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sábado, 27 de março de 2010

A caminho do desastre

Mídia Sem Máscara

Nivaldo Cordeiro alerta: A hipertrofia do setor público puxada pelo crescimento do funcionalismo e das aposentadorias fez a Grécia falir. Com o Brasil não será diferente. E a grande massa de "servidores" públicos quer manter as coisas exatamente como estão.

Os jornais de hoje (26) trazem duas notícias, aparentemente desconectadas: mais uma espetacular elevação do déficit da Previdência Social e a inauguração de um shopping center de luxo em Brasília. A cada elevação de salários dos funcionários públicos o efeito cascata sobre a Previdência agiganta o défict. Os ociosos enriquecem, enquanto os que trabalham empobrecem. Outra notícia é que o reajuste proposto pelo governo para os aposentados que ganham mais de um salário mínimo será majorado pelo Congresso Nacional.

O céu é o limite para o populismo. A ata da última reunião do Copom revela o que toda gente sabe: a inflação está se aproximando do descontrole. Talvez estejamos vivendo a agonia final do que restou do Plano Real e o seu compromisso com a disciplina fiscal, que nisso consiste todo o Plano. Não é possível ter estabilidade de preços com o Estado gastando com rédea solta.

O drama previdenciário está posto e o novo governo a tomar posse no Ano Novo não escapará de lhe dar combate frontal, diga o que disserem os candidatos. Isso implica em cessar reajustes nominais, arrumar maneira de reduzir benefícios e aumentar a contribuição de todos, inclusive dos retirados.

O drama está em que os aposentados constituem a maior força político-eleitoral no Brasil. Nenhuma "categoria" terá mais força que eles. Todo o funcionalismo público, por exemplo, está empenhado na manutenção do sistema como ele está constituído. Aqui vemos o sentido da expressão "privatizar o Estado"na sua plena acepção. Em que consiste isso? Em um gigantesco sistema de rapina sobre aqueles que trabalham, via impostos, para repassar os recursos a um contingente crescente de desocupados, que vivem nababescamente. Abrir shopping de luxo em Brasília, cidade que praticamente vive de impostos federativos, é sintoma dessa disfunção abissal, que escraviza quem trabalha para bancar a boa vida dos desocupados.

A situação é disfuncional não apenas do ponto de vista moral. É também do ponto de vista político e econômico. Politicamente o déficit previdenciário poderá colocar em xeque a legitimidade do processo democrático, na medida em que as instituições representativas não conseguirem tomar decisões contra o status quo dos aposentados. Do ponto de vista econômico temos o duplo desastre do retorno da inflação e do colapso do balanço de pagamentos. No fundo, estamos vendo o Brasil ser transformado em uma sociedade de rentistas. Mesmo a máxima carga tributária é insuficiente para garantir as "conquistas" dos aposentados. O desastre é certo.

A classe política evita discutir o assunto. Toda a gente relevante foi "incluída" no sistema, a começar pelos políticos. Todo mundo tem a sua boquinha na Previdência Social. O benefício privado aqui é imediato e incompatível com a saúde sistêmica da economia e do sistema político. O benefício público da estabilidade de preços é simplesmente ignorado da forma mais egoísta.

Esse é o grande nó da economia brasileira. Estamos vendo onde vai dar a hipertrofia do setor público puxada pelo crescimento do funcionalismo e das aposentadorias no caso da Grécia, que está falida. Imaginar uma situação igual para o Brasil nos próximos anos é realista, especialmente depois do reinado de Lula, que elevou as "conquistas" do funcionalismo e dos aposentados para limites impossíveis.

Inevitável concluir que, de novo, podemos viver a espiral cambio/salários, ou seja, uma explosão da inflação. Quem viver verá.

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