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sexta-feira, 3 de abril de 2009

A Síndrome do Caranguejo

A fase em que nossa economia mais cresceu foi exatamente a década de 70, ou seja, em plenos “anos de chumbo”, para usarmos uma expressão que as esquerdas gostam de aplicar ao Brasil, ao mesmo tempo em que propositalmente deixam de aplicar a Cuba.


Entre os anos de 1946 e 1908 o PIB real brasileiro cresceu à média anual de 5,3%, uma das mais altas dentre todos os países do mundo, conforme ilustra o gráfico abaixo:

http://www.midiasemmascara.org/images/stories/artigos/pib_taxa_crescimento.jpg

Embora os números e o gráfico revelem, entre outras coisas, que, mesmo com todos os defeitos que possuímos, somos uma economia – e um país – com muitas potencialidades, eles nos mostram também que a partir do início dos anos 80, logo após o segundo choque do petróleo e o choque da taxa de juros internacional (ambos ocorridos no final dos anos 70), perdemos o rumo do crescimento autossustentado. Embora em 1994 e nos últimos anos, já no governo Lula (mais especificamente desde 2004), tenhamos logrado nos manter perto da média histórica, isto não vai acontecer neste ano de 2009, face aos problemas mundiais que todos conhecemos e que vão reduzir inexoravelmente nosso crescimento em 2009, segundo a maioria das estimativas, para algo entre 0 e 1,5%.

O gráfico seguinte conta a mesma história, retratando a evolução do PIB entre 1946 e 2008, com a base do índice em 1946:

http://www.midiasemmascara.org/images/stories/artigos/pib_1946-2008.jpg

Já o gráfico abaixo mostra o que acontece quando comparamos o desempenho de nossa economia com o da economia mundial, a da América Latina, a da China e a Índia, entre 1964 e 2008, ou seja, durante os anos em que os militares nos governaram: vemos que naquele período, disputávamos o “campeonato mundial de crescimento” com a China e que crescíamos bem acima das economias da Índia, da América Latina e do mundo, especialmente na segunda metade dos anos 70, mesmo após o primeiro choque do petróleo:

http://www.midiasemmascara.org/images/stories/artigos/pib_regioes_comparado_1968-1990.jpg

Se, entretanto, analisarmos o período 1985/2008, veremos como fomos ficando para trás em relação às outras economias emergentes, à economia mundial e até à da própria América Latina, como demonstra o gráfico seguinte, construído com índices com base no ano de 1984:

http://www.midiasemmascara.org/images/stories/artigos/pib_regioes_comparado_1980-2010.jpg

Podemos extrair várias observações a partir desses dados simples, extraídos todos de fontes idôneas e bem conhecidas, como o IBGE, o IPEA, a FGV, o FMI e outras. Para não me alongar, vou citar apenas algumas dessas lições:

1.Desde o início dos anos 80, a economia brasileira vive a “síndrome do caranguejo”: andamos para trás em termos relativos, como se tivéssemos sido rebaixados para a segunda divisão do campeonato mundial de crescimento do PIB;
2.A fase em que nossa economia mais cresceu foi exatamente a década de 70, ou seja, em plenos “anos de chumbo”, para usarmos uma expressão que as esquerdas gostam de aplicar ao Brasil, ao mesmo tempo em que propositalmente deixam de aplicar a Cuba;
3.Depois da metade dos anos 80, a China passou a nossa frente e foi-se distanciando cada vez mais de nós, na medida em que promovia a abertura de sua economia e aderia paulatinamente a algo próximo de uma economia de mercado (mesmo sendo uma “república de chumbo” desde 1948);
4.Também a partir de meados dos anos 80, na medida em que foi modernizando a sua economia, especialmente com investimentos em educação e tecnologia, a Índia nos ultrapassou e foi aumentando a distância em relação ao Brasil;
5.Nos anos 90, passamos a crescer abaixo do PIB mundial, depois de longos anos crescendo acima de sua média;
6.Nos últimos anos, passamos a crescer a taxas semelhantes à da América Latina, uma das regiões de menor crescimento no contexto global.

O que explica essa “marcha do caranguejo”, verificada em nossa economia? Por que “caímos para a segunda divisão” e nela insistimos em permanecer, apesar de toda a propaganda – nisto eles são bons! – do governo Lula?

Primeiro, porque democracia política não significa crescimento garantido, conforme se acreditava inocentemente na época das “Diretas Já”: à medida que caminhávamos para a desejada democracia política, afastávamo-nos cada vez mais da democracia econômica, chegando a cometer o crime de cinco congelamentos de preços e de quatro moratórias externas, todos de triste memória. Liberdade política sem liberdade econômica é uma combinação que pode funcionar durante algum tempo, mas que fatalmente está condenada ao fracasso, como demonstraram magistralmente Friedrich Hayek, Milton Friedman, Douglas North e tantos outros economistas e cientistas sociais, assim como liberdade econômica sem liberdade política é um mix que incorre no mesmo problema e que, mais dia menos dia, levará a China a ter que optar ou por ambas as liberdades (se desejar continuar crescendo às altíssimas taxas que vem obtendo) ou pela supressão das duas, o que a conduzirá rapidamente de volta à pobreza.

Segundo, porque o crescimento autossustentado nada mais é do que uma ampliação contínua na capacidade de geração de oferta, ou capacidade produtiva, o que apenas é possível quando a poupança é aplicada em investimentos para a formação de capital físico, humano e tecnológico. A relação entre o investimento bruto total e o PIB, que era de 25% entre 1948 e 1980, caiu para 22% entre 1981 e 1990 e reduziu-se ainda mais, para 19%, a partir de então. Ora, sem poupança, não há investimentos e sem estes é impossível haver crescimento! Todos sabem que a poupança interna privada no Brasil é quase que inteiramente canalizada para o financiamento do déficit nominal do governo e que a poupança do governo é negativa, pois ele opera insistentemente com déficits. E, pelo noticiário recente, não pretende cortar suas despesas de custeio, que representam o grande x de nossos problemas, inclusive o das elevadíssimas taxas de juros.

Terceiro, sabemos que o crescimento depende de estímulos ao trabalho e à livre iniciativa, de capital humano (educação e saúde), de segurança, de regras estáveis e de boas instituições, tais como leis parcimoniosas e justas, garantias aos direitos individuais de propriedade, carga tributária razoável, estrutura de impostos simples, leis trabalhistas modernas e flexíveis, burocracia baixa e profissionalizada, política externa inteligente e afastada do “terceiro-mundismo” e de um Estado enxuto, embora forte em suas funções clássicas, entre outras. Infelizmente, nenhuma dessas condições prevalece no Brasil. Pior ainda, se já não existiam a partir do início dos anos 80, foram-se agravando, especialmente no atual governo.

Conclusão: PRECISAMOS REALIZAR AS REFORMAS INDICADAS NO PARÁGRAFO ANTERIOR! O resto é conversa para boi dormir. De minha parte, posso assegurar que não sou boi e nem estou com sono. E, também, que já estou cansado de ver o país perder sucessivamente as oportunidades de transformar-se naquilo que sempre desejei que viesse a ser.

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