Uruguaios que decidem se converter ao Islam
Mídia Sem Máscara
Escrito por Gustavo Trinidad | 06 Setembro 2011
Internacional - América Latina
O pessoal da Fundação Islam Amigo garante que esse papo de terrorismo islâmico é puro exagero midiático...
Quando nos apresentaram Lina, naturalmente a saudamos com um beijo na bochecha, mas não só Lina como também todos os presentes acusaram uma situação incômoda. É que Lina na realidade é Zaina, uma uruguaia de 27 anos que junto com seu novo nome assumiu a religião do Islam, e lhe é proibido saudar um homem com um beijo.
Há 26 dias que, entre o nascer e o pôr do sol, não se pode beber nem comer coisa alguma. Agosto é o mês do Ramadam para os muçulmanos. Como Lina, ou melhor, como Zaina, há uns 10 uruguaios na “Fundação Islam Amigo” que se converteram ao Islam, e cerca de 40 que de alguma forma o professam e aderem à sua filosofia, inclusive vários reclusos de COMCAR, Libertad e La Tablada.
Esta expansão da cultura islâmica no Uruguai deve-se, entre outras coisas, à atividade que desde há um ano desenvolve a “Fundação Islam Amigo”, a expensas de seu coordenador Pedro Rivas.
Uma viagem ao Irã e o conhecimento de sua filosofia, mais o descobrimento de Imã Alí e seu livro escrito no ano 600, “Conselhos para um bom governo”, foram determinantes para que Rivas decidisse divulgar esta cultura que parece tão distante da idiossincrasia ocidental e cristã, embora seus seguidores assegurem que além dos preconceitos, descobre-se uma religião “verdadeira”, sem hipocrisias e com valores universais.
“O trabalho com reclusos é tão simples como dar-lhes leituras ou compartilhar a leitura do livro de Imã Alí. Nele há notáveis elementos espirituais para fortalecer a alma em momentos difíceis; o livro é uma carta exemplar de moral neste século tão difícil. Os reclusos o compreendem e muitos o assumem naturalmente. É um caminho muito difícil que se faz dia a dia”, disse Rivas a La República.
Viagens e mudanças
Zaina decidiu se converter ao islamismo ao ver a mudança que isto havia gerado em seu amigo Ramón. “Ele voltou de uma viagem ao Irã e notei sua mudança, o ânimo, a forma de ser, a tranqüilidade que transmitia. Então disse a mim mesma: eu quero isso para mim”, contou Zaina no diálogo com La República.
Antes ela havia sido evangélica, mas não lhe agradaram algumas coisas e esteve sete anos sem acreditar em nada. “O Islam é para mim uma forma de vida. Rezo o Corão à noite, pois aqui tivemos que adaptar algumas coisas porque necessitamos manter a vida no Uruguai. Por exemplo, no Irã ao meio-dia para-se tudo para rezar, e isso é impossível de praticar aqui onde temos nossos trabalhos e atividades”, contou Zaina, que está aprendendo árabe e o que não pode ler, diz no idioma espanhol. “O mais importante passa pelo coração, mais do que pelo idioma”, assegura.
Para Zaina, não há discriminação da mulher nesta região, pelo contrário: “Nesta cultura a mulher não é um objeto sexual, o véu é para não ostentar a beleza na rua. Em casa a mulher muçulmana é normal, há médicas, mulheres que dirigem ônibus, não estão oprimidas como se pode acreditar desde nossa visão, e sem conhecimento de como as coisas são na realidade”, opinou.
Diálogos de hospital
Ramón, de 61 anos, era cristão mas uma vez teve que cuidar de um amigo internado em uma casa de saúde. Durante um mês, todas as noites falavam de religião. Seu amigo era convertido ao islamismo e nessas longas conversa Ramón, hoje Ibrahim, foi confrontando religiões e uma viagem ao Irã acabou por convencê-lo.
“Professa-se a amizade, a solidariedade, é uma religião sem as hipocrisias que muitas vezes se vive em nossa sociedade. As versões que nos chegam muitas vezes não são exatas. O Islam, por exemplo, não só proíbe, senão que é inimigo do terrorismo. As pessoas costumam identificar o terrorismo com o Islam ou Bin Laden com o Islam e não é assim. Bin Laden, por exemplo, era sócio dos Estados Unidos e foi uma guerra entre eles, foi uma coisa que não teve nada a ver com o Islam real”, assegura Ibrahim. Este uruguaio convertido ao Islam que tem empregadores judeus com os quais debate sobre religião “com o máximo respeito”, destaca que no Irã vivem 25 mil judeus. “É um país onde há tolerância”, assegura Ibrahim.
Cifras
1 bilhão e 200 milhões de seguidores, é o que se calcula que a religião islâmica tem no mundo.
Uma fundação multi-mídia
A Fundação Islam Amigo existe há um ano. Seu objetivo principal é difundir a cultura islâmica e criar um nexo de amizade entre a sua cultura e a nossa. A fundação tem uma rádio na Internet: “Acá los pueblos”, duas publicações escritas: diário “Tercer Camino” e diário “Los Pueblos” e uma agência de notícias, a “Indamislam Press”. Segundo o coordenador da fundação, nestes meios de comunicação registram-se umas 80.000 entradas mensais. A fundação também vende e empresta livros de cultura islâmica e tem uns 5.000 exemplares.
Tradução: Graça Salgueiro
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