Especialistas condenam cartilha sobre drogas
03 de julho de 2009 | N° 16019
Zero Hora
Política de redução de danos do Ministério da Saúde orienta como consumir os entorpecentes
Uma cartilha para usuários de drogas divide opiniões de especialistas em saúde pública e leva parlamentares a recorrerem ao Ministério Público. Em 42 páginas, o Ministério da Saúde dá dicas de como reduzir os danos à saúde, mesmo consumindo droga. Uma das sugestões é que viciados em crack utilizem protetor labial durante o consumo da pedra. Se adotada, segundo o material, a medida poderia ajudar a proteger o usuário contra doenças como aids e hepatite.
Olivreto, intitulado Redução de Danos, foi confeccionado e distribuído pelo Ministério da Saúde para profissionais que trabalham com usuários de drogas. O material também orienta especialistas da saúde a respeitar a liberdade de escolha, não exigindo abstinência dos viciados.
Para o psiquiatra e coordenador da unidade de dependência química do Hospital Mãe de Deus,
– Um álbum desses dá a sensação de que o país está desistindo da recuperação primária, que é evitar o uso.
A fiscalização na distribuição, a fim de que o livreto não saia das mãos dos profissionais habilitados para trabalhar com o tema, é o principal questionamento levantado pela psiquiatra Carla Bicca, integrante da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul.
– Se a cartilha ficasse restrita a um público específico, até considero que ela pode ser positiva na redução de danos. Mas é um risco grande. Falta fiscalização em tanta coisa no nosso país – acredita Carla.
Ao todo, 10 mil exemplares foram produzidos em outubro passado, ao custo de R$ 38,6 mil. Para o Rio Grande do Sul foram distribuídas, no mínimo, 379 unidades.
Ministério diz que livreto aproxima agentes de usuários
Alertados sobre o conteúdo, um grupo de deputados da bancada evangélica do Congresso pede, no Ministério Público Federal de Brasília (MPF), que a iniciativa seja suspensa. O MPF ainda não se manifestou sobre o caso.
– Essa política de redução de danos está mal direcionada. Ela, em vez de ajudar, ensina a usar a droga – diz o deputado João Campos (PSDB-GO).
Todas as dicas vêm acompanhadas por ilustrações.
– São cenas e palavras que chocam, mas são dirigidas a um público específico, para que eles possam se cuidar. A partir do momento em que a pessoa está mais próxima do serviço de saúde, partimos para a outra questão, que é evitar o uso – explica Fernanda Nogueira, do Departamento de DST-AIDS do Ministério da Saúde.
iara.lemos@gruporbs.com.br
IARA LEMOS | Brasília
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