Carta aos argentinos
Mídia Sem Máscara
| 20 Agosto 2010
Internacional - América Latina
A candidata do Partido dos Trabalhadores, do Brasil, só levanta a cabeça porque Lula intervém, flagrante e ilegalmente na campanha eleitoral. Se outra prova se necessitava para comprovar o importante papel de Lula no Foro, ali está para reconfirmá-lo a participação de sua mão direita, Marco Aurélio Garcia, no XVI Encontro.
Buenos Aires, 18 de agosto - Mensagem enviada pelo engenheiro Alejandro Peña Esclusa desde sua prisão em Caracas (Venezuela) e lida na conferência desenvolvida pelos delegados da Argentina e Uruguai, da União de Organizações Democráticas da América - UnoAmérica -, no Centro de Oficiais das Forças Armadas.
Queridos argentinos:
Por motivo de se realizar uma conferência de UnoAmérica em Buenos Aires, quero enviar-lhes umas palavras referentes a três temas: o XVI Encontro do Foro de São Paulo, a libertação dos prisioneiros políticos argentinos e o papel da Argentina na integração ibero-americana.
1. Ao completar 20 anos de fundado, o Foro de São Paulo (FSP) decidiu realizar seu tradicional Encontro na Argentina, justo nesses mesmos dias. Chama a atenção que o documento que serve de base para o Encontro, inclua uma proposta para combater "a contra-ofensiva da direita latino-americana".
Os integrantes do FSP são incapazes de reconhecer que o que eles denominam "a contra-ofensiva da direita" é antes a resposta natural dos povos ao estrondoso fracasso de seu projeto político.
Certamente, UnoAmérica foi criada, entre outros motivos, para combater o avanço do Socialismo do Século XXI, porém o que o FSP realmente enfrenta não é UnoAmérica, como eles alegam, senão o rechaço generalizado da população, desiludida pela má gestão de seus governantes. Porque, uma coisa é criticar comodamente desde os prédios da esquerda e outra - muito distinta -, é proporcionar bem-estar, gerando emprego e desenvolvimento.
Interpreto meu encarceramento - assim como os ataques diários à nossa organização - como uma mostra de debilidade por parte do Foro de São Paulo. Seus integrantes crêem que culpando-nos de seus fracassos e mantendo-me preso em um calabouço, poderão deter os ventos da democracia e da liberdade que solapam por todo o continente americano.
Os resultados econômicos e sociais dos governos controlados pelo Foro de São Paulo têm sido desastrosos, particularmente na Venezuela, que apresenta os índices de inflação, desvalorização, desabastecimento, insegurança e falha nos serviços mais altos da América Latina, em que pese haver recebido os ingressos mais elevados de toda sua história. O mencionado documento-base se vê obrigado a admitir que o Foro foi vencido eleitoralmente no Panamá, Costa Rica, Chile e Colômbia, e que sofreu uma derrota humilhante em Honduras. O próprio protagonista do desastre, Manuel Zelaya, estará presente no Encontro para proporcionar detalhes do ocorrido.
O que o documento não diz, é que a candidata do Partido dos Trabalhadores, do Brasil, só levanta a cabeça porque Lula intervém, flagrante e ilegalmente na campanha eleitoral. Se outra prova se necessitava para comprovar o importante papel de Lula no Foro, ali está para reconfirmá-lo a participação de sua mão direita, Marco Aurélio Garcia, no XVI Encontro.
O documento base tampouco explica que o candidato peruano do FSP, Ollanta Humala - presente no Encontro -, não tem possibilidade alguma de ganhar as próximas eleições presidenciais. Outro expoente do Foro, Fernando Lugo, provavelmente deve abandonar a presidência do Paraguai, embora que por razões de saúde. O mandatário salvadorenho, Mauricio Funes, cujo partido pertence ao FSP, se distanciou do Socialismo do Século XXI porque sua aliança com Chávez quase lhe custa a Presidência.
Em resumo, o projeto do Foro de São Paulo, que suscitava algumas esperanças há 20 anos, quando foi criado, derruba-se aceleradamente porque, em vez de resolver os problemas da fome, da pobreza e da injustiça - como prometeu -, os agravou consideravelmente e, além do mais, encerrou nossos povos dentro de um absurdo modelo ideológico, fracassado desde que caiu o Muro de Berlim.
Um dos principais propósitos de UnoAmérica é proporcionar projetos de integração e desenvolvimento, capazes de preencher o vazio resultante do desaparecimento próximo do Foro de São Paulo.
2. Durante a Guerra contra a Subversão na Argentina houve, sem dúvida, como em toda guerra, violações aos direitos humanos por parte de ambos os lados, embora seja justo reconhecer que as hostilidades foram iniciadas pelos terroristas de esquerda, respaldados pelo regime de Fidel Castro e pela União Soviética.
Depois de anos de combate e sofrimento, a subversão foi - finalmente - derrotada no campo militar, embora não nos campos cultural e ideológico. Para assegurar uma paz estável e duradoura, os governantes do momento decidiram virar a página, anistiando os dois lados que participaram no conflito.
Entretanto, agora que a esquerda ostenta o poder, decidiu irresponsavelmente abrir as velhas feridas, anulando a anistia e aplicando retroativamente os efeitos de tal anulação. O resultado dessa decisão foi o cárcere, porém única e exclusivamente para os integrantes das Forças Públicas, enquanto que os "ex" terroristas estão livres e exercendo o poder. Isto não se pode chamar de justiça, senão de vingança.
A manobra foi precedida por uma campanha massiva de propaganda negra - dentro e fora do país - para apresentar os guerrilheiros e seqüestradores como "jovens lutadores pela democracia", enquanto que todo militar era qualificado de assassino desalmado.
A esquerda esquece que a história percorre ciclos e que, quando em algum momento a equação política mudar, sua atitude vingativa e irresponsável pode significar o ressurgimento do conflito e da violência. A sociedade deve evitar, como possa, a repetição incessante deste círculo vicioso. Nesse sentido, me atrevo a sugerir - em que pese ser estrangeiro - que os cidadãos argentinos façam pressões para que o governo e os tribunais libertem os inúmeros presos políticos que se encontram injustamente encarcerados.
UnoAmérica assumiu publicamente a responsabilidade de apresentar seus casos ante as instâncias internacionais.
3. Por razões do meu trabalho, tive que viajar muitas vezes à Argentina e ficar lá por longas temporadas. Duas coisas me impressionaram: primeiro, os evidentes sinais do que foi no passado uma potência econômica e industrial, refletidas em suas obras arquitetônicas e de infra-estrutura, e segundo, o extraordinário nível cultural e profissional dos argentinos.
Apesar dos múltiplos problemas na região, é previsível que logo se materialize a integração ibero-americana, em termos similares aos conseguidos pela União Européia. Além de ser uma tendência moderna, produto da globalização, nossa integração também será a conseqüência natural de ter a mesma origem, falar o mesmo idioma e compartilhar os mesmos princípios e valores ocidentais, inerentes à hispanidade.
Regozijo-me ao imaginar nossa integração como a conformação de uma orquestra, onde cada país tocará um aspecto da partitura, como o fazem os diversos instrumentos de uma bela obra sinfônica. Estou certo de que a Argentina terá um papel protagonista, proporcionando mestres e professores para todo o sub-continente, contribuindo com seus conhecimentos científicos e tecnológicos para a construção de grandes obras de infra-estrutura e demonstrando que pode ser potência, porque de fato vocês já foram uma vez no passado.
Nesta emotiva conferência de UnoAmérica, queria convidar os argentinos, não tanto a refletir sobre sua atual situação interna, a qual estou seguro de que superarão - do mesmo modo que a superaremos nós, os venezuelanos - mas sobretudo a considerar seriamente sua importante participação nas mudanças históricas que se avizinham e no futuro desenvolvimento de toda a região.
Desde meu "irmão cárcere" lhes digo: Adiante, queridos argentinos! A América necessita de vocês!
Alejandro Peña Esclusa
Prisioneiro Político
Presidente de UnoAmérica - www.unoamerica.org
Tradução: Graça Salgueiro
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