END: ESTRATÉGIA NACIONAL DE DESMOBILIZAÇÃO
Papéis avulsos
HEITOR DE PAOLA
IMMANUEL KANT
Perpetual Peace. A Philosophical Essay, 1795
Duas forças se uniram para produzir o documento apropriadamente chamado END, pois posto em prática significará o fim da participação das Forças Armadas na formulação da política nacional e até mesmo em sua finalidade precípua: a estratégia e a definição dos objetivos militares. As razões de ambas são distintas, mas seus objetivos convergem.
De um lado, os movimentos revolucionários derrotados nas décadas de sessenta e setenta, particularmente no Brasil e no Cone Sul da América. Coincidentemente seus quadros remanescentes se encontram hoje no poder em todos eles por força do legado democrático dos ciclos militares. De todos, no entanto, o Brasil continua sendo o mais importante: por ser o de maior extensão territorial, por possuir a mais pujante economia – em grande parte herdada dos maciços investimentos em infraestrutura dos governos militares – e por ter sido o primeiro a reagir já em 1964. Mas há outra razão para ser necessário este formato dissimulado: o fato de que nenhum ataque frontal teria êxito, pois apesar de todas as tentativas de sucateamento, desmoralização e desmobilização, as Forças vêm conseguindo se manter como a instituição mais confiável por parte da população. Semelhante apenas ao Chile, com a diferença de que lá a classe política também tem alto conceito em função do baixo nível de corrupção, bandalheiras, negociatas e abusos, que aqui abundam.
Junto com o ressentimento rancoroso da derrota, as demais áreas são visadas num macabro conjunto de destruição do Brasil: a extensão territorial, através do retalhamento em “nações” indígenas e quilombolas, e a economia através do engessamento estatal direto ou indireto. Esta última, lamentavelmente com a anuência – em alguns casos cumplicidade – do empresariado nacional.
Em segundo lugar a outra força, aliada dos revolucionários, são as fontes globalizantes mundiais que querem transformar nosso país numa mera satrapia da ONU, na verdade do Governo Mundial que celeremente se aproxima. Se o governo Lula representa a primeira corrente, o de FHC representa esta última. Assumindo oito anos antes aplainou o caminho para o atual. Note-se que as principais ações do governo Lula foram aprovadas nos mandatos anteriores de FHC.
A origem deste movimento, no que tange ao assunto em pauta, foi dupla: a crise da dívida externa latino-americana na década de 80 e a grotesca e irresponsável aventura chamada “guerra das Malvinas”. Diante do caos político aqui instalado com o fim dos ciclos militares grandes interesses econômicos se moveram rapidamente para retomar o controle e daí nasceu no berçário do Centro Woodrow Wilson, o Diálogo Interamericano. Papel não menos importante foi representado pelo globalista e socialista Council on Foreign Relations que domina o Departamento de Estado americano desde Roosevelt e de onde veio o Ministro das Relações Exteriores do governo FHC Luis Felipe Lampreia. Este como Presidente do CEBRI (Centro Brasileiro de Relações Internacionais) patrocinou, juntamente como o Movimento Viva Rio e com o Center on International Cooperation (também ligado à Trilateral Commission, da qual FHC é o enfant gâté), seminários sobre Transformações nos Arranjos Multilaterais de Segurança com a participação ativa de Marco Aurélio Garcia, atual Ministro do Exterior de facto. A economia também foi entregue a representantes da mesma elite de Wall Street: Armínio Fraga, funcionário de George Soros, e hoje Henrique Meirelles ex-presidente mundial do Bank Boston.
Naquele e em outras dezenas de seminários foi questionada a ação dos militares, infensos por formação a aceitar a transformação do nosso território numa imensa hacienda exportadora de matérias primas. Daí nasceu uma “rede democrática” com poderes suficientes para se opor “aos comunistas e aos militares”, colocados em pé de igualdade, através da Resolução da OEA sobre o “monitoramento das democracias no continente” e, como ninguém é perfeito, “esqueceram” de monitorar Cuba.
Por razão de espaço citarei apenas dois documentos entre centenas de outros. Emitido pelo Interamerican Dialogue “Los militares y
Emitido pelo Departamento de Estado em sua fase mais globalista, a administração George H. Bush (pai) foi Freedom From War (Documento do Departamento de Estado nº 7277), o qual nas suas conclusões recomenda medidas para limitar a ação das FFAA (de todos os países) à manutenção da ordem interna (milícias) e dar suporte às Peace Forces da ONU, proibir a fabricação de armamentos com exceção daqueles destinados ao uso pela ONU, destruição de todos os demais armamentos e submissão, por bem ou por força, a todas as iniciativas de paz da ONU
Não é isto que está acontecendo, inclusive com a paulatina remoção dos oponentes para a reserva onde "os Generais não tem nada a administrar, pois indo para a reserva, se liberam" (apud Jobim fora do Tom)?
Publicado no Jornal Inconfidência
http://www.heitordepaola.com/publicacoes_materia.asp?id_artigo=965
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