O enigma do Egito
Mídia Sem Máscara
Nivaldo Cordeiro | 04 Fevereiro 2011
Media Watch - Folha de S. Paulo
Clóvis Rossi está tão inseguro de suas previsões que em três parágrafos busca apoio de outros analistas internacionais, igualmente comprometidos com a propaganda da causa revolucionária no meio islâmico.
Preciso dizer ao caro leitor mais algumas palavras sobre a situação do Egito. O conflito evoluiu em desfavor do governo constituído, com as brigas de rua fazendo muitas mortes e a repressão militar caindo com mãos pesadas. Eu volto ao assunto porque li a coluna de Clóvis Rossi na Folha de São Paulo de hoje (O espírito de 1776), na linha da estupidez dos analistas de esquerda espalhados pelo mundo. Evidente que não há qualquer paralelo entre a Revolução Americana e a situação egípcia. Os EUA eram um país a construir e o Egito é um país islâmico, dos mais antigos.
Clóvis quis dar um tom heróico aos sublevados. Não há nada disso. No Egito só podemos esperar duas alterações políticas possíveis: ou se mantém o regime e assume um outro general ou assumem os revolucionários islâmicos, como foi feito no Irã. Fora disso é delírio perigoso de analista torcedor, que se recusa a ver o real e prefere projetar miragens sobre os fatos.
O governo de Obama está em um conflito, entre a ética da consciência e a ética da responsabilidade. É uma falsa armadilha, mas bem sabemos que Hillary Clinton e o próprio Obama devaneiam com uma solução democrática à moda ocidental para o Egito e demais países islâmicos. O que houve no Irã e depois no Iraque só demonstra que essa solução é impossível nos países islâmicos. Nunca devemos esquecer que as formas de governo construídas no Ocidente são a sua especificidade, de difícil reprodução. O fracasso no Iraque, depois de anos de ocupação, é a prova viva de que nem mesmo a ação estrangeira tem o poder de parir uma democracia islâmica. Mas ambos sabem que o perigo mudancista no Egito é imenso.
O Egito é país decisivo para que a paz entre islâmicos e israelenses se mantenha. Se eventualmente assumir um governo hostil a guerra pode ser questão de dias, talvez de horas. Não é brincadeira, pois o incêndio seria imediato e a conflagração poderia se generalizar.
Clóvis Rossi está tão inseguro de suas previsões que em três parágrafos busca apoio de outros analistas internacionais, igualmente comprometidos com a propaganda da causa revolucionária no meio islâmico. Estão todos errados. Preciso dizer que não apenas os interesses dos EUA estão em perigo, mas de todo o mundo. Um conflito generalizado entre Israel e o mundo islâmico arrastará consigo as potências, mesmo que elas não queiram. Análises erradas têm graves conseqüências, sobretudo por parte daqueles que têm responsabilidade de governo.
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