Esperanças falidas
Mídia Sem Máscara
| 09 Setembro 2011
Internacional - América Latina
Nota da tradutora: Eis aqui um artigo magnífico de um cidadão de Honduras que poderia muito bem estar se referindo ao Brasil.
De uma maneira ou de outra, todos os que vivemos nesta pátria tão convulsionada estamos expostos a altíssimos níveis de ansiedade, stress e impotência, sob as imensas nuvens negras com as quais amanhecemos e anoitecemos.
Nestas semanas temos lido e ouvido, insistentemente, acerca do termo falido. Fala-se que Honduras é um Estado falido, que o governo é falido, que a cidadania está falida, enfim, uma cadeia de falhas que me permitiram acrescentar mais uma ao elo: esperanças falidas.
De uma maneira estrepitosa temos contemplado como nos últimos anos muitas de nossas esperanças se esfumaram até se converter em falidas. A morte e o narcotráfico cavalgam dia e noite por todo o território nacional. Como nunca, contemplamos crimes horrendos que, por já serem tão comuns, nos insensibilizou e os adotamos, infelizmente, como parte natural e cotidiana da realidade.
A falta de emprego é o passaporte para que já não só jovens e camponeses, mas também adultos mais velhos e profissionais, estejam abandonando o país em busca de um futuro mais promissor e esperançoso do que se pode ter aqui. Que pena que compatriotas continuem brincando com o destino pela miopia, ambição e o egoísmo de nossos pseudo-dirigentes!
Por qualquer lente que se olhe, nota-se o caos no qual estamos afundados. O sistema educacional público é uma fogueira desde há anos, onde a única coisa que soma no mesmo é a perda irrecuperável de aulas. Infortunadas crianças e jovens alunos! Espera-lhes um futuro torrencial, onde não terão oportunidades mínimas pois não aprenderam nada: seu conhecimento é paupérrimo, nunca lhes ensinaram como desenvolver destrezas e jamais lhes transmitiram valores, já que, antes, se lhes alentou a formar turbas de rua que destroem tudo em sua passagem.
Do mesmo modo, a saúde pública encontra-se em estado de calamidade. Não há remédios, material nem equipamentos cirúrgicos... é tanta a demanda que pouco se pode fazer pelas longas filas de necessitados e doentes.
O mais demolidor de todas estas sombras que turvam o horizonte, é a atitude irresponsável e patética que a Klasse Polítika continua predicando. Esta não amadureceu em absoluto, nem aprendeu um milésimo com o passado recente no qual quase se enterra a República. Convocam as pessoas para escutá-la, quando a gritos expressaram suas carências. Para que falar tanto se os estômagos não podem continuar esperando? Para que estar em reuniões bizantinas, se o que se deseja é viver em paz e não morrer a cada dia?
Necessita-se de trabalho, educação, saúde, moradia, segurança para avançar e não para retroceder.
Não é com constituintes nem com documentos promulgados por indivíduos que acreditam ser semi-deuses, que se iluminará e resolverá o caminho. As palavras, os discursos, os grandes eventos são parte de um marketing que ficou como imagem congelada nos espelhos, pois não produziram os resultados esperados. Quem vai querer investir num país com a insegurança jurídica e física na qual se vive? Como operarão empresas que gerem riqueza, se nem sequer respeita-se a Constituição da República nem a divisão de poderes?
Já estão ficando até sem valores os que devem ser o reflexo ideal para as diversas gerações. Pratica-se de forma cínica a traição e a deslealdade. Corta-se com a guilhotina da infâmia a cabeça daqueles que nas horas boas e, sobretudo, nas más, foram nossos sinceros amigos. Estabelecem-se laços de amizade com outros que não nos deixaram nada, e que nem sequer sabem como se pronuncia o nome do nosso solo.
As esperanças das classes média e baixa já estão falidas. Não se vê a saída por nenhuma esquina. Tudo está contaminado a tal ponto, que a Klasse Polítika se imiscuiu em todos os ambientes públicos e privados, chegando inclusive a dobrar até os intelectuais e a academia, que se vêem intimidados pelas diretrizes da corrupção.
Esperanças falidas quando se comprova que cada vez mais se distancia a estrela que nos orientará para sair da pobreza, pois o gasto público aumentou, a burocracia cresce aceleradamente com a criação de secretarias de Estado decorativas e de escassa incidência no âmbito nacional. Ademais, as viagens burocráticas improdutivas com numerosas comitivas a nações estrangeiras, deixam que a imaginação comece a navegar.
Esperanças falidas ao descumprir com um povo que, com valentia, ante ameaças e intimidação, saiu um inseguro domingo de novembro de anos atrás, a exercer o sufrágio maciçamente para continuar vivendo em democracia.
Esperanças falidas quando os cidadãos honrados e íntegros contemplam estupefatos como se alenta e venera desde o poder público os delinqüentes de colarinho branco, os anarquistas e virulentos que encarnam a força bruta, e os vende-pátria de ontem e de hoje, ao oferecer-lhes todo tipo de honrarias, concessões e estímulos de protagonismo. Premia-se-os por haver tratado de destruir a nação!
Sentimo-nos sem rumo, sem bússola e respira-se, em geral, uma sensação estranha de certeza de que nos encaminhamos ao despenhadeiro, à agonia pátria, pois tudo indica que naquele governo hondurenho lacaio do imperador sul-americano, não se extirpou definitivamente o câncer que circulava pelas células da República.
As únicas duas esperanças que não estão falidas são a capacidade de resposta de uma sociedade que nestes momentos, inexplicavelmente, brilha desarticulada e temerosa. A outra é a fé em Deus, esse Deus que nunca nos abandonou e que sempre estará com Honduras até o fim dos tempos.
Tradução: Graça Salgueiro
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