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terça-feira, 5 de maio de 2009

"Lênin é pior que Hitler", diz alto oficial do Patriarcado de Moscou

Mídia Sem Máscara

As palavras de Smirnov, porém, dada a sua posição, provavelmente terão importância muito maior. Não apenas ele é um alto oficial do Patriarcado de Moscou, mas sua proposta quase certamente reflete o pensamento, se não a opinião pública, do clero russo.

Ontem [1] fizeram 139 anos desde o nascimento de Vladimir Lênin, o fundador do estado soviético cujo corpo permanece onde esteve desde sua morte, no mausoléu da Praça Vermelha, como objeto de veneração dos seus seguidores e de ofensa em vários graus para aqueles que o veem como um inimigo da tradição nacional russa, da liberdade e da fé.

Neste ano, como em todos os outros desde a época de Gorbachev, acontece um debate público sobre se Lênin deveria ser retirado do mausoléu e enterrado, como supostamente era não apenas seu desejo, mas o de sua família. Um crescente número de russos dizem que apoiariam esta decisão, ou que ao menos não se oporiam se o governo a tomasse.

Mas uma declaração feita este ano, pelo Arcipreste Dimitry Smirnov, chefe do Departamento de Relações com as Forças Armadas e com o Serviço de Segurança do Patriarcado de Moscou, merece atenção particular, já que suas palavras provavelmente refletem o ponto de vista de muitos na liderança da Igreja e porque podem levar a um racha entre a igreja e muitos nacionalistas russos.

Perguntado pelo portal Rusk.ru, o qual tem laços fortes com o patriarcado, sobre o que deveria ser feito com os restos de Lênin, o Arcipreste Dimitry disse que "a hora de enterrar Lênin era para ter sido em abril de 1870." De fato, o representante da Igreja disse, "teria sido melhor se esse bastardo nunca tivesse nascido."

"Para mim," continuou Smirnov, "Lênin é pior que Hitler. A decisão do governo em enterrá-lo não levará a nenhuma explosão social. Quando o corpo de Stálin, que era "um deus vivo" foi retirado do mausoléu, ninguém se perturbou. Por que falariam algo de Lênin?"

Depois de argumentar que não vê razão para se preocupar com nenhuma reação popular à remoção de Lênin da Praça Vermelha, Smirnov, continuou observando que ele é "em geral, contra enterrar o corpo de Lênin. Ao invés, ele deveria ser queimado em um forno no arquipélago de Francisco José, e jogado no mar de lá, para que suas cinzas caiam sobre a Europa."

Ou o que talvez fosse uma idéia melhor, segundo o Arcipreste, enterrar o "corpo no lado escuro da Lua para que não brilhasse sobre a Terra." Mas o que quer que seja decidido, "ninguém deve enterrar este malfeitor na Santa Rússia," considerando todos os crimes que Lênin e o sistema que ele ergueu cometeram contra o povo russo e a Igreja russa.

Outros clérigos entrevistados pelo jornal foram mais cuidadosos nas discussão do assunto, reparando nos problema envolvidos e nas incertezas da situação política e social russa com o aprofundamento da crise econômica. O comentários sem restrições de Smirnov, porém, atraíram o apoio de três dos mais nacionalistas grupos ortodoxos russos.

Os grupos "União das Irmandades Ortodoxas", "Portadores Ortodoxos de Estandartes" e "Povo Russo" não apenas emitiram declarações oficiais de apoio à declaração do arcipreste, mas organizaram uma pequena manifestação em apoio de suas idéias.

Estes três grupos são pequenos, mas seus cartazes coloridos e linguagem atraíram alguma atenção da mídia. As palavras de Smirnov, porém, dada a sua posição, provavelmente terão importância muito maior. Não apenas ele é um alto oficial do Patriarcado de Moscou, mas sua proposta quase certamente reflete o pensamento, se não a opinião pública, do clero russo.

Realmente, é possível que as afirmações do arcipreste sejam mais uma forma de avaliar a maré política, por parte do Patriarca Cirilo, com o fim de determinar o quão fortemente a igreja pode pressionar o governo nessa questão. Pode até ser o caso que a posição "extremada" de Smirnov seja usada pelo patriarca para alegar-se moderado ao pedir pelo enterro de Lênin.

Mas há ainda uma outra consequência das observações do Arcipreste Dimitry que podem ter mais importância. O que ele disse certamente ofende aqueles nacionalistas russos que escolheram aliar-se com os ex e não tão ex-comunistas com o fim de realizar suas agendas. E muitos deles irão aumentar sua suspeita e desgosto pela Igreja depois disso.

Consequentemente, é até possível que Cirilo considere conveniente demitir Dimitry em nome de um compromisso político mais amplo. Porém Dimitry possui muitos amigos entre os militares, o ministério do interior e a FSB, e o poder deles pode dificultar, senão impossibilitar, qualquer ação dessa natureza.

Assim, ao mesmo tempo em que o Duma está considerando passar leis que tornem um crime igualar Hitler e Stálin durante a Segunda Guerra Mundial, um líder da Igreja ortodoxa russa está indo um passo além e insistindo não apenas que Lênin ainda é considerado pior que Hitler, mas que seus restos deveriam ser retirados da Praça Vermelha e atirados no lado escuro da Lua.

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[1] – Publicado no dia 23 de abril.

Fonte: http://www.themoscowtimes.com/article/1328/42/376536.htm

Tradução: Fábio Lins

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