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terça-feira, 16 de agosto de 2011

Ameaçam testemunha usurpada no caso Plazas Vega

Mídia Sem Máscara

Escrito por Ricardo Puentes Melo | 16 Agosto 2011
Internacional - América Latina

Num país com instituições dominadas pelo narcoterror, confiar no Judiciário pode custar muito caro.

Preocupante. O cabo Edgar Villamizar Espinel, o homem a quem o Ministério Público usurpou falsificando sua assinatura e inventando-lhe um absurdo testemunho, para acusar o coronel Plazas e condená-lo a 30 anos de prisão, o estão ameaçando e perseguindo desde várias frentes.

Tão logo saiu à luz pública seu depoimento, onde Villamizar assegurou que jamais havia estado nos fatos do Palácio da Justiça, nem conhecia Plazas Vega, nem havia feito depoimento algum ante a promotora Ángela María Buitrago - nem perante ninguém -, começaram a chegar bilhetes ameaçadores anônimos a Villamizar e à sua família. Bilhetes anônimos onde o rotulavam de “sapo” [1] e que, se mantinha-se em seu depoimento ante a Procuradoria, seria assassinado ele ou seu filho. Nestes bilhetes anônimos, ao mesmo tempo em que o sentenciam à morte, mostram-se solidários com os familiares dos “desaparecidos” do Palácio.

Porém, isto não é tudo. Em meados de junho o senhor Germán, assessor da Drª Paulina Riveros, diretora do Departamento de Direitos Humanos do Ministério do Interior e Justiça - quer dizer, o departamento que se encarregou da proteção de Villamizar -, disse-lhe que o Ministério Público Geral da Nação necessitava dele com urgência no bunker. Villamizar lhe expressou seu temor por considerar que sua vida corre sério risco ante funcionários desta entidade, e disse ao senhor Germán que não pensava ir até os edifícios centrais onde acorre freqüentemente a ex-promotora Ángela María Buitrago.

Germán tranqüilizou-o e disse-lhe que o trâmite no Ministério Público era obrigatório se ele quisesse seguir adiante com o esquema de proteção dado pelo ministério. Amparou-se com o argumento de que o próprio Procurador Alejandro Ordóñez estava a par desta diligência, e que a havia avalizado dizendo que era obrigatório que o cabo fosse ao Ministério Público. Coisa não certa, como verificamos. Também disse-lhe que podiam fazer a diligência em outro lugar que não fosse o bunker.

A questão é que sob enganos levaram Villamizar a uma casa localizada a algumas quadras do Ministério Público. Nessa mesma manhã, deixaram debaixo da porta de sua casa um bilhete anônimo onde o intimavam a mudar seu depoimento ante o Procurador ou, do contrário, sofreriam represálias.

No lugar para onde foi conduzido, Villamizar Espinel encontrou uma mulher que disse chamar-se Norma Angélica Lozano Suárez, Promotora Delegada ante a Corte Suprema de Justiça. Também estava um investigador de sobrenome Delgadillo e outro antigo conhecido do cabo, desde sua época no CTI. Primeiro alerta para Villamizar.

Edgar Villamizar aproveitou a oportunidade para mostrar o bilhete anônimo à Procuradora Norma Angélica, mas esta nem deu atenção... estava mais interessada em outras coisas. Esse foi o segundo alerta para Villamizar. A primeira coisa que a Procuradora Norma Angélica lhe disse foi que ela não podia perguntar nem dizer nada nesta diligência, e que estava ali somente como “fiadora”.

Villamizar perguntou se necessitaria de um advogado para esta diligência. A Procuradora Norma Angélica Lozano lhe respondeu que não havia necessidade de advogado, que isto era algo “casual” e “cotidiano”... algo “não formal”.

Na continuação, o investigador Delgadillo iniciou seu interrogatório em outros temas diferentes ao depoimento de Villamizar ante a Procuradoria. Era evidente que o interesse destas pessoas estava mais enfocado em encontrar algo obscuro no passado do cabo, do que em averiguar se ele esteve ou não na diligência que Ángela María Buitrago jura que esteve sim.

Assim o fez saber Edgar Villamizar a seus interrogadores. Perguntou-lhes por que não o inquiriam pelo assunto pontual de seu depoimento desmentindo a versão da Procuradora Buitrago, do procurador Bustos e dos outros assinantes desse falso depoimento com o qual - repetimos - condenaram o coronel Plazas Vega à prisão pelo resto de sua vida.

Como não lhe responderam satisfatoriamente, Edgar Villamizar levantou-se e saiu daquele lugar, sabendo que havia cometido um erro tremendo ao comparecer ali, enganado e pensando que o Procurador Ordóñez havia ordenado e avalizado esta gestão.

Nesse dia, Edgar Villamizar tomou a decisão de se esconder novamente. Ele sabe dos alcances do Ministério Público e sabe que sua vida corre grave perigo. Poucos dias depois me contatou para me dizer que as promessas da Drª Paulina Riveros e seu assistente Germán, acerca de proteger sua vida, eram falsas... e que a prova era esta, que olhava aonde o haviam metido: “Me lançaram na guarida do lobo”, me disse.

E há mais. Recentemente, um magistrado fez um ofício à Procuradoria para que entregasse ao Ministério Público Geral todos os dados de localização de Edgar Villamizar. Para que? Além disso, já não tiveram Edgar Villamizar no Ministério Público lhe fazendo perguntas? O que está acontecendo?

Seu filho está hoje com esquema de segurança, mas também começaram a chegar-lhe votos e telefonemas ameaçadores. Instam-no para que convença seu pai a mudar seu depoimento ante o procurador. Dizem-lhe que obrigue seu pai a que aceite que ante o Procurador houve uma retratação, e não uma usurpação, como é o caso.

Hoje, tanto Edgar Villamizar como seu filho temem por suas vidas. E com justa razão. Têm contra eles todo o aparato estatal disposto a destroçá-los a dentadas.

Quando Edgar Villamizar aceitou se apresentar ante o Procurador, para falar sobre as aberrações do Ministério Público no caso Plazas Vega e dos outros oficiais envolvidos pela Promotora Ángela María Buitrago em sua montagem infame, lhe prometeram proteção. Porém, ao contrário, só obteve perseguições e ameaças.

Tampouco deixam em paz o filho de Villamizar. Chamam-no quase todos os dias. Chamam-no do CTI do Ministério Público, do departamento de Direitos Humanos do Ministério - de Vargas Lleras -, e o chamam os que, em nome dos familiares dos “desaparecidos”, o pressionam para que não insista na verdade.

Por minha parte, sinto-me um pouco responsável por suas angústias. Eu aceitei que o governo de Santos continue me negando proteção efetiva, que vá além de um colete a prova de balas, um celular com 7 dólares de carga e um auxílio para pagar o caminhão de mudança de minha casa. Aceito isso, porque elegi denunciar sem medo do que a narcomáfia possa me fazer desde seus postos de poder. Mas não poderia carregar com a responsabilidade se algo mau chegasse a acontecer a Edgar Villamizar, a seu filho ou ao seu pequeno neto.

Isto é aterrador.


Nota da tradutora:

[1] “Sapo” é o jargão utilizado pela bandidagem, sobretudo os narcoterroristas, para designar o “informante” dos órgãos de segurança, seja Polícia ou Exército.


Fonte: Periodismo Sin Fronteras

Tradução: Graça Salgueiro

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