Verdade, honra, vergonha... e coragem...
Quinta-feira, 29 de Janeiro de 2009
Blog do Clausewitz
VERDADE, HONRA, VERGONHA
por Maria Lucia Victor Barbosa
Nosso relativismo moral vem de longe. É obra cumulativa de séculos. A acachapante aprovação nacional de Lula da Silva, sem contar com sua eleição e reeleição, demonstra que já chegamos aos píncaros das conseqüências históricas com requintes de caos. E diante do que se passa na atualidade, lembremos de Gregório de Matos e Guerra (1636-1696) advogado e poeta, alcunhado Boca do Inferno ou Boca de Brasa. Em Epílogos, ele retrata a paisagem moral de Salvador, Bahia, nossa capital na época colonial. Mudando a palavra cidade para país, teremos a paisagem moral atual em alguns dos versos do poeta:
"Que falta neste pais? Verdade.
Que mais por sua desonra? Honra.
Falta mais que se lhe ponha? Vergonha".
"O demo a viver se exponha,
Por mais que a fama o exalte,
Num país onde falta
Verdade, honra, vergonha".
Nunca nos faltou tanto verdade, honra, vergonha. Convivemos alegremente com "mensaleiros", sanguessugas, transportadores de dólares em cuecas e até os reelegemos. Somos antiamericanistas doentes, mas volta e meia vamos aos Estados Unidos para fazer turismo, comprar, estudar, trabalhar, cuidar da saúde, além dos milhões de brasileiros que partem em busca da América, e lá permanecem clandestinos, mas ganhando o que jamais ganhariam aqui. Odiamos os judeus porque preferimos o Hamas dos Palestinos. Como bons latino-americanos somos de esquerda e por isso idolatramos Fidel Castro, não importando ser ele um ditador implacável que nunca respeitou os direitos humanos. Se Lula da Silva, o grande pai de seu povo, põe o Brasil de joelhos diante de Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa, Fernando Lugo, Cristina Kirchner, nos inclinamos também perante as lideranças populistas que infestam a América Latina sempre imersa em sua mentalidade do atraso, em suas mazelas, em seus fracassos. A corrupção faz parte de nossa história e aprovamos governos corruptos ao dizer que se estivéssemos lá faríamos as mesmas coisas. Afinal, somos espertos, malandros e nossa satisfação em passar os outros para trás não tem limites. Indiferentes ou ignorando o que ocorre no Congresso Nacional ou no âmbito da Justiça seguimos cantando o samba de Zeca Pagodinho que nosso presidente da República tanto aprecia: "Deixa a vida me levar". Futebol, carnaval e Big Brother são nosso alimento espiritual. Acreditamos que o MST é um movimento social pacífico que não esbulha proprietários rurais destruindo maquinário, roubando gado, pilhando, queimando sedes de fazendas. Do mesmo modo admiramos as sanguinárias Farcs, idealizadas como heróicas e defensoras do povo colombiano.
No momento dois fatos empolgam os noticiários. O primeiro diz respeito ao caso do terrorista Cesare Battisti, que a Itália quer de volta, mas que já foi perdoado por nosso ministro da Justiça com o acordo de Lula da Silva. Não devolveremos Battisti de jeito nenhum, o criminoso é nosso. Também estamos de braços abertos para receber os terroristas de Guantánamo. Aplausos para a Justiça brasileira, pois aqui o crime compensa. Do jeito que a coisa vai, pode ser que Lula da Silva crie o Ministério do Terrorismo e convide Osama Bin Laden para ministro. Seria mais uma vez delirantemente aplaudido pelo povo e seu prestígio subiria como atestado em pesquisa.
O segundo fato é relativo ao Fórum Social Mundial, que ocorre em Belém do Pará. O governo investiu milhões na festividade, inclusive,
Aliás, não faltarão ao carnavalesco evento, além das camisinhas, muita cachaça e folia. Naturalmente, os participantes se posicionarão contra o capitalismo que os sustenta, contra a liberdade que permite a festividade, contra a riqueza que almejam para si. Dizem que no globalizado Fórum será dada oportunidade aos participantes, se os eflúvios etílicos permitirem, de perceberem que os problemas que assolam o mundo derivam da competição pelo poder e do acúmulo de bens materiais. Ou seja, tudo que eles mesmos fazem ou almejam. Em suas utopias delirantes as esquerdas clamarão pela volta do socialismo, nem que seja o do século XXI. E enquanto a crise avança sobre o planeta, em Belém do Pará se dançará o Carimbó, pois o tal outro mundo possível nunca foi definido nesses fóruns onde acontece de tudo, menos idéias.
Sem dúvida, esse "Fórum Socialista" faz recordar as proféticas palavras de Ortega y Gasset
No Brasil essa invasão começou faz tempo, mas diante dela nos quedamos indiferentes porque nos falta verdade, honra e vergonha ou, talvez, porque sejamos nós os bárbaros.”
Fonte: Blog do Bootlead
Um único comentário meu:
► Olhem, leiam, releiam, estudem e se vislumbrem no espelho... eu aprecio (e o termo certo é este) os textos da socióloga Maria Lucia Victor Barbosa, da mesma forma que aprecio os textos de Geraldo Almendra, Olavo de Carvalho, Orion Alencastro e outros poucos pensadores brasileiros que entendem a essência de nossa cafajestagem... eu sou um rato de internet e há 11 anos eu estudo o pensamento do brasileiro, que entrou em rota total de colisão com a normalidade desde os adventos dos tucanóides, implodindo na totalidade depois que o PT chegou ao poder... falo isso, pois se temos uns 50 blogs e sites de preservação de valores e que buscam combater através de idéias a obtusa introjeção da loucura em nossas vidas, há no mínimo uns 200 que fazem o desserviço... e deve ser a esses 200 que Lula fez alusão na entrevista que alegou ter azia cerebral... ou seja, os espaços virtuais que pregam que há normalidade dentro da total desordem... lendo a competente radiografia de nosso triste destino, realizada pela não menos competente pesquisadora Maria Lucia, eu entendo porque nos falta sangue nas veias até dentro de uma coletividade onde pretensamente existem pessoas que se identificam como contrários ao que a redemocratização está nos legando... ainda não encontrei na rede mundial de computadores uma pessoa interessada em buscar soluções e compreendendo as mensagens que a autora buscou transmitir em seu artigo, vejo que além da ausência dos atributos verdade, honra e vergonha, nos falta também coragem... enquanto nos limitamos a criticar, depositamos em Deus a paciente esperança em dias melhores em que os maus se confundam e expliquem aos milhões de maus que por eles foram criados, com rotundas verbas públicas, que tudo foi um equívoco e que é possível recriar a sociedade que, com muita propriedade foi comparada por Maria Lucia, a uma sociedade contraída... ela certamente a fez em relação ao senso de lógica e à percepção do perigo que estamos correndo, mas eu diria com toda a certeza que esta sociedade, que não é a nossa, e sim a de nossos filhos bem mais do que nossa, está expandida e não contraída... expandida no mal, onde os maus campearam sem oposição, sem contraditório e a contração sim será sentida por nossas futuras gerações, que não pediram para nascer e que sofrerão tudo aquilo que nós não acrescentamos em termos de vergonha, honra, verdade e coragem... é o que penso...
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