Quanto custa controlar a imprensa
Mídia Sem Máscara
| 29 Julho 2009
Internacional - Estados Unidos
Mas é óbvio que, a partir do modo como a Casa Branca vem controlando repórteres em entrevistas coletivas, produzindo os seus próprios relatórios de notícias para distribuir à imprensa e orquestrando falsas audiências públicas, Obama quer um controle menos filtrado ainda, tanto da sua mensagem quanto da sua imagem pública, do que presidentes anteriores.
Ele está disposto a pagar milhões de dólares dos contribuintes para atingir essa meta.
A Casa Branca de Barack Obama está gastando mais de US$80.000 por semana para prover de pessoal os gabinetes de mídia antiga e nova. Somando-se o preço dos redatores de discurso, a conta da Casa Branca atinge quase US$100.000 por semana, ou quase US$5 milhões por ano - e isto é só com salários.
Com base na cobertura que o presidente acumulou até aqui, é dinheiro bem gasto.
O Accuracy In Media reuniu esses dados a partir do relatório anual de salários apresentado pela Casa Branca ao Congresso e divulgado na semana passada. O AIM identificou um total de 66 membros que têm alguma ligação com a máquina de mensagens de Obama - secretários e assistentes de imprensa, diretores de comunicação, especialistas em mídia nova, redatores de discurso, e a equipe do novo Gabinete de Envolvimento Público
Este último grupo, que emprega 13 pessoas a um custo de US$1.090.200 anuais, organiza eventos como o fórum online de assistência médica havido na Virginia na semana passada para transmitir diretamente ao público a mensagem da Casa Branca. A apresentadora do evento era Valerie Jarrett, que recebe o encargo máximo de US$172.200 por ano como assistente do presidente do dito gabinete.
A Casa Branca anunciou a discussão sobre assistência médica como se esta fosse uma audiência pública virtual, mas tanto a grande mídia quanto os blogueiros da esquerda e da direita difamaram-na como dramaturgia.
"O fórum de assistência médica de Obama foi como os debates do ano passado na CNN/YouTube - só que em lugar de produtores da CNN escolhendo a dedo as perguntas do vídeo, aqui a Casa Branca eliminou o intermediário!", reclamou Micah Sifry do techPresident.
O Gabinete de Envolvimento Público de Obama substituiu o mais tradicional Gabinete de Relações Públicas. A missão é a mesma - conectar o público à Casa Branca - mas as técnicas são diferentes. Ao conjunto das ações de comunicação já existentes, o time de Obama incorporou vídeos online, blogs e outros elementos interativos, incluindo audiências públicas rigorosamente administradas.
Obama também quadruplicou o tamanho da equipe de relações públicas. De acordo com o último relatório de salários da equipe do governo Bush, o presidente empregava três pessoas neste seu gabinete a um custo de US$335.500.
Obama tem mantido até aqui a promessa de fixar um teto para todos os salários de auxiliares que ganham mais do que US$100.000, mas ele está gastando muito mais dinheiro com peritos em mídia nova do que Bush, um sinal do seu desejo de modernizar a operação de imprensa.
Embora outros funcionários tenham de fato trabalhado no website da Casa Branca e em outros projetos de internet, o time que Bush consagrou à mídia nova parece ter consistido de duas pessoas - um diretor de mídia especializada que ganhava US$84.000 por ano e um assistente de website que ganhava US$34.000.
Em contraste, Obama mantém os 11 empregados no Gabinete de Envolvimento Público e outros nove auxiliares com títulos como diretor de mídia nova, diretor de criação de mídia nova, subdiretor de vídeo e chefe de conteúdo/design de e-mails. Os nove juntos ganham aproximadamente US$700.000.
No começo do ano a Casa Branca irritou o press corps [jornalistas que fazem a cobertura do local] ao impedir que repórteres cobrissem o momento fotográfico de Obama com o time da Universidade de Connecticut, campeão nacional de basquetebol feminino. Em vez disso, o próprio time midiático de Obama produziu uma vídeo-reportagem em estilo profissional e lançou-a vários dias após o evento.
Jake Tapper, réporter da ABC News para a Casa Branca, perguntou-se: "Os funcionários da Casa Branca de Obama acham que a cobertura de mídia que recebem não é lisonjeira o bastante?"
Eles não têm motivo racional para não confiar num press corps que acha que Obama é uma "espécie de Deus" (de acordo com Evan Thomas), que planeja perguntas com o time de imprensa e que transmite da Casa Branca reportagens especiais unilaterais. Mas é óbvio que, a partir do modo como a Casa Branca vem controlando repórteres em entrevistas coletivas, produzindo os seus próprios relatórios de notícias para distribuir à imprensa e orquestrando falsas audiências públicas, Obama quer um controle menos filtrado ainda, tanto da sua mensagem quanto da sua imagem pública, do que presidentes anteriores.
Ele está disposto a pagar milhões de dólares dos contribuintes para atingir essa meta.
No todo, Obama está gastando com a sua operação de comunicação cerca de 12 por cento a mais do que Bush: US$4,97 milhões comparados com US$4,44 milhões. Junto com Jarrett no gabinete de envolvimento público, os mais bem pagos, recebendo US$172.200 são Anita Dunn, diretora de comunicações, Robert Gibbs, secretário de imprensa, e Jonathan Favreau, diretor de redação de discursos.
Os outros membros das comunicações faturando mais de US$100.000 são:
- Christina Tchen, a assistente-adjunta no gabinete de envolvimento público (US$153.500);
- o subdiretor de comunicações Howard Pfeiffer (US$150.000);
- Michael Strautmanis, um assistente especial no gabinete de envolvimento público (US$139.500);
- o diretor de mídia nova Robert (Macon) Phillips (US$115.000);
- os subsecretários de imprensa William Burton, Joshua Earnest e Jennifer Psaki (US$113.000);
- a diretora de comunicações da primeira-dama, Camille Johnston (US$102.000);
- a diretora de assuntos de mídia Elizabeth Reynolds (US$102.000);
- e o subdiretor de redação de discursos Benjamin Rhodes (US$102.000).
A operação de imprensa de Obama é diferente da de Bush em outras maneiras além da ênfase nessa mídia baseada na internet que se desvia do press corps. Ele tem diretores de comunicações designados para regiões específicas, por exemplo: Adam Abrams para o Oeste, Amy Brundage para o Meio-Oeste, Moira Muntz para o Nordeste e Gannet Tseggai para o Sul. Cada um ganha US$65.000 por ano.
Obama também tem membros para atender aos mercados midiáticos das minorias. Corey Ealons, diretor afro-americano de mídia, recebe US$78.000, enquanto o salário de Luis Miranda como diretor hispânico de mídia é US$65.000.
A assistência a repórteres das minorias já gerou rendas para Obama sobre o investimento dos contribuintes. Howard Kurtz, crítico de mídia do Washington Post, notou na semana passada que destacadas escritoras negras que obtiveram acesso especial à primeira-dama Michelle Obama escreveram "com entusiasmo, em alguns casos mesmo admiração, sobre a primeira-dama como sendo um longamente aguardado modelo de conduta para negras."
A máquina midiática de Obama está em plena atividade, mas pode produzir o efeito contrário se a mídia conquistar auto-respeito e se cansar de ser manipulada em nome da imagem e da agenda do presidente.
Tradução: Bruno Yoshio Mori
Revisão: Alessandro Cota
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