O exemplo alemão
Mídia Sem Máscara
Nivaldo Cordeiro | 01 Abril 2009
Artigos - Economia
Se este não é o debate econômico do século, certamente será o duelo do ano. Enquanto Merkel governar os keynesianos não terão chance de pôr em prática suas alucinações obâmicas e dos Krugman de plantão.
Há um duelo político acontecendo entre o governo de Barack Obama, dos EUA, e o de Angela Merkel, da Alemanha, sobre como conduzir a saída da crise econômica mundial. Esse duelo está desdobrado no plano teórico pelo enfrentamento entre o economista Paul Krugman e o ministro alemão das Finanças, Peer Steinbrück. São posições antagônicas, para as quais não cabe meio termo e desse duelo de gigantes é que brotará o caminho da verdade (ver matéria no Estadão). As principais escolas de pensamento econômico aqui duelam pelo poder de formular as políticas públicas.
Vimos que Obama, ao propor seu orçamento deficitário, fez a sua escolha pelo ativismo keynesiano. É bem verdade que os EUA têm a chave do cofre da moeda de trocas mundiais e podem dar-se (ainda) a esse luxo de fazer emissões superlativas de moeda, mas ninguém sabe até quando o feitiço vai durar. É verdade também que essas emissões têm-se mostrado inúteis para retirar a economia dos EUA da crise, quando muito servindo para manter insepultos os cadáveres putrefatos das gigantes empresariais quebradas, como a AIG e a GMC (e o setor imobiliários, com seus ativos tóxicos). Um abuso contra a economia de mercado e a livre concorrência, que pressupõe o desaparecimento dos competidores superados.
Do outro lado temos a disciplinada Alemanha, que encerrou o ano de 2008 com déficit público próximo de zero e com uma governante determinada a não mexer nessa política, que é a melhor tradição da ciência econômica. A Alemanha já viveu os horrores de uma hiperinflação e tem muita clareza dos limites do Estado impostos pelas leis econômicas. Angela
Merkel, em recentes declarações publicadas no jornal Financial Times (e reproduzidas no site do UOL), afirmou: "A crise não ocorreu porque estávamos gastando muito pouco, mas sim porque estávamos gastando demais para criar um crescimento que não era sustentável”. Obviamente uma referência à gastança dos EUA, vez que a Alemanha vem de uma seqüência e orçamentos equilibrados.
A Alemanha é um país com comércio internacional forte e sofrerá duramente com a recessão norte-americana, estando previsto para o ano de 2009 uma queda de PIB da ordem de 7%. A obstinada recusa da Sra. Merkel em embarcar na aventura monetária expansionista tem razão de ser, vem que pode se traduzir em descontrole de seu comércio internacional, desorganizando a sua indústria. Uma elevação do déficit daquele país se traduziria em imediata elevação das importações, comprometendo a arquitetura de seu sistema econômico.
Ajudaria os EUA, mas destruiria a Alemanha.
Temos que recordar que, se a dinâmica da administração do déficit pela Sra. Merkel é conservadora, a inércia da Alemanha é estatizante. A arrecadação de impostos naquele país encostou em 39% do PIB, tornando-a tecnicamente uma economia socialista. Uma eventual elevação do déficit público colocaria aquele numa zona perigosa, vez que a capacidade adicional de gerar tributos está bastante limitada.
Se este não é o debate econômico do século, certamente será o duelo do ano. Enquanto Merkel governar os keynesianos não terão chance de pôr em prática suas alucinações obâmicas e dos Krugman de plantão. O problema é que em setembro teremos eleições, no auge da crise econômica. É possível que a racionalidade do atual governo saia de cena, vindo a dar lugar aos populistas de esquerda. Certamente a crise será um grande cabo eleitoral, como foi nos EUA. Ainda uma vez os destinos da Alemanha se cruzam com os destinos mundiais.
Quem viver verá.
Postado por Mídia em Alerta às 18:00
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