Sarney e o Estadão
Mídia Sem Máscara
| 19 Julho 2009
Media Watch - O Estado de São Paulo
O ponto é que essa campanha contra Sarney tem um componente estratégico que ainda não está de todo revelado. Em pauta, a sucessão presidencial. Aparentemente, Lula perdeu a oportunidade legal de ter um terceiro mandato. A derrota da CPMF demonstrou que, no Senado, os petralhas não formam maioria qualificada e Sarney é o líder da minoria, fato que usa para fazer valer o seu poder. Enquanto Sarney for presidente daquela Casa o PT não tem como criar um atalho que garanta seu nome à sucessão. Esse é o jogo real que se desenha.
Finalmente o velho coronel Ribamar do Maranhão, o Sarney, disse coisa com coisa ao discursar (ver íntegra) para o plenário vazio do Senado, ontem, já
O jornal, por seu lado, não se fez de rogado e, em editorial (Aposta no esfriamento) da edição de hoje (18), entregou a rapadura, ao analisar o discurso. Não se limitou ao habitual enxovalhamento da figura do Sarney. Foi além, ao ameaçar o velho coronel Ribamar do Maranhão. Leiamos: "Curiosa a cabeça desses políticos. Eles acham, ou querem fazer crer, que a sequência de revelações que há meses mantêm o senador na berlinda não é escabrosa o bastante para resistir a uma nova temporada de possíveis denúncias, dessa vez referidas a uma personagem incomparavelmente maior, como a Petrobrás. A ideia por trás do argumento é que a imprensa não tem fôlego para fazer duas coisas ao mesmo tempo nem a sociedade manterá o interesse pelas lambanças no Senado quando começar o espetáculo da CPI". Por "imprensa" entenda-se Estadão ele mesmo, o único com acesso às fontes privilegiadas de informações fornecidas pelos arapongas do PT. O único veículo que se prestou a esse manobra suja do partido governante.
Quem tem acompanhado o que eu escrevo está muito bem informado desse movimento. Tenho apontado o viés estadônco há pelo menos dois meses. O Estadão tornou-se um aríete dos atuais ocupantes do Palácio do Planalto, contra o presidente do Senado. Como se sabe, o partido governante, o PT, e seu ministro da Justiça, usam de todos os meios legais e ilegais para praticar a luta política contra os adversários e inimigos. Escutas telefônicas ilegais e legais, tocaias escusas, busca em arquivos, nada escapa ao interesse dos militantes petistas infiltrados em todas as esferas de governo. O jornal Estadão não teria a capacidade investigativa de ter acesso ao farto e exclusivo material que tem noticiado contra Sarney, pelo qual tem dado supostos furos todos os dias. Sarney está certo: o Estadão está pautando a imprensa brasileira com seus supostos furos. A pergunta do milhão é: quem dá os furos ao Estadão? Claro, a única força capaz de fazê-lo, o PT.
Sarney sabe disso tanto quanto eu, mas não pode dizê-lo ao microfone. Tem que engolir o sapo e fazer sua defesa da forma que sempre fez, operando nos bastidores. O velho coronel Ribamar do Maranhão sabe que contrariou os interesses dominantes ao postular e ganhar a presidência do Senado e ao entronizar sua filha no governo do Maranhão, em manobra junto à Justiça Eleitoral. Por isso sofre o contra-ataque. Todavia, preciso dizer a você, meu caro leitor, que esses dois fatos, embora maiúsculos, não teriam sido suficientes para essa mobilização do PT, tão aguda e tão perene, objetivando a destituição de Sarney. O PT é mestre na mobilização da opinião pública. Ocorre que a tal opinião pública também tem limites: Sarney sabe qual é a fonte de seu poder, que é a base que dispõe de votos no Senado, em primeiro lugar, e suas relações de compadrios com a alta cúpula do Poder Judiciário (e Ministério Público), bem como ele mesmo, que sabe tudo dos bastidores da política. Um movimente de ataque que queira fazer pode destruir a base de poder de Lula. Sarney pode usar também a opinião pública conta seus atacantes, mas seria um movimento muito perigoso, abalaria as instituições.
E Lula sabe disso, por isso está o tempo todo afagando o velho coronel Ribamar do Maranhão. Tenta desvincular, de todas as formas, a sua pessoa da campanha insidiosa de vilipêndio do velho cacique maranhense. Sarney sabe que é jogo de cena, que, se Lula pudesse, dava-lhe um pontapé no traseiro sem dó e nem piedade. Mas Sarney é macaco velho o bastante para manter as aparências do "me engana que eu gosto".
O ponto é que essa campanha contra Sarney tem um componente estratégico que ainda não está de todo revelado. Em pauta, a sucessão presidencial. Aparentemente, Lula perdeu a oportunidade legal de ter um terceiro mandato. A derrota da CPMF demonstrou que, no Senado, os petralhas não formam maioria qualificada e Sarney é o líder da minoria, fato que usa para fazer valer o seu poder. Enquanto Sarney for presidente daquela Casa o PT não tem como criar um atalho que garanta seu nome à sucessão. Esse é o jogo real que se desenha. Para azar do PT e sorte dos brasileiros o coronel Ribamar do Maranhão está no meio do caminho dos petralhas. E ele não é de brincadeira. Fosse outro qualquer e já teria renunciado.
Caro leitor, observar os acontecimentos é algo realmente divertido e interessante e agora ganhou importância política maior. Se Sarney sucumbir penso que o PT caminhará a passos rápidos para empolgar o poder total. Torço para que o Sarney vença. Melhor dizendo, torço para que Sarney não seja derrotado. É a velha história: Deus escreve certo por linhas tortas. Não há mal que não seja portador de um bem. O velho Sarney, corrupto, nepotista, alpinistas social, um homem que merece os mais desabonadores adjetivos, tornou-se o grande obstáculo do PT na sua busca do poder total. Torço pelo Sarney.
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