O candidato Ciro
Mídia Sem Máscara
| 20 Outubro 2009
Artigos - Governo do PT
O tipo psicológico do pré-candidato Ciro Gomes pode ser catalogado como o do "rebelde a favor", o sujeito que chuta o pau da barraca, profere "verdades peremptórias" e fustiga o adversário escolhido com palavras ácidas. É quase um arquétipo. Boa parte do eleitorado brasileiro admira a postura de tipos assim, pois, como se sabe, somos uma nação composta por políticos melífluos, convenientes, escorregadios e, em larga escala, covardes.
Diante dos problemas da existência humana, os políticos mais malandros têm sempre à mão suas meizinhas para uso genérico. Em geral de esquerda, eles formulam as mais primárias equações para resolver problemas insolúveis e apontam bodes expiatórios os mais descabidos como responsáveis pelas mazelas do mundo - mazelas que prometem liquidar tão logo assumam o poder.
Pura charlatanice. Uma vez no poder, os únicos problemas resolvidos sãos os do próprio candidato, familiares e corriola partidária, que se tornam milionários da noite para o dia e melhoram ainda mais (materialmente) a qualidade de suas vidas. Os "pepinos" reais, os que levam a população ao desespero - estes se multiplicam.
O falecido Leonel Brizola, por exemplo. Sem nunca ter dado duro um só dia na vida, era um sujeito rico, auferia bons salários e mordomias de praxe nos cargos públicos que ocupava, e ainda mantinha ricas propriedades no vizinho Uruguai. No entanto, quando vivo, nas suas pendengas eleitorais, diante de um público perplexo, assumia tom de cômica indignação, erguia o dedo e jurava que, uma vez eleito presidente da República, salvaria o Brasil liquidando, sem pagar, as "perdas internacionais" - seu bode expiatório predileto. Sim, todo aquele trololó causava imenso tédio. Mas em qualquer circunstância, na simples inauguração de um chafariz, lá vinha o "Centauro dos Pampas" (metade cavalo, metade asno) com as suas "perdas internacionais". Resultado: embora se candidatasse várias vezes, morreu sem colocar no bolso a farta grana presidencial.
O truque de Ciro Gomes para se manter como "bengalinha" na rendosa atividade política é o de apresentar-se como providencial candidato à presidência da República. Ele já foi candidato por duas vezes e, no momento, ameaça uma terceira candidatura. Muito falante, e desta vez privado da assessoria de Mangabeira Unger (o "Dr. Strangelove"), Ciro Gomes, já em campanha, tira da manga do paletó a promessa de que, agora, seu projeto de governo será dar continuidade - para melhor - aos feitos de Lula na presidência da República.
Ciro Gomes, cearense nascido em São Paulo, é um tipo psicológico curioso no cenário político nacional. Segundo se diz, começou em 1979 como um candidato derrotado da "direita" à vice-presidência da UNE, encruado "laboratório" político da esquerda comunista. Logo em seguida, filiou-se à Arena, partido que dava sustentação política à "ditadura militar", transformado depois em PDS, agremiação pela qual o nosso personagem elegeu-se deputado estadual, em 1982. No ano seguinte, intuindo no que ia dar os ventos da abertura política soprados pelos próprios militares, o deputado logo se transferiu para o PMDB, a taba redentora do Dr. Ulysses, onde se reelegeu em 1986.
Em 1988, para se fazer prefeito de Fortaleza e governador do Ceará, o personagem largou o PMDB e se transferiu para o PSDB, legenda dos tucanos, e aí ficou até 1996, quando, de olho na presidência da República, se mudou para o PPS, o antigo, impopular e desacreditado Partido Comunista Brasileiro. Neste partido, Ciro Gomes foi candidato derrotado em duas eleições presidenciais, a última delas, em 2002, perdida de forma canhestra para Lula e até mesmo o falso Garotinho (no justo dizer do locutor esportivo José Carlos Araújo, registrado em cartório como o "verdadeiro Garotinho"), candidato com base no Rio de Janeiro.
O ambicioso Ciro, no entanto, não desistiu. Para ter Lula como avalista de sua improvável candidatura em 2010, o deputado, de faro aguçado, largou o PPS e ingressou no PSB, legenda socialista da base aliada que já foi manipulada por acadêmicos marxistas, depois passou por mãos trotskistas, em seguida por comandos janistas, arraeszistas e garotinhozistas - sendo, no presente, carregada debaixo das axilas por Eduardo Campos, governador de Pernambuco e neto do falecido capataz Miguel Arraes.
Mais recentemente, "contra a sua vontade", mas seguindo estratégia marota de Sua Santidade, Lula I, o obediente Ciro transferiu seu domicílio eleitoral para São Paulo, com dois objetivos pré-determinados: 1) Bater firme (de forma merecida, de resto) no costado do candidato Zé Serra, o Cavaleiro da Alma de Cortiça; 2) Angariar os votos da população nordestina que mora em São Paulo, quase o mesmo eleitorado que colocou Erundina Cabra Macho (nasceu na Paraíba) na prefeitura da capital.
(Falar em macho, conta-se em relato sucinto que o complexo de macheza cultivado por Ciro Gomes vem de sua convivência relâmpago com Collor de Mello, a quem - embora negue - procura imitar em atrevimento e palavras. Eis o relato: em 1991, o presidente deposto estava fazendo discurso em Juazeiro do Norte, ao lado de Ciro, governador do Ceará, quando a cabroeira da CUT começou a vaiá-lo. Diante do encolhimento de Ciro, o alagoano Collor alterou a voz e alertou a canalha circundante: "Vocês não me intimidam! Meu pai me dizia que eu nasci com aquilo roxo!". Segundo psicanalistas da praça, Ciro, ego instável, ao testemunhar tal frenesi, teria assimilado (recalcado) a lição. Daí, quem sabe, ver-se hoje reconhecido como "língua de aluguel" - função que exercita com empenho e bravura, especialmente quando se encontra tomado pelo combustível da cólera).
O tipo psicológico do pré-candidato Ciro Gomes pode ser catalogado como o do "rebelde a favor", o sujeito que chuta o pau da barraca, profere "verdades peremptórias" e fustiga o adversário escolhido com palavras ácidas. É quase um arquétipo. Boa parte do eleitorado brasileiro admira a postura de tipos assim, pois, como se sabe, somos uma nação composta por políticos melífluos, convenientes, escorregadios e, em larga escala, covardes.
O problema é que a rebeldia de tipos como Ciro Gomes se manifesta sempre de forma assimétrica, comendo pelas bordas, incapaz de insurgir-se contra o núcleo duro do Poderoso Chefão, justamente aquele que, no plano político, com suas manobras de perpetuação de poder, desfibra a alma da nação a ponto de transformá-la num imenso "puteiro a céu aberto" - para usar aqui, com perdão da palavra, expressão cara ao candidato Ciro.
Muitos desconhecem. Mas na campanha presidencial de 2002, o eleitorado brasileiro começou apostando na coragem cívica de Ciro Gomes que, de início, somou mais de 20% das intenções de votos, chegando a ficar na frente de Lula da Silva. Todavia, chamado às falas pelo entourage do Chefão, curvou as costas e serviu de escada para Lula "chegar lá" sem maiores problemas. Como recompensa, ganhou um ministério de 3ª categoria e o eterno privilégio de esgrimir pela inocência de Sua Santidade.
Com os devidos senões, o quadro acima descrito pode repetir-se como farsa na trajetória do candidato cearense, digo, paulista, em 2010. Claro, trata-se aqui de antevisão do que ocorreu em 2002, visto que Lula não abre mão de perpetuar-se no poder via a ex-guerrilheira Dilma Rousseff, nem tampouco se concebe o eleitorado paulista, de saco cheio com os petistas e aliados, levar de bandeja Ciro Gomes ao Palácio dos Bandeirantes. Resultado: dando Lula (Dilma), retorna o vosso "língua de aluguel" ao Ministério da Integração Nacional, quem sabe para pelejar com as infindáveis obras de transposição do São Francisco, um ótimo negócio para políticos e empreiteiros.
Até 2014, se eleições houver.
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