Urna biométrica é recurso de estados totalitários
Sexta-feira, 15 de Maio de 2009
Apesar da Justiça Eleitoral já ter definido os municípios que utilizarão o voto biométrico nas próximas eleições, o sistema inovador ainda é assunto polêmico entre os especialistas.
Em entrevista ao site Swissinfo, o austríaco Robert Krimmer, que criou um ranking internacional do voto eletrônico, critica os projetos de urnas biométricas no Brasil e na Venezuela.
Robert Krimmer é diretor do Centro de Competência para Eleições Eletrônicas,
Veja trechos da entrevista publicada dia 30 de agosto de 2008, no site Swissinfo.
1. Após o sucesso das urnas eletrônicas, usadas desde 1996, o Brasil vai estrear a urna biométrica nas eleições municipais deste ano (2008), para identificar o eleitor através de foto e impressão digital. O que o senhor acha desse sistema?
Robert Krimmer: Mesmo que o objetivo seja impedir a fraude eleitoral por meios biométricos, essa não deve ser a medida prioritária. Isso devido a problemas de proteção dos dados, que lembram Big Brother ou o banco de dados “Maisanta” da Venezuela.
Na Venezuela há os mesmos esforços como no Brasil para introduzir a urna biométrica. Isso são recursos de Estados totalitários, que não fomentam a democracia. A alternativa é fortalecer a descentralização da administração do processo eleitoral, através de medidas educacionais, seguindo o modelo europeu.
Robert Krimmer: O problema da Venezuela não é o sistema de voto eletrônico em si, e sim o ambiente político – nessa área, o país fica em último lugar. Em termos de acesso e uso da internet está melhor. As urnas eletrônicas têm um alto nível técnico. Mas, por causa dos problemas políticos – estatização, interdição da oposição, que boicota eleições, o caso do banco de dados "Maisanta" – o país tem uma classificação ruim.
Ao contrário do que ocorre na Europa ou na América do Norte, os projetos de e-voting na América do Sul não se baseiam na idéia da democratização, isto é, de permitir o acesso do máximo de pessoas ao processo eleitoral, e sim na intenção de controlar todos as áreas desse processo.
Citado pelo especialista Robert Krimmer, o chamado banco de dados "Maisanta" contém dados de 12 milhões de eleitores venezuelanos, em que consta também a orientação política do cidadão e como ele votou no referendo sobre o destino do presidente Hugo Chávez em 2004.
Uma cópia, em forma de CD, acabou se tornando pública em 2005. Pelas informações contidas nos arquivos, a imprensa deduz que o CD só pode ter sido produzido por agentes do governo com acesso às urnas eleitorais eletrônicas. A lista de nomes é chamada de "Maisanta", em homenagem ao bisavô do presidente.
Segundo a revista Veja, as informações seriam usadas pelo governo venezuelano para perseguir os adversários: quem votou contra o presidente teria dificuldade para tirar passaporte e não conseguiria emprego público.
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