Clinton: candidato a czar do Haiti?
Mídia Sem Máscara
Mary Anastasia O'Grady | 01 Fevereiro 2010
Artigos - Globalismo
Da última vez que se ofereceu para "ajudar" o Haiti, Clinton apoiou um déspota corrupto que fez negócios com democratas-chave e deixou o país mais empobrecido, desprovido desde o ponto de vista institucional e infestado de violência política.
Nas notícias sobre o Haiti das duas últimas semanas, as imagens de um aflito Bill Clinton têm sido quase tão constantes quanto as das próprias vítimas dos terremotos. O ex-presidente americano parece aparecer em qualquer lugar que se olhe, e expressar sua dor e prometer que transformará sua fundação na pedra angular de um amplo esforço de reconstrução.
Quando Clinton percorreu a devastação na semana passada, o diário Miami Herald descreveu que ele estava "com os olhos cheios de lágrimas". Trata-se de uma descrição mais apropriada de como poderiam terminar os haitianos se Clinton se encarregasse da recuperação do país, como aparentemente pretenderia.
Segundo fontes bem informadas, já corre o boato de que Clinton foi designado extra-oficialmente pela comunidade de ajuda multilateral, como o conduto pelo qual deverá passar qualquer pessoa que deseje participar da reconstrução do país. "Isso significa", me disse uma pessoa, "que se não se tiver conexões com Clinton, não se poderá fazer parte do jogo".
Uma pessoa a quem se confia tanto poder, deveria ter antecedentes impecáveis e os Clinton não estão nem perto de sê-lo. De fato, da última vez que se ofereceu para "ajudar" o Haiti, apoiou um déspota corrupto que fez negócios com democratas-chave e deixou o país mais empobrecido, desprovido desde o ponto de vista institucional e infestado de violência política.
Em 1991, só oito meses depois de assumir a presidência, Jean Bertrand Aristide foi afastado do poder mediante um golpe militar. A ação foi precipitada pelo desacato de Aristide pelo frágil Estado de Direito no Haiti, incluindo o uso da violência com matadores de aluguel para intimidar e assassinar seus opositores políticos.
Depois de sua saída, Aristide necessitava de dinheiro. Conseguiu quando o ex-presidente americano, George H. W. Bush, liberou os ativos haitianos guardados nos Estados Unidos, com o argumento de que ele era o governo no exílio.
A principal fonte desses fundos eram os pagamentos que as empresas de telecomunicações norte-americanas realizavam ao monopólio telefônico estatal, TELECO, para finalizar as chamadas ao Haiti. Desde seu exílio em Georgetown, Aristide retirou esses fundos governamentais que, segundo algumas estimativas, chegaram aos US$ 50 milhões para fazer lobby pela sua volta ao poder. Entre seus contatos mais influentes se encontrava Michael Barnes, um ex-congressista democrata, cuja firma de advogados chegou a receber US$ 55.000 mensais de seu cliente haitiano.
Depois de alguns anos repartindo o dinheiro haitiano em Washington, Aristide conseguiu o efeito desejado. Em 1994, Clinton chamou os militares dos Estados Unidos para repor Aristide na presidência. Quando seu mandato acabou em 1996 e René Preval assumiu como presidente, Aristide continuou sendo o poder por trás do trono.
Os haitianos se queixaram amargamente durante anos sobre seus abusos dos direitos humanos e corrupção, e muitos de seus seguidores educados se distanciaram dele à medida em que suas táticas se tornaram mais claras. Porém, a administração Clinton nunca fez nada para que mudasse o rumo.
Em fevereiro de 2001, Aristide afirmou ter sido reeleito em um processo que os observadores internacionais qualificaram como uma fraude e que a Organização dos Estados Americanos (OEA) negou-se a certificar. Os haitianos estavam enojados, porém tiveram que passar outros três anos até que esse descontentamento estourasse. Finalmente, em fevereiro de 2004, Aristide foi expulso d país.
Com a esperança de recuperar ativos roubados, o governo interino nomeado apresentou uma demanda civil contra Aristide em 2005, em uma corte federal do estado da Flórida do Sul. O documento acusava Aristide de ter saqueado as arcas fiscais e estabelecer planos com "certas" telefônicas norte-americanas, às quais lhes havia "concedido tarifas significativamente reduzidas por serviços oferecidos por TELECO em troca de comissões, que reduziram essas tarifas ainda mais". Alegava que uma das empresas que fez pagamentos a "certas empresas no estrangeiro" era Fusion Telecomunicações.
O contrato de Fusion deveria ter sido público, porém a empresa tratou de bloquear sua divulgação quando pedi uma cópia à Comissão Federal de Telecomunicações dos Estados Unidos. Com razão. O contrato revelou que a empresa tinha um acordo especial com TELECO de 12 centavos o minuto quando a tarifa oficial era de 50 centavos.
O pacto com a Fusion é interessante porque a empresa era dirigida por Marvin Rosen, o ex-diretor de finanças do Partido Democrata. Entre os membros da junta diretiva estavam Joseph P. Kennedy II e o ex-chefe de gabinete de Clinton, Mack McLarty.
A rota de telecomunicações entre os Estados Unidos e o Haiti é uma das mais congestionadas do Hemisfério Ocidental e este contrato que prejudicou a competição era chamativamente lucrativo. Também despojava o governo haitiano de importantes recursos. Como estabelece a demanda judicial: "Os ingressos da TELECO eram a principal fonte das urgentemente necessitadas divisas estrangeiras do Haiti".
O resultado final aqui é que a atividade clintonista no Haiti não era o trabalho de estrangeiros profundamente comprometidos com o bem-estar de um país que sofria desde há tempo. Ao contrário, capitalizaram a possibilidade de ganhar dinheiro ao usar o poder do governo.
Agora é o momento de romper com esse hábito. Como me disse um haitiano, se o país alguma vez vai se desenvolver, necessita "depender menos de "amiguismo" e mais da transparência e dos vastos recursos da comunidade de haitianos que vivem em outros países". Isso desqualificaria Bill Clinton.
* Editora da coluna das Américas do Wall Street Journal
Fonte: http://www.elcato.org/node/4894.
Seja o primeiro a comentar
Postar um comentário