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quarta-feira, 27 de maio de 2009

A Educação Livre da Marca da Besta

Segunda-feira, Maio 25, 2009

LIBERTATUM

Por Klauber Cristofen Pires
Inspirado no artigo “A Marca da Besta: A Educação do Futuro”, de Julio Severo.

“[A Besta] obrigou todas as pessoas, importantes e humildes, ricas e pobres, escravas e livres, a terem um sinal na mão direita ou na testa. Ninguém podia comprar ou vender, a não ser que tivesse esse sinal, isto é, o nome [da Besta] ou o número do nome [dela]”. (Apocalipse 13:16-17 BLH)

Sou um dos raros casos de pessoas que alcançam a maioridade antes dos vinte e um anos, eis que me formei, aos vinte, em curso de nível superior, como oficial da Marinha Mercante. Logo depois da minha formatura eu já comecei a trabalhar e, aos vinte e um anos, casei-me com o amor da minha vida, com quem permaneço até hoje. Este fato ressurge em minhas lembranças como uma espécie de privilégio após ter lido – e constatado – as palavras certeiras do artigo de Julio Severo, “A Marca da Besta: A Educação do Futuro”.


Com efeito, no seu texto, o articulista pró-familia evidencia o drama dos adultos jovens cristãos que, no auge da vitalidade, e tendo de estudar por anos a fio em busca da independência financeira, vivem o drama de ter de optar entre a abstinência sexual até o dia do casamento ou entregar-se antes dele.


A nossa abordagem procura dar um complemento, à luz do liberalismo econômico, a esta realidade que poucos hoje enxergam, mas que pode estar contribuindo decisivamente para a decadência de nossa sociedade. Como tenho escrito em outros artigos anteriores, a educação formal brasileira – na verdade de todo o mundo atual – acumula disciplinas as mais das vezes absolutamente inócuas para a formação de um indivíduo.


Quando eu era aluno do nível médio, eu era excelente em Química Orgânica: causava-me orgulho em declamar a fórmula da gasolina, assim como toda sorte de ligações covalentes, benzenos e fenóis. Hoje, à beira dos quarenta, constato que tudo aquilo não de serviu de absolutamente nada! Ora, se nem nas usinas petrolíferas é necessário saber a fórmula da gasolina para produzi-la, mas sim o seu processo de produção, será que os então organizadores do currículo esperavam que eu fosse produzi-la na minha garagem para a vender?


Do primeiro ano do meu curso de Direito, constatei que, de vinte disciplinas ministradas naquele período, apenas duas – isto mesmo – apenas duas (!) tinham alguma serventia. Analisando friamente, gastei um ano de minha vida a estudar assuntos que em nada me interessavam, assuntos sobre os quais inclusive mantenho discordâncias, e gastei nisso uma boa quantia em dinheiro, só porque – e só porque - era o estado quem queria que eu os estudasse.


Há quem venha defender que tais cursos sejam importantes para uma formação ampla e cidadã de um advogado, neste caso, ou de qualquer outro bacharel. Bobagem! Certo é que o domínio de conhecimentos gerais seja importante para qualquer pessoa, e que tanto pode se sair melhor profissionalmente quem os detenha. Contudo, estes conhecimentos podem ser consolidados no decorrer da vida e buscados espontaneamente em fontes especializadas; ademais, a presença de tais cursos nos currículos escolares e superiores tem muito mais a ver com reservas de mercado de trabalho, agregação de valor ao produto por parte das instituições de ensino e principalmente, ao projeto do estado, no sentido de doutrinar as pessoas a fazerem o que ele quer que elas façam, o que, segundo a pertinente interpretação bíblica de Julio Severo, significa carregarem “a marca da besta”.


As reservas de mercado dizem respeito aos profissionais que obtém vagas de trabalho por força de lei. Longe de prestarem um serviço voluntariamente contratado pela população, isto é, de oferecerem algo que as pessoas naturalmente procuram para satisfazer às suas necessidades mais urgentes, usaram do estado, por força de lobbies, para obrigar instituições de ensino a ministrar os cursos em que se formaram. Isto aconteceu recentemente com os cursos de Filosofia e Sociologia, por exemplo.


No texto de Severo, há uma referência ao fato de o mercado exigir qualificações cada vez mais complexas como condição de admissão. Embora tenha dito uma verdade, é preciso aqui fazermos uma análise criteriosa: o mercado não exige diplomas; o mercado exige competências. O problema é que é o estado quem exige, por lei, que determinadas empresas contratem determinadas profissões. Assim é que uma empresa com mais de duzentos empregados precisa contratar um nutricionista, por exemplo, ou uma empresa de administração de condomínios precisa contratar um administrador ou uma drogaria, um farmacêutico. Quando não há uma exigência explícita em lei, as competências estão insertas dentro de currículos abusivamente inchados.


Dentro de um regime hipoteticamente livre de mercado, naturalmente os melhores empregos restariam justamente aos mais capacitados. Isto é justo, na medida em que estas pessoas, ao fazerem as suas escolhas, também se submeteram a sacrifícios pessoais maiores do que a média dos seus concorrentes. Todavia, sempre haveria condições de emprego para as pessoas medianas, desde que as proibições de contratar ou a limitação ao exercício deste direito seriam inexistentes por parte do estado.


Daí concluir que o excesso de profissionais desempregados nunca foi um problema criado pelo mercado. Com o deságüe anual de dezenas de milhares de novos profissionais pelos cursos superiores mantidos pelas universidades públicas (e agora por instituições privadas subvencionadas por dinheiro público) em número divorciado e muito superior à emergência de empreendimentos econômicos, era natural que houvesse um contingente de não-empregados. Estes desempregados, logrados por falsas expectativas criadas pelo estado, provocaram a demanda política por alocações compulsórias no mercado de trabalho, e é por isto que pagamos mais caro por cada produto que adquirimos ou serviço que contratamos.


A marca da besta, aqui, também se constata de forma categórica por meio dos chamados conselhos de classe ou ordens profissionais, instituições sobre as quais também já escrevi a respeito, e que decidem quem é que pode ou não trabalhar.


O aumento do valor agregado ocorre por conta da situação de superioridade da instituição de ensino formal face ao indivíduo, já que esta detém a delegação de fornecer-lhe um diploma. Antigamente, em um mundo mais livre, uma pessoa estudava para adquirir conhecimento, para com ele oferecer um serviço mais eficiente e satisfatório aos seus semelhantes. Isto significava que esta pessoa, em geral, já se encontrava inserta em um ambiente de trabalho qualquer, e que procurava estudar objetivamente aquilo que interessava ao seu mister, sem desperdício de tempo ou de dinheiro. Atualmente, em via contrária, as pessoas não estudam para adquirir o conhecimento de que sentem necessidade, mas para tão somente obterem o direito de trabalhar! Trabalhar tornou-se não mais um direito inerente à pessoa, mas uma concessão do estado, do qual se torna refém o indivíduo, desde que ele tem de se submeter ao inchamento da grade curricular convenientemente e lucrativamente estipulada pelas instituições formais de ensino, se é que quer sair dali um dia com um diploma na mão.


Por fim, e principalmente, vem o interesse estatal, que ocupa a maior parte da grade curricular para doutrinar o estudante segundo a vontade da sua burocracia e segundo a ideologia da sua deificação e da anulação do ser humano. O aborto e a eutanásia entram bem neste esquema, desde que seja demonstrado que fetos e velhos doentes valham como engrenagens não desejadas ou já gastas, que não têm serventia à máquina. Controlar a natalidade e a mortalidade é uma necessidade para o estado, já que é ele quem controla também a produção, o emprego e o consumo e é ele também quem se encarrega de pagar a previdência e a saúde. Logo, é necessário evitar que pessoas novas nasçam em um mercado de trabalho para o qual ele não tenha criado novas vagas, bem como é preciso economizar recursos com aqueles que já não têm nada a contribuir.


Possivelmente muitas pessoas que tenham lido o que jaz acima procurem, mediante um esforço sadio e bem-intencionado de raciocínio, criticar as minhas posições. Contudo, vejam: por acaso, os maiores empresários do país necessitaram de um diploma de administradores para construírem seus impérios econômicos? E quanto aos maiores jornalistas, tiveram de obter o canudo previamente? E os maiores filósofos e inventores que a humanidade já conheceu, também passaram a vida sentados em bancos escolares?


Estas são provas concretas de que uma educação liberal é capaz de fornecer profissionais mais capazes, com uma notável economia de recursos e alocação dos profissionais no mercado de trabalho, de modo que se formem onde sejam necessários, e principalmente, que possam construir a vida privada logo no início da vida adulta.


Tente, por um minuto, cair em si para perceber o colossal desperdício que é manter improdutiva toda esta população estudantil que já poderia estar trabalhando desde os dezoito anos de idade ou até ainda mais cedo. Na melhor das hipóteses, uma pessoa se forma em um curso de nível superior aos vinte e três, e às vezes não pega o seu diploma até os vinte e sete ou vinte e oito anos. Considerado o tempo até que consiga seu primeiro emprego e o que é ainda mais difícil, consiga alguma estabilidade financeira, teremos um quadro normal de completa improdutividade que não raro beira os trinta anos de idade.


Ocorre que, nesta idade, a fertilidade das mulheres já começa a experimentar uma sensível diminuição, e isto explica em boa parte a baixa taxa de natalidade que hoje assola a Europa e até o Brasil das classes rica e média, com um sério perigo para o desaparecimento da sociedade, a começar por quem seria a elite que teria o dever de conduzir o restante da população mediante o exemplo e o empreendimento.


Em um regime de educação livre, as pessoas poderiam começar a trabalhar desde o início da adolescência, e ir assim conciliando paulatinamente a prática com a teoria, e aprofundando seu conhecimento com cursos livres. Dizer que adolescentes poderiam e mesmo deveriam trabalhar não é nada imoral, antes o contrário: grandes homens se formaram no aprendizado real que o mercado lhes apresentava. Aos seus dezoito ou vinte anos, eram pessoas responsáveis, habilidosas, seguras e confiantes, em muito diferentes dos pseudo-doutores de hoje que saem das cátedras sem saber como se aperta um parafuso, como se redige uma petição ou como se faz uma sutura.


Além disso, tais pessoas são mais imunizadas contra as teorias espúrias que o estado lhes tenta imputar, justamente porque aprenderam a ser pragmáticas e a confrontar a teoria com a prática. No ensino atual, interessa ao estado que esta conciliação não se opere, desde que este sabe o quanto são disfuncionais.


Quer o leitor uma evidência muito clara da dissociação entre o ensino formal e a função que este exerce para a sociedade? Olhe em torno das faculdades e me diga o que você vê: por acaso enxerga livrarias, sebos, ou empresas de tecnologia de ponta? Não, é claro! O que você enxerga são barzinhos, não é? Dezenas deles! E algumas máquinas reprográficas também! Este é um sintoma muito decisivo para demonstrar que as pessoas não estão com a cabeça nos estudos; não almejam os estudos como uma meta; estão ali é à espera do canudo, cumprindo as formalidades. De certa forma, elas agem de uma forma racional: fingem estudar para um sistema que finge lhes ensinar. Não raro, professores que bebiam nos bares adjacentes à minha faculdade vinham dar aula com sintomas de influência alcoólica, e voltavam aos copos após o cumprimento dos seus horários, junto com os demais alunos cabuladores. Ao fim de um curso, é mais provável que um acadêmico adquira uma cirrose do que algum conhecimento sobre a área em que pretende atuar.
Note o leitor como a educação formal faz com que tantas quantas figuras passem a decidir o que você tem de estudar, exceto o primeiro interessado, que, ora bolas, era pra ser você mesmo! Não é para menos que seus estudos formais atendam antes os interesses destas entidades do que os seus próprios.


A esta altura, alguns leitores poderão, atônitos, perguntar se defendo, por exemplo, que alguém sem o diploma de engenharia se ponha a assinar a planta de um edifício. Daqui afirmo: é isto mesmo o que digo, desde que seja mantida a condição essencial de que, em um regime de máxima liberdade, também tenha lugar a máxima responsabilidade. Em um regime de máxima liberdade e máxima responsabilidade, uma empresa há de contratar alguém que saiba construir um edifício, e não alguém que apresente um diploma que afirme ser engenheiro aquele que só aprendeu a construir “uma sociedade mais justa e solidária segundo Karl Marx” entre um copo e outro no bar ao lado da faculdade. Ela vai fazer isto porque, caso seu edifício caia, há de pagar por todo o prejuízo causado. Pois aqui pergunto: as vítimas do edifício Palace III já receberam as suas indenizações? Dos casos de negligência médica apresentados nos jornais, quantos destes profissionais tiveram o registro cassado? E quanto aos advogados que passaram trapacearam seus clientes, quantos?


Tenha-se claro aqui que não defendo a lulice como exemplo de comportamento. Defendo como ninguém que os jovens se preparem mediante o estudo sério, objetivo e comprometido. Porém, isto está muito longe de se alcançar por via do sistema de ensino formal.

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