Obama e a mesquita no Ground Zero
Mídia Sem Máscara
| 27 Agosto 2010
Internacional - Estados Unidos
Por que ser tolerante com aqueles que não são tolerantes?
Mal poderia eu adivinhar (bem, dados os antecedentes, até poderia, ou deveria, adivinhar...) que, logo após ter inserido a anterior entrada no Obamatório sobre a "Silly Season" da política norte-americana, ocorreria a acção, ou a afirmação, mais "silly" desta "season": Barack Obama a manifestar o seu apoio à construção de uma mesquita perto do "Ground Zero" de Nova Iorque... e perante uma audiência de muçulmanos a celebrar o início do Ramadão!
Esta atitude é "silly" a vários níveis. Primeiro, porque, mais uma vez, o presidente vai contra a opinião da maioria dos americanos, como na "reforma" do sistema de saúde e na lei de imigração do Arizona. Segundo, porque, apercebendo-se ele (ou algum dos seus conselheiros) da extemporaneidade (para utilizar em eufemismo) daquela declaração, tentou depois fazer um «controlo de danos», desmentido e/ou esclarecendo e/ou corrigindo o que dissera... o que só veio agravar a situação. Terceiro, veio dificultar ainda mais as campanhas - e diminuir as esperanças - do Partido Democrata e dos seus candidatos para as próximas eleições de Novembro. Para se ter a certeza do quão grande foi este erro, registe-se que até Harry Reid discorda de Obama!
Convém clarificar de uma vez por todas: os que se opõem à construção do "centro comunitário" designado por "Cordoba House" - que, segundo Nancy Pelosi, deveriam ser investigados (!) - não põem em causa a legalidade da intenção mas sim a sua sensatez... ou falta dela: é, incontestavelmente, um desrespeito pela memória dos que morreram a 11 de Setembro de 2001 e pelos sentimentos dos seus familiares e amigos. Não se está a dizer «não construam»; está-se, sim, a dizer «construam em outro sítio». Compare-se: em muitos países islâmicos não se pode construir templos de outras confissões religiosas, ao contrário do que acontece em nações ocidentais como os EUA... ou será que já nem tanto? É que, em contraste com a rapidez com que foi dada a autorização para erguer a mesquita, aigreja que existia perto do World Trade Center não deverá ser reerguida.
Por que ser tolerante com aqueles que não são tolerantes? Sim, há quem queira implantar a Sharia nos Estados Unidos, e entre esses está Feisal Abdul Rauf, um dos cabecilhas do projecto em Nova Iorque, apoiante do Hamas e do Hezbollah, que disse que a América tinha parte da culpa pelo 9-11... mas que faz viagens pagas pelo Departamento de Estado!
Entretanto, outro efeito perverso desta discussão é, espantosamente, a desvalorização - delirante - que alguns fazem do que aconteceu há nove anos: no Daily Kos escreveu-se que os ataques foram «mais uma questão de óptica»; na Timeescreveu-se que o «Islão radical pode já não existir». Mas, lá está,os "intolerantes" são sempre os mesmos... os brancos e cristãos. Que também devem estranhar que, numa escola do Michigan, os treinos de futebol americano se façam de madrugada por causa do Ramadão.
Enfim, a contínua "compreensão" do Sr. Hussein pelos direitos dos muçulmanos (não fala tanto em deveres) pode estar a ter custos algo inesperados. Numa recente iniciativa de angariação de fundos em Los Angeles - que causou um enorme engarrafamento na cidade - foi notada a ausência de Barbra Streisand e de Jeffrey Katzenberg. Será que para alguns judeus, mesmo que liberais (N. do E: aqui, significando 'esquerdistas') certas coisas começam a ser demais?
Octávio dos Santos, português, é jornalista, escritor, e edita o blog Obamatório.
Título original: A mais "silly" desta "season".
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