Arabistas esnobes
Mídia Sem Máscara
Escrito por Daniel Pipes | 29 Novembro 2011
Internacional - Oriente Médio
Sua fanfarrice sobre o conhecimento de tantos idiomas não evitou que Cole desse conselhos terríveis, como estimular Washington a confiar na Irmandade Muçulmana e a negociar com o Hamas.
É necessário conhecer o idioma árabe para escrever sobre os árabes ou articular-se politicamente no que diz respeito a eles? Sim, tente farejar alguns que aprenderam o idioma, conhecidos como arabistas.
Antony T. Sullivan, por exemplo, usa do expediente de abuso de autoridade na revista Historically Speaking. Ao criticar o artigo, “The Military Roots of Islam” (As Raízes Militares do Islã), escrito pelos dois não arabistas, George Nafziger e Mark Walton, ele escreve: “Como alguém que acredita na importância no que tange à competência no idioma estrangeiro e na tradução precisa de palavras e conceitos estrangeiros para a língua inglesa” – note a sensação de enfatuamento – “Devo confessar minha considerável decepção em relação ao artigo”.
E que erros devastadores cometeram aqueles autores que corromperam as suas teses? Entenderam mal o termo jihad (guerra santa islâmica)? Não, algo bem pior: por mais chocante que possa parecer, os autores se referiram mais de uma vez à direção dos muçulmanos durante a reza como a qilbah. Está incorreto: Nafziger e Walton inverteram a segunda e a terceira consoante da palavra árabe (ing: qaaf-baa-laam). A palavra correta é qibla (acento na primeira sílaba) e em inglês a palavra é normalmente escrita na ortografia indicada. O sistema de transliteração recomendado pelo International Journal of Middle East Studies (Revista Internacional de Estudos Sobre o Oriente Médio), a principal revista acadêmica na área, sustenta que não há razão para adicionar o ‘h’ após a última letra (taa marbuuta) nas palavras como qibla.
Sullivan conclui com uma observação ainda mais empolada: “é lastimável que aqueles que não possuem o domínio absoluto do árabe optem por escrever sobre tópicos que exigem competência ingüística. Contudo, isso é desafortunadamente muito comum na época em que vivemos.
Mas Nafziger-Walton compreendem corretamente que a guerra é “o principal processo pelo qual o islamismo se disseminou pelo mundo”, ao passo que Sullivan, apesar da sua intimidade com taa marbuutas, propaga desinformações islamistas (“terrorismo e Jihad não são gêmeos idênticos e sim inimigos históricos”). Seu erro combina com uma fraude arabista mais ampla, ocultar o verdadeiro significado da jihad e fingir que significa auto crescimento em vez de operação militar ofensiva.
Juan Cole, professor da Universidade de Michigan, apresenta outro exemplo memorável do esnobismo arabista. Sua biografia oficial proclama que ele “domina o idioma árabe, persa e urdu além de um pouco de turco”. Ele defende que os problemas dos EUA no Iraque são resultado da falta de destreza no idioma árabe: “vimos todos os especialistas de última hora em Oriente Médio que não sabiam árabe, nem nunca moraram no mundo árabe ou que jamais estiveram lá, serem apresentados como fontes bem informadas”.
Mas a sua fanfarrice sobre o conhecimento de tantos idiomas não evitou que Cole desse conselhos terríveis, como estimular Washington a confiar na Irmandade Muçulmana e a negociar com o Hamas.
É engraçado que Cole censura especificamente o American Enterprise Institute, questionando “será que alguém … aí sabe sequer falar uma palavra em árabe”? E ridiculariza um estudioso do AEI em particular, Michael Rubin. “Nunca vi Rubin citar uma fonte árabe e me pergunto se ele conhece o idioma, ele apenas tem algum treino sobre a cultura persa”. Rubin (cuja biografia não diz nada a respeito dos idiomas que “domina”) me comunica que possui “um conhecimento prático do árabe” adequado para citar jornais árabes para fins de análise política. Ao contrário de Cole, Rubin não ostenta ter aprendido línguas difíceis, também diferente de Cole, Rubin apresenta conselhos sensatos a respeito de uma impressionante gama de assuntos.
Além disso, observe a inconsistência de Cole e de outros arabistas, “eles próprios escrevem livremente sobre Israel, embora não saibam hebraico”, destaca Lee Smith do The Weekly Standard. Será que estrangeiros em demasia sabem hebraico para que seja tão prestigiado?
Ao passo que é difícil imaginar uma pesquisa séria sobre, digamos, os Estados Unidos sem saber inglês, não arabistas escrevem sobre estudos importantes e de valia sobre os árabes, devido ao imenso volume de informações disponíveis nos idiomas ocidentais, particularmente em inglês. Por exemplo, teci elogios ao The Closed Circle: Na Interpretation of the Arabs de David Pryce-Jones, como “um marco para a compreensão da política do Oriente Médio”. Ao passo que não é necessário saber árabe para escrever sobre os Estados Unidos, falantes nativos do árabe normalmente necessitam obter informações disponíveis nos idiomas ocidentais para se destacarem.
É claro, ajuda saber diversos idiomas. Mas, como esses exemplos levam a crer, os idiomas não protegem contra a ideologia, idiossincrasia, pedantismo ou desinformação. Não garantem nem erudição de qualidade nem insights sobre política. Quem quer que seja, que tenha aprendido árabe, pode-se orgulhar dessa conquista sem falar com prepotência que isso suplanta outras qualificações. É uma ferramenta entre muitas outras, não um status.
Publicado no National Review Online.
Original em inglês: Arabist Snobs
Tradução: Joseph Skilnik
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