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quinta-feira, 7 de maio de 2009

O portador das boas notícias

Mídia Sem Máscara

Não custa lembrar que as pessoas tomam decisão com base nas informações disponíveis e o Estadão está mentindo aos leitores mesmo utilizando fatos verdadeiros. Ao hierarquizar de forma enganadora as notícias acaba por produzir uma grande falsificação da realidade. Essa é a técnica de manipulação mais nojenta.

O leitor do Estadão está fadado a ser desinformado sobre a crise econômica em curso. A impressão que dá é que os editores querem porque querem melhorar as expectativas econômicas de seus leitores a qualquer custo. Há um firme propósito de fazer com que o Brasil supere a crise econômica pelo singelo método da produção de manchetes favoráveis, à revelia da realidade imediata.

A edição dessa quinta feita está especialmente otimista. A chamada principal da capa é: “Brasil tem maior saldo cambial e sete meses”. Retumbante. Se o leitor atentar para o conteúdo do texto verá o abismo entre o conteúdo da manchete e a realidade. O fato econômico mais importante não foi o superávit obtido em abril, mas o déficit acumulado no primeiro quadrimestre, de US$ 1,5 bilhão, contra superávit de US$ 15,6 bilhões obtido em igual período do ano anterior. Um mês episódico de resultado, positivo ou negativo, não forma tendência, mas o acumulado no período sim.

Há uma evidente má fé nos produtores das manchetes estadônicas, que foram alugadas pelo governo para reverter as expectativas dos leitores do jornalão paulista. Não custa lembrar que as pessoas tomam decisão com base nas informações disponíveis e o Estadão está mentindo aos leitores mesmo utilizando fatos verdadeiros. Ao hierarquizar de forma enganadora as notícias acaba por produzir uma grande falsificação da realidade. Essa é a técnica de manipulação mais nojenta.

Em destaque também na capa outra chamada, reforçando a primeira: “Futuro do Brasil parece brilhante”, frase dita pelo economista Edmond Phelps ontem em São Paulo, em palestra. Assim, pinçada fora de contexto, parece um vaticínio para a prosperidade. Não vi a palestra do Phelps, mas quer me parecer que ele disse o lugar comum que todo estrangeiro diz sobre o Brasil quando perguntado. Pelos recursos que dispõe o Brasil o prognóstico de um futuro brilhante é acaciano, uma obrigação de simpatia do estrangeiro visitante para aqueles que o receberam bem. Essa frase já foi repetida centenas de vezes por diferentes visitantes. Uma frase óbvia de um laureado com o Nobel vira no Estadão automaticamente um vate da pitonisa de Delfos, uma sentença de prosperidade.

No Caderno de Economia o mesmo reforço alentador: “Saldo cambial é o maior em 7 meses”, novamente se esquecendo que o decisivo é o saldo acumulado no quadrimestre. Parece óbvio que se as pessoas não quiserem ser manipuladas em matéria de economia não devem ler o Estadão. A mentira poreja ali por todos os lados, objetivando ajudar os governantes do dia. O jornalão está alinhado com o petismo dominante de forma incondicional.

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