leis da OMC.
Em 1999, quando a URSS abandonou os cubanos, Havana conseguiu montar acordos com empresas de países capitalistas para obter as divisas necessárias para alimentar a população. Em dez anos, 578 “empresas mistas” foram autorizadas por Fidel Castro. Destas, abertas a investidores estrangeiros mas controladas firmemente pelo Estado castrista, restavam em pé 342 em 2004, pois muitos investidores estrangeiros se retiraram ante as torpezas e necedades da burocracia socialista. (Le Monde, 28-29 de março de 2004).
Finalmente, em abril de 2000 começou nos Estados Unidos um levantamento parcial do embargo. Ao final desse ano, até as empresas norte-americanas foram autorizadas a exportar remédios e alimentos à ilha. Isso explica por que, desde esse ano, o principal sócio comercial de Cuba são os Estados Unidos. E os franceses não ficam longe. Nem sequer em 2003, após o escandaloso encarceramento de 75 dissidentes cubanos, essas relações e esses investimentos se esfriaram. Então, qual bloqueio?
Eu não creio que os assessores do vice-presidente colombiano não conheçam esses fatos. Não creio que a Chancelaria colombiana não tenha se inteirado disso desde então. Por que, então, Angelino Garzón se permite dizer semelhantes disparates em Cuba, como se ele fosse, não um alto responsável de um país respeitável e respeitado como a Colômbia, senão o militante esquerdista mais atrasado da Colômbia?
A comprometedora viagem do vice-presidente colombiano a Cuba é muito preocupante. Significa não só uma aproximação brusca e absolutamente acrítica de um governo democrático a essa ditadura, uma das piores do mundo, senão que põe em uma curiosa situação setores inteiros da indústria colombiana. Os colombianos sabemos quanto custou à economia venezuelana a estreita aliança entre o presidente Hugo Chávez e o regime castrista. Milhares de milhões de dólares partem desde há anos da Venezuela para Cuba, sem que isso seja retribuído pelos cubanos. Hoje, Cuba é um tonel sem fundo onde se perdem as divisas e o bem-estar de milhões de venezuelanos. Com seu sistema absurdo e anacrônico Cuba continuará sendo isso: um país que parasita os outros. Acontecerá agora algo similar à economia colombiana? Ela entrará em uma fase na qual o poder central, alinhado a interesses anti-liberais, imporá às empresas colombianas a obrigação de “negociar” com Cuba, quer dizer, enviar aos irmãos Castro, a preços vis, bens e serviços colombianos?
Nota da tradutora:
[1] COMECOM: Council for Mutual Economic Assistance ou Conselho para Assistência Econômica Mútua, foi fundado em 1949 para a integração econômica das nações do Leste Europeu. Os países que integraram a organização internacional foram a União Soviética, Alemanha Oriental (1950-1990), Checoslováquia, Polônia, Hungria e Romênia. Mais tarde outros países se juntaram ao COMECOM, como a Mongólia em 1962, Cuba em 1972 e Vietnã em 1978.
Tradução: Graça Salgueiro
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