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quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O GAY E O PORRE

Quarta-feira, Fevereiro 18, 2009

Reinaldo Azevedo

Vocês se lembram daquele post das 4h49, sobre a punição de um professor de inglês? Afirmei que comentaria o assunto hoje. Relembro o caso, conforme noticiou a Folha:

Uma música sobre uma garota que bebeu, beijou outra e gostou provocou a demissão de um professor da rede pública de Brazlândia, cidade-satélite de Brasília. Em uma aula de inglês no ano passado em uma escola pública de idiomas, Márcio Barrios, 25, mostrou aos seus alunos de 12 a 14 anos "I Kissed a Girl", da americana Katy Perry, para que, segundo disse, eles identificassem os verbos no passado. Segundo a escola, a canção foi vetada porque faz alusão a bebida alcoólica: "Eu fiquei tão corajosa com o drinque na mão/ Perdi minha discrição". Já o professor diz que a chefia vetou a música porque a letra aborda a homossexualidade -a escola nega. O refrão diz: "Eu beijei uma garota e gostei/ Do gosto de seu batom de cereja". "Para mim, disseram que não podia por causa do tema e que os pais poderiam reclamar", disse Barrios.
O caso veio à tona agora porque o professor não conseguiu atribuição para dar aulas.
A polêmica começou quando a coordenação pedagógica soube que a canção seria mostrada aos alunos e pediu ao professor que a trocasse. A música "não cabe", diz a diretora Maria Danizete de Castro, por encorajar adolescentes a beber. Como Barrios não acatou a orientação, diz ela, a escola notificou o caso à Delegacia Regional de Ensino. O órgão abriu uma sindicância e, em novembro, suspendeu o contrato dele, que venceria no mês seguinte.
A atitude da escola recebeu o apoio do secretário de Educação, José Luiz da Silva Valente. O professor diz também que era alvo de discriminação por ser homossexual, o que a escola e o governo do DF negam.

Comento
Sabem quem vai comentar em meu lugar? Uma querida leitora chamada Cláudia, com quem me correspondo de vez em quando — desde os tempos de Primeira Leitura. Eu endosso seu texto na totalidade. E talvez acrescente alguma coisa. Vamos ver.

Reinaldo, me impressiona a reação de alguns comentaristas. Porrada para cá, porrada para lá...

Vc bem sabe que sou homossexual e já trocamos msgs sobre isso (Brokeback Mountain, lembra?). Não me agrada a postura daqueles que querem “enfiar goela abaixo” a sua opção sexual. Não faço isso e não gosto que façam comigo. Ao mesmo tempo, não admito que misturem a (in)competência de um professor com sua opção sexual.

A música é inadequada para o exemplo que o professor quer ensinar, ponto final. Ele é incompetente como professor e, se é homossexual, isso deveria ser apenas um detalhe e não justificativa para enchê-lo de porrada.

Há inúmeros exemplos de canções, textos, poesias etc que podem ser utilizados para “identificar os verbos no passado”. Não precisa ser uma musiquinha que fala de álcool e que pode induzir os adolescentes a beber e achar que podem “ficar corajosos” com um drinque na mão.

Já existe nos meios de comunicação - novelas principalmente - uma overdose de mensagens dizendo que é bom fumar, beber e transar. Se o professor é homossexual ou não, é um mero detalhe. Não podemos misturar competência - ou a falta dela - com sua sexualidade. Se o professor se utiliza deste argumento para se defender (“é discriminação”), ele é mais do que incompetente - seu caráter deixa muito a desejar.

E by the way, papais e mamães: ninguém ensina ninguém a ser homossexual. Conviver com gays não “contamina” ninguém. Se foi correto seu afastamento? Claro que sim. Eu, como mestre da língua de Shakespeare, lhe daria infinitos exemplos de como “identificar os verbos no passado” em inúmeras obras ou canções que em nada fazem a apologia das drogas, bebidas, sexo casual ou homossexualismo.
Um abraço
Publicar Recusar (Claudia) 14:57

Comento
Cláudia, que bom reencontrá-la e saber que continua a ser leitora do blog!

Sua intervenção é perfeita do começo ao fim — inclusive ao destacar que “homossexualidade”, para usar uma expressão popular, “não pega”. O tal professor, claro!, está querendo usar a sua condição para se apresentar como vítima de uma discriminação — e só por isso ele virou notícia de jornal. Um heterossexual que tivesse recorrido a uma música, PARA ALUNOS DE 12 A 14 ANOS, que fizesse a apologia do uso do álcool associado a uma prática erótica deveria ser igualmente punido. E, como sabemos, ele não poderia dizer: “Pô, fizeram isso só porque a música trata da heterossexualidade e porque sou heterossexual”.

O problema deste professor não é ser gay, mas ser irresponsável. Aliás, ao evocar essa condição, ele, na verdade, ajuda a estimular o preconceito contra os homossexuais. “Ah, tinha de ser viado” — sem que, com isso, eu abone o comentário brucutu.

E para esclarecer os leitores. Critiquei o filme Brokeback Mountain, de Ang Lee. Cláudia foi das poucas pessoas que concordaram comigo — e ela se refere a isso em seu comentário. Qual foi a minha restrição àquele, como direi, dramalhão muito macho, feito para comover? Sua indisfarçável misoginia. Mulher, por ali, quando não é uma pomba lesa, é insuportavelmente chata. Parece existir apenas para criar obstáculos à poesia que funde paisagem com testosterona amiga. Chatíssimo! Acho que o filme acabou sendo poupado pela patrulha gay.

Bem, voltemos ao ponto. A ordem do dia é fazer uma besteira e depois se dizer discriminado por isso e por aquilo. A propósito, se o dito professor precisa de uma garota bêbada para "ensinar verbos no passado", do que ele precisa para ensinar as várias construções do futuro em inglês? De adolescentes suicidas? Tenham paciência!

Por Reinaldo Azevedo | 18:11

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