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segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Arapongas atômicos

Segunda-feira, 5 de Janeiro de 2009

Resistência militar

TECNOLOGIA

Arapongas atômicos

Jornal Zero Hora - 5/1/2009

The Nuclear Express, um novo livro sobre a história da era atômica, descreve a interligação da rede de influência e espionagem por trás da proliferação da tecnologia. O diagrama abaixo mostra um resumo do caminho percorrido pela transferência de segredos nucleares.

Em 1945, após a destruição de duas cidades japonesas, Robert Oppenheimer teve um mau presságio sobre a proliferação das armas nucleares.

– Elas não são difíceis de fabricar. E serão universais se as pessoas desejarem torná-las universais – disse o cientista a seus colegas do Projeto Manhattan, que construíram, em Los Alamos (EUA), a primeira bomba nuclear da História.

Esse sentimento, que nasceu com a própria bomba atômica, se transformou na teoria da inevitabilidade tecnológica. Como as leis da física são universais, seria questão de tempo antes que outras mentes brilhantes e outras nações determinadas se unissem ao clube nuclear. Mas nada pode ser mais distante da realidade. Seis décadas após o alerta de Oppenheimer, o clube atômico tem só nove membros.

O que foi determinante para a lenta disseminação das armas atômicas? O que poderia retardá-la ainda mais? Há chance de que as sombrias previsões de Oppenheimer se tornem realidade algum dia?

Em um livro recém-lançado nos EUA, dois especialistas em armas atômicas estendem a mão à esperança e não endossam a visão de Oppenheimer. Em vez disso, os autores rompem mitos, jogam luz sobre a dinâmica oculta da proliferação nuclear e sugerem novas alternativas para reduzir a ameaça.

Com profundo conhecimento do mundo das armas e dos serviços de inteligência, Thomas Reed, ex-secretário da força aérea americana, e Danny Stillman, ex-diretor de inteligência de Los Alamos, mostram em The Nuclear Express: A Political History of the Bomb and its Proliferation (sem título em português), como os caminhos dos países para adquirir armas nu­cleares têm sido árduos e dependentes de espiões dispostos a revelar segredos de Estado.

Todas as pegadas atômicas partem, direta ou indiretamente, dos EUA. Uma começa com espiões russos que penetraram profundamente no Projeto Manhattan. Stalin, o ditador soviético, apostou tanto no serviço de inteligência que sua primeira bomba atômica era uma réplica exata da jogada pelos americanos sobre a cidade japonesa de Nagasaki, no final da II Guerra Mundial.

Moscou espontaneamente passou seus segredos atômicos roubados para Mao Tsé-tung, o líder chinês. Além disso, diz o livro, Klaus Fuchs, um espião soviético infiltrado no Projeto Manhattan que cumpriu pena até 1959, após ser solto forneceu secretamente ao programa de armas atômicas de Mao instruções detalhadas sobre a bomba de Nagasaki. Meia década depois, a China explodiu seu primeiro artefato nuclear.

Em outra importante revelação, Stillman e Reed contam como a China decidiu, em 1982, inundar os países em desenvolvimento com tecnologia para a fabricação de bombas atômicas. Entre seus clientes incluem-se Argélia, Paquistão e Coréia do Norte. Os segredos que a China repassou ao Paquistão também ajudaram A.Q. Khan, um vigarista que vendeu no mercado negro “máquinas complexas a qualquer idiota sem ideia de como é difícil fabricar e explodir bombas atômicas”.

O livro detalha como a França atraiu veteranos do Projeto Manhattan e dividiu detalhes do seu programa nuclear com Israel. Segundo os autores, no início de 1960, quando os franceses detonaram sua primeira bomba, no deserto da Argélia, “duas nações se tornaram nucleares”. Israel, por sua vez, repartiu o conhecimento (e matéria-prima) atômico com a África do Sul.

Mas Reed e Stillman consideram os políticos – não os espiões – a força primária da corrida armamentista nuclear. Estados repetidamente roubam ou vazam segredos porque veem essas ações como de seu interesse geopolítico.

Félix Maier

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