E o último, que apague a luz!
24/03
A verdade sufocada
Por Ana Prudente - "Raposa Serra do Sol"
A displicência com que os ministros do Supremo Tribunal Federal trataram a demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol marcará para sempre a vida de muitos brasileiros. Justiça se faça a um único membro daquele tribunal, Ministro Marco Aurélio, que visivelmente estudou a matéria a fundo, analisando ponto a ponto do que em sua ótica, deveria ser debatido antes da decisão final sobre o modelo para demarcações de reservas indígenas no Brasil.
Com um voto longo e bastante denso, o Ministro Marco Aurélio apresentou problemas que todos nós que acompanhamos a polêmica já víamos, porém, sem voz para sermos ouvidos. Afinal, na ótica dos ministros, somos apenas brasileiros e se não vivemos na área, não devemos nos meter. Até porque nem aqueles diretamente afetados tiveram oportunidade de serem ouvidos, muito menos levados
Ao serem interrompidos por um advogado com um "pela ordem" no inicio dos trabalhos, este que pedia para que a casa aceitasse algumas ponderações de ambos os lados, os ministros simplesmente concluíram que não havia mais necessidade alguma de ouvirem algo.
A pressa em acabar logo com aquilo estava latente no comportamento daqueles que diziam: "deixa assim mesmo, concordo com V. Excia" ou "se precisar mais à frente, analisaremos caso a caso". O que importa é que todos aqueles que forem brancos deverão sair da área demarcada. O laudo? Pra que querer investigar um laudo assinado apenas por uma pessoa e que listava como membros de seu grupo de trabalho dois motoristas que constavam como técnicos e nem sabiam ? Bobagem, isso é só um detalhe bobo e daria muito trabalho travar o julgamento para tal investigação. E as indenizações dos produtores: "Ahhh, isso não é da nossa alçada, eles que se entendam com o governo na justiça". Mas um momento - A justiça não é aqui? Todos os brasileiros sabem que para receber algum pagamento do governo demora anos a fio! "Detalhe, detalhe, vamos em frente - qual o próximo item"?
E deram super poderes para o Instituto Chico Mendes, que trabalha na mesma linha do CIR, do CIMI, da FUNAI, da Pastoral da Terra. Apenas se revezam nas decisões da terra que é mais deles do que dos índios. O que um ficou proibido de fazer, o outro o fará de comum acordo.
Atenção médicos, pacientes, professores e alunos. Quitandeiro, carroceiro, agricultor, criador, produtor. Que todos vocês que são brancos abandonem suas vidas, suas casas, seus amigos e seus afazeres, saiam todos daí, mesmo que tenham nascido ou possuam antepassados enterrados neste lugar. Alô alô vereadores, prefeitos, juízes, advogados, todos os trabalhadores da máquina pública e profissionais liberais - comunicamos que a partir de agora sua cidade não existirá mais! Virem-se! Saiam para o resto do Brasil e vão procurar emprego e um lugar para morar, um dia o governo os indenizará. Levem seus filhos brancos e mestiços, um dia eles esquecerão dos amigos que tinham aqui. Crianças esquecem rápido!
Pronto, dessa estamos livres, já decidimos o destino de todos. Afinal, quem mandou estes brancos nascerem no lugar onde seria demarcada a maior reserva indígena do país ou mesmo adquirirem terras por lá? Vamos embora, não aguento mais essa conversinha chata de demarcação de terra, tão longe daqui. Deste jeito ainda perco o capítulo da novela das 6 hoje também. E o último, que apague a luz!
Assinaram esta parte da história do Brasil:
Ministro Gilmar Mendes - Presidente
Ministro Cezar Peluso - Vice-Presidente
Ministro Celso de Mello
Ministra Ellen Gracie
Ministro Carlos Britto
Ministro Joaquim Barbosa
Ministro Eros Grau
Ministro Ricardo Lewandowski
Ministra Cármen Lúcia
Ministro Menezes Direito
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